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Cidades

Rotas em construção: Haitianos se organizam em busca de dias melhores

Eles são 2 mil em Três Lagoas; criam associação e produzem arte para garantir direitos

Osvaldo Júnior | 11/10/2017 11:40
Makov Beneche, haitiano que faz da música instrumento para falar dos dramas do seu povo (Foto: André Bittar)
Makov Beneche, haitiano que faz da música instrumento para falar dos dramas do seu povo (Foto: André Bittar)
Rotas em construção: Haitianos se organizam em busca de dias melhores

Dia 12 de janeiro de 2010, 16h53. Um terremoto de 7,2 graus na escala Richter, com epicentro na capital Porto Príncipe, abala parte do Haiti, na Ilha de São Domingos, banhada pelo mar do Caribe, na América Central.

A catástrofe intensificou problemas diversos do país, como os relativos às desigualdades socioeconômicas. Números do Banco Mundial mostram que a renda per capita do Haiti era de US$ 766,84 em 2012 (último dado), o menor valor entre os países das Américas.

O abismo entre ricos e pobres agrava esse quadro: ainda conforme o Banco Mundial, em 2012, a parcela dos 10% com as maiores rendas tinha 48,21% da riqueza e os 10% mais pobres dividiam 0,55% do rendimento total.

Rotas em construção: Haitianos se organizam em busca de dias melhores

Reconstrução – A soma desses fatores impulsionou a diáspora haitiana. Um povo, no entanto, não está restrito a delimitações geográficas, podendo construir e reconstruir suas vidas em qualquer parte do mundo.

É o que ocorre com os haitianos no Brasil: distantes de casa, reconstroem em território brasileiro suas novas casas. Fazem da arte e da política importantes canais para contar suas histórias, discutir preconceitos e denunciar violações de direitos.

Esse protagonismo se evidencia, entre outros locais, em Três Lagoas, município sul-mato-grossense que atraiu grande quantidade de haitianos, devido à expansão industrial. Conforme estimativa da prefeitura local, há cerca de 2 mil haitianos vivendo na cidade.

Para a realidade populacional de Mato Grosso do Sul, esse número é significativo. Corresponde a aproximadamente dois terços da população de Figueirão, município menos populoso do Estado, com 3.027 pessoas, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Entre as iniciativas de organização e mobilização dos haitianos em Três Lagoas, está a criação de uma associação, produção de um filme, além de outras formas de manifestação, como música. Tudo isso faz parte da luta para construir dias melhores, não mais feitos de desvalorização no mercado de trabalho, de dores da distância da família e de discriminação.

A música “A rota”, de Makov Beneche, arte às margens da indústria fonográfica, está entre os esforços dos haitianos de serem ouvidos. A música, cantada à capela por Makov, fala de angústias, de continuar sobrevivendo dia após dia, de tempo que passa para acabar no nada, da distância de casa, mas também enfatiza a luta para buscar recurso para a família, de ao menos tentar, porque, caso contrário, nada mudará.

Versos da canção de Makov norteiam esta reportagem. Abaixo, estão a letra (as dificuldades relativas à Língua Portuguesa são insignificantes diante da mensagem) e vídeo da música.

A Rota 

(Makov Beneche)

Mais um dia vai, por onde eu sobreviver
Outra noite de angústias vai aparecer
Estamos tão longe de casa
Sentiremos que o tempo pra nós vai acabar no meio do nada
Clandestinos entrando no Brasil
Buscando um futuro melhor pra nossa vida
É melhor morrer do que voltar sem nada, nada
Seguindo nosso destino sem importar o perfil
Buscando um recurso maior pela família
É melhor tentar do que não fazer nada
Se não nada mudará

"Outra noite de angústias vai aparecer e o tempo vai acabar no meio do nada"

Haitianos se reuniram para atender a reportagem (Foto: André Bittar)
Haitianos se reuniram para atender a reportagem (Foto: André Bittar)

Entre a capacidade profissional dos haitianos e o mercado de trabalho brasileiro, há um muro de preconceitos. Esse foi um dos problemas discutidos em entrevista de grupo, realizada na tarde do dia 17 do mês passado, um domingo, em uma sala da Missão Salesiana, em Três Lagoas. (Continue lendo)

“Estamos tão longe de casa, buscando recurso maior pela família”

Edouard Casseus, em seu programa de rádio (Foto: Divulgação)
Edouard Casseus, em seu programa de rádio (Foto: Divulgação)

Não se trata apenas do drama de um povo, de uma nação. Trata-se do drama de famílias. Deixar o Haiti custa caro: é um investimento que poderia ser feito apenas por um membro da família, o mais preparado para o mercado de trabalho, em geral, jovem e homem. Com isso, crescem no Haiti crianças com pais distantes. (Continue lendo)

“É melhor tentar do que não fazer nada... Se não, nada mudará”

Jovem haitiano em oficina de audiovisual (Foto: Divulgação)
Jovem haitiano em oficina de audiovisual (Foto: Divulgação)

A palavra “rota” carrega a força semântica exigida pelas histórias dos haitianos. Significa caminho, rumo, mas também tem sentido de luta. E nessa rota, os haitianos se organizam para divulgar sua cultura, reduzir preconceitos e amenizar os problemas enfrentados no dia a dia. Para isso, estão criando uma associação, produzindo um filme e outros tipos de arte. (Continue lendo)

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