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Em Pauta

1.400.000 hectares, a ascensão da maior fazenda do MS

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 02/12/2025 06:42
1.400.000 hectares, a ascensão da maior fazenda do MS

Tomaz Laranjeira, um comerciante gaúcho, que havia prestado serviços como fornecedor da comissão encarregada de trancar os limites entre o Brasil e o Paraguai, além do título de comendador, obteve de Pedro II uma concessão para explorar os ervais do Mato Grosso do Sul. A área era gigantesca, 1.400.000 hectares, doados ao pequeno comerciante. Como isso aconteceu? Propina? Mera amizade? Capacidade de enganar autoridades? Ninguém explica. Mistério. O fato é que o sonho atual dos lideres extremistas da causa indígena guarani - assenhorar-se de todos as terras fronteiriças - foi realizado pelo Laranjeira. A área abrangia Ponta Porã, Dourados, Amambai, Caarapó, Porto Murtinho, Iguatemi, Itaporã, Fátima do Sul (então denominada Vila Brasil) e outros. Era e é um escárnio.


1.400.000 hectares, a ascensão da maior fazenda do MS

Livre para matar.

O primitivo contrato de concessão tinha o prazo de trinta anos e dava ao concessionário, não somente a exclusividade na exploração extrativa da erva-mate, mas também o direito de ocupação como bem entendesse. Na prática, significava que estava livre para tomar qualquer atitude, inclusive prender ou matar quem se metesse a ocupar essas colossais terras ou colher a erva. Também dizia que outros dez anos poderiam ser concedidos além dos trinta. Era um Estado dentro de outro Estado. Seus lucros correspondiam a quatro vezes todo o dinheiro arrecadado pelos impostos.


1.400.000 hectares, a ascensão da maior fazenda do MS

Caiuás e Teís.

Naqueles tempos, não havia moradores na fronteira e só transitavam, por lá, índios errantes das tribos Caiuás e Teís, todos vindos do Paraguai. O centro de recebimento da produção ficava em Concepción, no Paraguai, assim como todos os administradores eram dessa nação ou argentinos. Não havia brasileiros no comando e nem trabalhando.


1.400.000 hectares, a ascensão da maior fazenda do MS

A distribuição de terras.

A lei do 38 imperava. A Matte Laranjeira, nome dado a essa empresa descomunal, matou muita gente, especialmente gaúchos. Gente pobre, fugindo da guerra do RS,  que tentava montar uma fazendola nessa região. Tomaz Laranjeira, pessoalmente, distribuía as terras para quem chegava de outros Estados e o conquistasse sua simpatia. Todas para a criação de gado ou de cavalos, tarefas que a Matte não desejava realizar. Foi assim que algumas famílias sem recurso algum, vindas de outros rincões, conseguiram terras na fronteira. Seus descendentes ainda estão por lá, são os Almeidas, Azambujas, Guimarães, Limas, Pedrozos e Trindades.


1.400.000 hectares, a ascensão da maior fazenda do MS

Guerra sim, guerra não.

Todos estavam sob o amparo do Laranjeira. Assim, o mega fazendeiro obtinha o monopólio dos ervais e tinha as terras próximas entregues a pessoas que não lhe moveriam guerra. Após muitos enfrentamentos, a guerra se aproximava. Um dia chegou. Dezenas, talvez centenas de brasileiros foram mortos pela policia e tropas da Matte Laranjeira. Mas essa é outra história.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.