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Interior

Prefeitura e Agesul não explicam se obra em avenida vai cortar 130 árvores

Várias árvores já foram cortadas em trecho da Hayel Bon Faker que está sendo ampliado; obra é feita pelo Estado e prefeitura

Helio de Freitas, de Dourados | 24/09/2019 15:27
Três árvores adultas cortadas em canteiro central da Hayel Bon Faker; ambientalista critica “modelo carrocêntrico” (Foto: Helio de Freitas)
Três árvores adultas cortadas em canteiro central da Hayel Bon Faker; ambientalista critica “modelo carrocêntrico” (Foto: Helio de Freitas)

Várias árvores adultas já foram cortadas em trechos da Avenida Hayel Bon Faker, em Dourados, a 233 km de Campo Grande. A remoção é feita por causa da obra de revitalização iniciada no dia 2 deste mês. Orçada em R$ 10,3 milhões e bancada com dinheiro do governo do Estado, a obra inclui tapa-buracos e recapeamento, drenagem e ampliação da pista com diminuição do canteiro central.

Foi justamente a redução do canteiro central que decretou a morte de várias árvores. Alguns troncos ainda permanecem no meio da avenida, a segunda mais importante de Dourados. Outros já foram arrancados para dar lugar ao concreto.

Nesta terça-feira (24), o Campo Grande News procurou a prefeitura e a Agesul (Agência Estadual de Empreendimentos) para saber o futuro de pelo menos outras 130 árvores adultas que existem no canteiro central da Hayel Bon Faker da Avenida Marcelino Pires até o Trevo da Bandeira, justamente o trecho em que a pista será ampliada.

Entretanto, não foi possível obter uma resposta clara e objetiva à pergunta se todas essas árvores serão cortadas como as que já foram, ou se serão mantidas no projeto da nova avenida.

A secretária municipal de Obras Públicas Marise Bianchi informou que a execução da revitalização é do Estado através da Agesul, mas, segundo ela, a obra tem licença ambiental. Marise confirmou a retirada de “algumas árvores” no longo da avenida, mas disse que mais detalhes só a Agesul poderia repassar.

Através da assessoria de imprensa, a Agência informou que executa a obra seguindo o projeto elaborado pela prefeitura, por isso não sabe informar quantas árvores serão cortadas. Segundo a Agesul, a contrapartida da prefeitura na obra foi a elaboração do projeto.

No Imam (Instituto Municipal de Meio Ambiente) também não foi possível saber quantas árvores serão cortadas na obra da Hayel Bon Faker. Arquiteta urbanista do órgão, Aline Sanabria, informou à reportagem que a autorização para corte de árvores no passeio e canteiros cabe à Secretaria de Serviços Urbanos. A assessoria de imprensa da prefeitura foi procurada, mas não houve mais informações sobre o caso.

“Modelo carrocêntrico” – Doutor em geografia e professor de planejamento urbano na UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), Mário Cezar Tompes da Silva criticou a obra na Hayel Bon Faker. Segundo ele, a redução dos canteiros centrais com corte de árvores para ampliar o espaço dos carros é a mais recente manifestação das intervenções “que vêm impondo modelo carrocêntrico de mobilidade” na cidade.

“A intervenção na Hayel B. Faker vem somar-se à eliminação da rede de ciclofaixas para ampliar os espaços para os carros, à supressão do calçadão da Rua Nelson de Araújo com a mesma finalidade e à crescente transformação de calçadas e canteiros centrais em estacionamentos”, escreveu ele em artigo publicado ontem no site Dourados News.

Segundo Tompes, os canteiros centrais das avenidas de Dourados desempenham função relevante na infiltração de águas pluviais e redução da enxurrada. As árvores amenizam a insolação, reduzem o calor e criam paisagismo que valoriza a cena urbana. “Mas tais argumentos aparentemente são inócuos aos ouvidos de nossos gestores municipais que seguem, inabaláveis, no propósito de impor aos douradenses o projeto carrocêntrico”.

Para o especialista, os gestores são reféns de modelo de mobilidade do século passado, “aquele que prioriza um único modal, o carro, e têm evidente dificuldade de se conectarem ao novo padrão de mobilidade do século XXI, que prioriza não apenas um, mas múltiplos modais”.

Árvores em trecho da Hayel Bon Faker perto do Trevo da Bandeira, onde obra ainda não chegou (Foto: Helio de Freitas)
Árvores em trecho da Hayel Bon Faker perto do Trevo da Bandeira, onde obra ainda não chegou (Foto: Helio de Freitas)
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