ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, QUARTA  24    CAMPO GRANDE 29º

Interior

Usando nome de economista famoso, empresa quer pagar usina em 20 anos

Pedra Angular Açúcar e Álcool foi fundada há dois meses, declarou patrimônio de R$ 100 mil e tem sede em edifício na Capital

Helio de Freitas, de Dourados | 27/02/2018 10:30
Sede da Pedra Angular, que tem advogado de MS e empresário de SP como sócios, fica em prédio na Afonso Pena (Foto: Saul Schramm)
Sede da Pedra Angular, que tem advogado de MS e empresário de SP como sócios, fica em prédio na Afonso Pena (Foto: Saul Schramm)

A Pedra Angular Açúcar e Álcool Participações e Administração, única empresa interessada em comprar a Usina São Fernando, iniciou atividades no dia 8 de dezembro de 2017 e tem como sede a sala 26 no edifício Empire Center, localizado na Avenida Afonso Pena, no Centro de Campo Grande.

Indústria que pertenceu à família do pecuarista José Carlos Bumlai e teve falência decretada em junho do ano passado, a usina fica em Dourados, a 233 km de Campo Grande, onde tem pelo menos mil funcionários e nos últimos sete meses injetou R$ 50 milhões na economia local.

Sócios - Conforme o contrato social da Pedra Angular, ao qual o Campo Grande News teve acesso, são sócios o empresário Rodrigo Caldas de Toledo Aguiar, morador em São Paulo (SP), e o advogado sul-mato-grossense Sérgio Adilson de Cicco, morador na Vila Carlota, em Campo Grande (MS). A empresa foi constituída em 23 de setembro de 2017, mas iniciou atividade no dia 8 de dezembro.

Sérgio de Cicco foi secretário interino de Assistência Social de Campo Grande durante a gestão de Gilmar Olarte. Ele também atuou como advogado da Câmara de Dourados na década de 90.

Chama a atenção o fato de os representantes da empresa citarem como “cotistas” o economista Winston Fritsch e Paulo Vasconcelos, com atuação no mercado financeiro e fundador da Energias Renováveis do Brasil. Fritsch foi um dos criadores do Plano Real, na década de 90.

Entretanto, Fritsch e Vasconcelos não aparecem no contrato social como sócios da Pedra Angular, mas são citados na proposta de compra entregue à 5ª Vara Cível de Dourados.

Proposta vil – No dia 22 deste mês, a Pedra Angular entregou à 5ª Vara Cível a sua proposta para comprar a usina e pagar R$ 825 milhões em 20 anos, com correção de 1% ao ano a partir da sexta parcela. Entretanto, fontes ligadas ao processo ouvidas pelo Campo Grande News revelam que na prática a proposta é considerada “vil” pela lei, já que se for trazido para hoje o valor seria de R$ 250 milhões.

A reportagem apurou que por lei o valor mínimo não pode ser inferior a 50% da avaliação do bem. Como o ativo foi avaliado em R$ 716 milhões, a proposta em valor atual deveria ser de R$ 356 milhões.

“A empresa propõe pagar R$ 825 milhões em 20 anos com 1% de correção anual. Só que se descontar a inflação do período, esse valor atual seria de R$ 250 milhões”, explicou um especialista consultado pela reportagem.

Usina São Fernando é gerenciada por administrador judicial desde junho do ano passado (Foto: Arquivo)
Usina São Fernando é gerenciada por administrador judicial desde junho do ano passado (Foto: Arquivo)

Credores preocupados – A proposta apresentada pela Pedra Angular deixou credores da São Fernando preocupados. Como só teve uma proposta, a decisão final caberá ao juiz Jonas Hass Silva Júnior, responsável pelo processo, não sendo necessário submeter à avaliação dos credores.

Entretanto, o magistrado mandou os credores se manifestarem sobre a proposta da Pedra Angular e a expectativa é que a maioria rejeite a oferta. A assembleia convocada pelo juiz está marcada para esta quinta-feira, dia 1º de março.

“Essa proposta está muito estranha. Os donos não têm nada, a empresa não tem nada, não tem nenhuma garantia, querem parcelar os dez milhões de reais da entrada que devem ser pagos à vista e ainda ficam usando nomes de supostos quotistas como cortina de fumaça”, afirmou uma fonte ligada ao processo que pediu para não ter o nome divulgado.

Segunda tentativa – Essa é a segunda vez que a Pedra Angular tenta comprar a São Fernando. Em outubro do ano passado, o empresário Rodrigo Aguiar revelou ao jornal Valor Econômico que a Pedra Angular – que oficialmente ainda não tinha iniciado atividade – havia oferecido R$ 890 milhões pelo ativo da usina.

Entretanto, o BNDES, maior credor da São Fernando, foi contra a forma como a Pedra Angular queria comprar a usina. Também ao Valor Econômico, o banco afirmou, em dezembro, que a proposta contrariava a Lei de Falências, pois a alienação do ativo deveria ser aprovada por dois terços dos credores.

Além disso, segundo o BNDES, o grupo de investidores “ofereceu valor irrisório pelo ativo, num prazo de pagamento em 20 anos e sem qualquer tipo de correção”. Para o banco, o leilão aberto é “a melhor forma de dar transparência à alienação do ativo e a maneira mais eficaz de se apurar o que de melhor o mercado pode oferecer”.

Na proposta entregue no dia 22 deste mês à Justiça estadual em Dourados, a Pedra Angular apresenta como garantia os próprios ativos da indústria.

“A Pedra Angular entende que os bens adquiridos em caução corresponde (sic) à melhor forma de viabilizar o investimento, assegurando o melhor interesse dos credores – mesmo porque o início dos investimentos incrementará o valor dos ativos”, diz trecho da proposta entregue à Justiça.

Escritório fechado – O Campo Grande News procurou a sede da Pedra Angular, no edifício Empire Center, mas o escritório estava fechado. A recepcionista informou que um advogado trabalha no local, mas ele não vai ao escritório todos os dias.

A reportagem mandou mensagem para o e-mail de Sérgio Adilson de Cicco informado no CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica), mas não obteve resposta. O economista Winston Fritsch, que mora no Rio de Janeiro, também foi procurado, mas não retornou ao recado deixado com o atendente de seu escritório.

Nos siga no Google Notícias