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Em Pauta

"Bebendo este sangue eu te faço fascista"

Mário Sérgio Lorenzetto | 29/07/2018 09:02
"Bebendo este sangue eu te faço fascista"

Poucos movimentos foram mais excêntricos que os fascismos do século XX. Pessoas vestindo-se todas iguais. Em alguns países a população inteira vestia-se de preto. Em outros, usavam a cor parda, a azul ou a verde (caso dos fascistas brasileiros). Representando símbolos como suásticas, flechas, cruzes, nas roupas e monumentos. Em todas as partes. E unido a tudo isso, ainda havia as cerimônias de admissão que eram ritos de passagem. Mas poucas alcançaram a da "Guarda de Ferro" da Romênia. Seus acólitos tinham de beber o sangue da veia de seus companheiros. Talvez porque Codreanu, um de seus principais líderes, havia nascido na Transilvânia, não muito distante da cidade de origem de Vlad Stepes, herói nacional da Romênia para os antigos e atuais ultra-direitistas, e vampiro inspirador de Drácula para o resto do mundo.

Hoje, qualquer pessoa têm claro o que é o fascismo: um insulto. Antes disso, foi uma ideologia baseada em mitos. Defendia a pureza genética - era profundamente racista - o nacionalismo exacerbado e tachada de populista até os dias atuais.

A todas essas premissas, que a Guarda de Ferro cumpria, seu fundador Corneliu Zeleia Codreanu acrescentou um misticismo ultra-religioso baseado em superstições. Começando por sua mais firme crença - a de que os espíritos dos mortos caminhavam entre os vivos. Em seu "Manual do Chefe", o livro de cabeceira dos fascistas, explicava que as guerras eram vencidas pelos líderes que detinham o poder de atrair as forças misteriosas do mundo invisível. Se o fascista, dizia o manual, soubesse conjurar essas forças "lançaria o pânico e o terror entre os inimigos, paralisaria suas atividades".

"Bebendo este sangue eu te faço fascista"
"Bebendo este sangue eu te faço fascista"

Bebendo o sangue.

Essas propostas não foram muito atrativas para os romenos. A "Legião de Miguel Arcanjo", nome do partido fascista romeno, conseguiu poucos adeptos e quase nenhuma influência política. Com a ascensão de Mussolini e, depois, de Hitler, acreditaram que receberiam um empurrão. Ainda assim, só arrebanharam 3% dos votos na eleições gerais. Codreanu passou a entender que seus votos e influência poderiam ser melhor aceitos entre os fazendeiros - as cidades não aceitavam suas ideias.

Começou a realizar cerimônias com tintas vampirescas. Depois de uma missa, os novos afiliados deviam beber o sangue dos cortes feitos nos braços dos adeptos mais antigos. Na continuação, cortando-se a si mesmos, passavam a assinar seus votos de disciplina, silêncio, trabalho, ajuda mútua e sentido de honra, usando seu próprio sangue como tinta. Não se cansavam de tanto sangue. A seguir, os veteranos aproveitavam os cortes que haviam feito em seus braços para verter seu fluido vital em um cálice...até enchê-lo. Depois brindavam coletivamente, dando pequenos sorvos nesse cálice. Para eles, era um símbolo de unidade na vida e na morte.

Como não evoluíam politicamente, os fascistas romenos acabaram convertendo-se em grupamentos terroristas. Matavam a todos que os contestassem. Quando assassinaram o primeiro-ministro liberal, recém eleito, doze de seus líderes foram presos para, em seguida, serem fuzilados. Seus corpos foram dissolvidos em ácido, e os restos enterrados sob uma grossa capa de concreto.

"Bebendo este sangue eu te faço fascista"
"Bebendo este sangue eu te faço fascista"

A arte de matar. Os melhores assassinatos literários.

Cruéis, sangrentos, desapiedados, perpetrados por assassinos em série... Os crimes são matéria literária. O medo e a fascinação que provoca o fato de que os seres humanos se matem entre si, serviu de inspiração a uma multidão de escritores e o gênero "noir" se consolidou como um dos favoritos dos leitores.

Imagine um psicopata que assassina um homem e seu cachorro, pica seus corpos. Há duas cabeças, o resto está espalhado pela casa. Os inspetores vomitam. Essa cena apocalíptica está em

"O mapa e o território", de Michel Houellebecq. É difícil sair inteiro dessa leitura. O mesmo se dá com "Killer on the road" ("El asesino de la carretera", em espanhol), de James Ellroy e ainda com "Interestatal", em espanhol, de Stephen Dixon.

Um inspetor é encarregado de investigar o caso do assassinato de cinco prostitutas, um crime que parece ser um ritual que é o fio argumental de "Birdman", de Mo Hayder. O comissário Verhoeven, criação do escritor Pierre Lemaitre persegue um assassino em série em "Irene", livro de final com calafrios. Patrick Bateman é um dos criminosos mais célebres da literatura. Um tipo capaz de torturar, estuprar e assassinar nas páginas de Psicopata Americano, criação de Bret Easton Ellis.

Em "O Poeta", Michael Connelly conta a investigação de um jornalista depois do aparente suicídio de seu irmão.

Jo Nesbo, com "O Leopardo", têm lugar de honra nessa estante criminal. E também, claro, dois melhores e mais populares clássicos, o primeiro bem antigo "Crime e Castigo", de Dostoievski e a série "Millenium", de Stieg Larsson.

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