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Interior

Servidor da Receita ajudava grupo em contrabando de até 40 mil kg/mês

Quadrilha movimentava 40 t de mercadorias por mês com ajuda de servidor

Renata Volpe Haddad | 03/12/2015 15:07
Durante coletiva de imprensa, delegados explicaram como funcionava a quadrilha. (Foto: Anderson Gallo/ Diário Corumbaense)
Durante coletiva de imprensa, delegados explicaram como funcionava a quadrilha. (Foto: Anderson Gallo/ Diário Corumbaense)

A associação criminosa desarticulada pela Polícia Federal, movimentava entre 30 e 40 toneladas de mercadorias por mês pela fronteira da Bolívia com Corumbá. Só das apreensões desta investigação, os criminosos sonegaram pelo menos R$ 800 mil, causando prejuízo aos cofres públicos, fora tudo o que passou e os investigadores não conseguiram pegar.

As informações sobre a operação foram concedidas na manhã desta quinta-feira (3) durante coletiva de imprensa concedida pela Receita Federal, Polícia Federal e Ministério Público Federal na sede da PF em Corumbá, distante 419 km de Campo Grande.

De acordo com informações do site Diário Corumbaense, o procurador da República, Yuri Corrêa da Luz, em entrevista coletiva explicou que a operação deflagrada é o desdobramento de uma investigação que ainda não terminou. “As buscas e apreensões autorizadas pela Justiça Federal, foram efetivadas pela Polícia Federal em conjunto com a Receita Federal vão produzir outras provas. Materiais recolhidos nas casas podem ser objetos de novas investigações, inclusive investigações de ordem patrimonial, por exemplo, se encontrar determinados valores escondidos nessas casas. A operação é o fim de uma etapa, não de toda a investigação”, frisou.

A equipe de investigação explicou que cada envolvido na quadrilha tinha funções específicas dentro da organização criminosa. Havia olheiro, que verificava a fiscalização da Receita, o atravessador que enviava a mercadoria, sendo de carro, a pé ou de caminhão e tinham os compradores, gerentes locais que organizavam compra e completavam o caminhão que seguia depois para São Paulo.

Sobre a sonegação de imposto, o auditor fiscal da Receita Federal, Thiago Lessa Mendes, alegou que a fronteira Corumbá-Bolívia é muito porosa, dificultando o controle efetivo. "Bolívia e Brasil se comunicam a três passos em estradas vicinais, então é muito difícil. Existem estudos que afirmam que o que se realmente pega dessas mercadorias descaminhadas seria cerca de 10%, então, pode-se imaginar o prejuízo que isso leva para o Governo”, afirmou.

Ainda conforme o site, o auditor fiscal explicou que antes dessa operação foi realizada investigação preliminar pela Inspetoria da Receita Federal. Há dois anos, já haviam sido levantados alguns nomes suspeitos, inclusive de um servidor da Receita Federal que estaria facilitando o crime. Foi feito trabalhado de investigação pela Receita Federal que foi ampliado pela Polícia Federal, culminando na deflagração da Operação Trapos.

O delegado da Polícia Federal Ricardo Rodrigues Gonçalves e coordenador da investigação, explicou que os compradores dessas mercadorias formaram uma espécie de consórcio.“Eles importavam as mercadorias clandestinamente, da Bolívia para o Brasil, pela região de Corumbá e depositavam as mercadorias em um imóvel e depois eram transportadas até o Estado de São Paulo”, esclareceu.

Em Birigui existia um grupo dessa associação criminosa. As mercadorias seriam revendidas em feiras no interior de São Paulo e na própria Capital, mas há também investigados em Campo Grande e Dourados que internalizaram mercadorias da Bolívia para o Brasil. Em São Paulo, até a manhã desta quinta-feira (3), foram apreendidos entre 600 a 700 quilos de mercadorias.

Analista tributário, o servidor da Receita Federal de camisa listrada que não teve o nome divulgado, trabalhava há anos no Posto Esdras e recebia dinheiro para liberar as mercadorias. (Foto: Anderson Gallo/ Diário Corumbaense)
Analista tributário, o servidor da Receita Federal de camisa listrada que não teve o nome divulgado, trabalhava há anos no Posto Esdras e recebia dinheiro para liberar as mercadorias. (Foto: Anderson Gallo/ Diário Corumbaense)

Participação do servidor da Receita Federal - Ainda conforme informações do Diário Corumbaense, o servidor da Receita Federal, analista tributário que trabalhava há muitos anos no Posto Esdras, facilitava a entrada de mercadorias no Brasil. O nome dele não foi revelado.

Ele estaria recebendo dinheiro para facilitar a liberação de mercadorias. Segundo informações da coletiva, não houve pedido de bloqueio de bens do servidor, mas os investigadores afirmaram que isso pode acontecer. Também não houve apreensão de dinheiro na casa dele.

O Ministério Público Federal em conjunto com a Polícia Federal, conseguiu ordem judicial para prender e afastar o servidor de suas funções, e nesse período, ele não receberá salário.

Todas as medidas disciplinares contra o analista tributário investigado serão feitas no final da apuração policial. Assim, com a conclusão do inquérito policial podem ocorrer sanções administrativas e civis. O servidor está afastado das atividades por tempo indeterminado e sua prisão preventiva também é por tempo indeterminado.

Segundo o Diário Corumbaense, o delegado regional de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal no Mato Grosso do Sul, Cleo Mazzotti, afirmou que essa operação foi tratada como prioridade pela superintendência federal e desde o primeiro momento, a operação era conjunta entre a Receita Federal e a Polícia Federal, em parceira com o MPF.

“Isso jamais poderia macular de alguma forma a Receita Federal porque essa operação mostra que as instituições são maiores que os servidores. Todas as instituições podem ter servidores que desviem do caminho e a função é depurar esse tipo de servidor e tirar dos seus quadros. Muito ao contrário de ser algo que possa macular a imagem da Receita Federal em Corumbá, na verdade enaltece, porque demonstra que as instituições de unem e são maiores que qualquer servidor que esteja eventualmente praticando ilícitos”, avaliou o delegado.

A quadrilha era especializada na importação de forma clandestina, de mercadorias da Bolívia, destinadas à comercialização em outras cidades dos Estados de Mato Grosso do Sul e de São Paulo.(Foto: Divulgação/ PF)
A quadrilha era especializada na importação de forma clandestina, de mercadorias da Bolívia, destinadas à comercialização em outras cidades dos Estados de Mato Grosso do Sul e de São Paulo.(Foto: Divulgação/ PF)

Prisões - Nesta quinta-feira (3), houve o cumprimento de sete mandados de prisão preventiva e há ainda cinco mandados a serem cumpridos.

Só em Corumbá foram cinco prisões, mas a Polícia Federal aguarda ainda a expulsão de um brasileiro que está com a polícia boliviana. Em São Paulo, foram cumpridos apenas dois mandados de prisão, um em Birigui e outro em Penápolis. Quatro pessoas não foram encontradas no Brasil.

Além das prisões preventivas, foram expedidos 15 mandados de condução coercitivas, dos quais 12 foram cumpridos, e três deles se encontram em local desconhecido.

Os 21 mandados de busca e apreensão foram todos cumpridos. Nesta quinta-feira, nos dois Estados, houve apreensão de armas, munições, mercadorias e documentos. Ainda de acordo com as investigações, foi constatado que um dos investigados que traziam mercadoria para o Brasil, sediado em Corumbá, introduziu de forma clandestina, 700 pássaros de origem peruana.

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