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Em Pauta

Frankenstein, um jovem de 200 anos

Mário Sérgio Lorenzetto | 01/01/2018 10:32
Frankenstein, um jovem de 200 anos

Era o inverno mais frio do século XIX. No dia 1 de janeiro de 1818, nascia Frankenstein. O livro de uma jovenzinha, chamada Mary Shelley, deslumbraria o mundo, viraria um ícone. Inspiraria milhares de obras no cinema, no teatro e nas revistas. O livro nasceu de algo mais que o mero desafio de Lord Byron junto a uma chaminé com vistas para um lago. Prenunciava o fulgor de um novo mundo e as cinzas do velho. A indústria estava excitada pelo aperfeiçoamento da máquina a vapor de James Watt. A política mundial estava sob o impacto de algo bem semelhante ao que acontece no Brasil: todos os políticos estavam sendo decapitados, mas no sentido verdadeiro, passando seus pescoços pela guilhotina de Robespierre. Que também terminaria guilhotinado. As ideias e as ciências também estavam em combustão. Lavoisier estava criando a química moderna. Expedições partiam para os polos para melhor entender o magnetismo terrestre. Além de tudo que ocorria em seu redor, dentro da casa de Mary Shelley, a agitação era febril. Seu pai, o escritor e radical político William Godwin, defendia abertamente a abolição da propriedade privada, bem como o extermínio de toda forma de governo. Godwin é considerado por muitos o primeiro anarquista.
O entorno doméstico de Mary fora forjado contra as convenções. Godwin vivia com sua segunda esposa e com cinco filhos de diferentes origens biológicas, uma família e muitas mães. Mary cresce sob essas influências e também sob os auspícios de sua mãe Mary Wollstonecraft que a ensinou a ser uma mulher com autonomia e a não aceitar a submissão de um marido. Ela falecerá quando Mary Shelley era bebê e sob essa tumba, a jovem Mary Shelley não só fazia suas frequentes leituras como da experiência de orfã levaria ao livro uma criatura que esparrama dor e morte por não ter quem a queira. Sua mãe era famosa por um livro em defesa da Revolução Francesa e por outro que defende os direitos das mulheres. Acreditava que todas as meninas tinham direito à educação, uma ideia radicalíssima para a época. "Reivindicação dos Direitos da Mulher", o livro de Mary Wollstonecraft, junto com "Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã", escrito por Olympe de Gouges (decapitada em Paris), são considerados os dois primeiros tratados feministas. O mundo em volta de Mary Shelley era trangressor, revolucionário. Seu pai a levava para tomar chá com os mais famosos cientistas da época. Assistia a conferências sobre a eletricidade, almoçava com o mais importante divulgador do vegetarianismo - John Frank Newton e jantava com o poeta Samuel Coleridge. Todo esse magma intelectual e criativo está em Frankenstein. Há alusões aos poemas de Coleridge, o gigante criado por ela mata, mas é vegetariano. Também cita o pensamento de Darwin. "Na opinião do Dr.Darwin, e de alguns fisiólogos da Alemanha, os acontecimentos em que se baseiam a presente ficção não são inteiramente impossíveis". O Darwin que Mary Shelley alude é o médico naturalista Erasmus Darwin, defensor de uma teoria sobre a origem da vida e avô do autor de "Origem das Espécies".
"Frankenstein ou o Moderno Prometeu" teve apenas 500 exemplares na primeira edição. Um desses exemplares que sobreviveu até os dias atuais acaba de ser leiloado por 477 mil euros. Seus leitores encontrarão ficção científica nascente, terror gótico e o dilema ético sobre os limites da ciência. Frankenstein é um jovenzinho de 200 anos. Atualíssimo.

Frankenstein, um jovem de 200 anos
Frankenstein, um jovem de 200 anos

O último esturro da onça. O habitat reduzido.

Símbolo místico para alguns povos da América do Sul, predadora extraordinária na natureza, a onça enfrenta a redução de seu habitat a cada dia. São apenas 100 mil onças-pintadas. A "Pantera onca" ocupa o topo da cadeia alimentar dos carnívoros nas Américas. Majestosas e ferozes, as onças são furtivas como nenhum outro animal, movendo-se à vontade nos rios, no chão e na copa das árvores, os olhos luzindo nas trevas com as células de sua retina adaptadas à visão noturna. Entre os felinos de grande porte, as onças são as que têm, em proporção ao tamanho, a mordida mais poderosa. E uma exceção a seus parentes felinos, mordem o crânio, e não a garganta, das presas, às vezes perfurando o cérebro e causando morte instantânea. Seu rugido gutural - denominado "esturro" - sugere a imensa força vital.
No entanto, ao longo de milhares de anos, as onças levaram uma vida dupla. Eram veneradas como divindades por incas, maias, astecas e olmecas, mas caçadas por muitos povos. Ocupavam um imenso território que ia da Argentina ao sudoeste dos Estados Unidos. Esse espaço foi reduzido à metade e elas foram gradativamente empurradas para espaços menos adequados Conforme as zonas urbanas se expandem e as fazendas se enchem de gente, aumentam os confrontos entre o humano e a onça. Sem suas presas costumeiras, elas atacam o gado e acabam sendo abatidas. Algumas tribos amazônicas bebiam o sangue desses felinos, devoravam o seu coração e vestiam a sua pele. Muitos povos acreditavam que uma pessoa poderia virar onça e o inverso: uma onça virava um ser humano. Se o mito da conversão da onça se esvaiu com o passar dos séculos, outro surgiu em seu lugar. Seus dentes e ossos passaram a ser usados como adornos e ingredientes de remédios. Ficaram ainda mais vulneráveis.

 

MAPA: NATIONAL GEOGRAPHIC

Frankenstein, um jovem de 200 anos
Frankenstein, um jovem de 200 anos

Da Bolívia à China, a onça virou remédio.

O Madidi é um grande parque natural na Bolívia. Pouco menor que o Estado do Sergipe, abriga uma população de onças-pintadas, o felino malhado que aos poucos, foi perdendo seus habitats na mata em função do avanço de pastagens e plantações. São alvos frequentes de disparos por pessoas, ainda que muito raramente ataquem as pessoas. Agora, as onças se defrontam com uma nova ameaça: a caça para chineses.
Em nenhum outro local essa ameaça é mais evidente que em Madidi. Os funcionários dos Correios bolivianos já confiscaram centenas de dentes de onça-pintada que estavam sendo contrabandeados para a China. Chineses estão sendo processados por acusações associadas ao tráfico, mas seus julgamentos vem sendo adiados repetidas vezes. Parece que a prioridade, hoje, é manter o bom relacionamento entre a China e a Bolívia devido aos altíssimos investimentos que estão sendo feitos. Nas pequenas cidades bolivianas, é comum ouvir nas rádios locais a voz de homens com sotaque chinês se oferecendo para comprar partes de onças-pintadas. Na China, os dentes de onça estão sendo usados no lugar dos dentes de tigre, tanto em colares exibidos como símbolo de status como sob a forma de amuletos protetores do mau-olhado ou remédio para curar tudo.

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