Presidente do Incra não convence e sem-terra prometem mais protestos

Pacificação rural. Este foi o termo usado pelo presidente nacional do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Leonardo Góes Silva, durante reunião com representantes de nove movimentos sem terra na tarde desta terça-feira (28), na sede do órgão, em Campo Grande. Porém, o balanço foi contrário ao esperado pelas lideranças dos movimentos sem-terra, que garantiram que irão se reunir para protestar contra a inércia do Instituto em assuntos emergenciais.
“Foi mais uma reunião política”, disse o líder da CTB (Central dos Trabalhadores do Brasil), Hélio Cardoso. Já Adônis Marcos, dirigente Nacional das Ligas Camponeses, reclama dizendo que não houve nada de concreto na reunião e que os movimentos irão conversar sobre novos protestos. “Vamos nos organizar, porque com certeza haverá fechamento de rodovias”.
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Esperando um pouco mais de atitude por parte do novo presidente do instituto e relembrando que não há assentamento de famílias há seis anos no Estado, lideranças dos movimentos alegam que haverá uma resposta a esta inércia. “Hoje o que tivemos foi uma reunião para tapar buraco, mais nada”, disse Hélio.
Há pouco mais de um mês no cargo, o presidente do Incra afirma que Mato Grosso do Sul estava na agenda de visitação por ser uma das regiões mais conflitantes do país e que esta reunião é de cunho pacífico. “Estamos analisando as reinvidicações dos movimentos, mas é preciso analisar a toda a situação antes de agir e avançar, por isso estamos ouvindo para diminuir a tensão pela terra”, explica.
Os líderes dos movimentos deixaram bem claro que não reconhece o governo atual, porém são eles que estão no poder e é preciso conversar sobre a situação da Reforma Agrária. Entre os assuntos determinados pelos movimentos a ser discutidos da reunião, está a falta das quatro mil cestas básicas entregues aos acampados, que não são realizadas desde o início deste ano.
“Este é um assunto urgente que precisa ser decidido. Há pessoas que estão debaixo da lona há dez anos e estão passando fome”, enfatizou Adônis. Porém, o presidente do Incra afirmou que o Instituto auxilia apenas na logística da entrega e que verá com a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) o que pode ser feito.
A expectativa dos movimentos pró-reforma agrária é que pelo menos dez mil famílias sejam assentadas até deste ano ano, no entanto, Góes não bateu o martelo sobre esta reivindicação. “Precisamos analisaro orçamento. Há como avançar, porém é preciso fazer uma análise".
Já sobre a situação das famílias que vivem às margens das rodovias também e que o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) afirma que o local não pode ser habitado, também foi uma das pautas discutidas. “Vai tirar essas famílias que já estão excluídas e vivendo à margem da sociedade para colocar onde? Vamos colocá-las então na casa do chefe do Dnit”, declarou o deputado federal Zeca do PT que também compareceu à reunião.
O cadastramento das famílias acampadas também foi citado pelos líderes dos movimentos. “Sabemos que há questões do governo, mas temos muita família debaixo da lona”, enfatizou o diretor estadual do MST (Movimento Sem Terra) de Mato Grosso do Sul, Jonas Carlos da Conceição. Já Adônis reforçou a necessidade na agilidade no assentamento das famílias. “Estamos no século XXI, mas os acampados vivem no século XXII”.
Para a obtenção de terra, Leonardo Góes afirmou que no ano passado havia R$ 350 milhões, mas o instituto só conseguiu R$ 159 milhões. “Este ano temos R$ 400 milhões e queremos ver se conseguimos executar todo o nosso orçamento”, reforçou o presidente do Incra.