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Em Pauta

Nos primeiros bares as mulheres ficavam na porta

Mário Sérgio Lorenzetto | 20/08/2018 09:54
Nos primeiros bares as mulheres ficavam na porta

No fim do quarto milênio antes de Cristo, na região do Iraque atual, que já foi chamada de Mesopotâmia e também de Suméria, porque a língua local era o sumério, inventaram a civilização. Ou melhor, inventaram a escrita, esse deus civilizatório.

Pasmem, a cerveja foi a primeira coisa a respeito da qual se escreveu. Esqueçam daquela mentira que aprenderam na escola que os sumérios começaram a escrever sobre bois, foi sobre cerveja. A escrita muito primitiva era, na verdade, um registro de dívidas. Mas, como não havia moedas, as pessoas pagavam uma às outras com cevada, ouro ou cerveja. Originalmente, por volta de 3.200 a.C., desenhava-se uma canequinha de cerveja cônica. Isso foi logo estilizado em algo que fosse mais fácil de entalhar na argila, o símbolo da cerveja se tornou algumas linhas riscadas na superfície da argila. Aquilo podia ser usado para se referir à cerveja em si ou ao som da palavra para cerveja, que era "kash", e depois,de tão importante, se tornou uma letra.

Desse modo, os mesopotâmios puderam começar a escrever mais do que os iniciais registros de dívidas. Agora, podiam escrever sobre o que consideravam mais importante: deuses e cerveja.

Eles também escreviam sobre "Ninkasi", a deusa da cerveja. Ela passava o tempo todo fazendo cerveja. Há um hino em louvor a Ninkasi que explica como ela mexia a massa da cerveja com uma grande pá, secava-a no forno, punha em um recipiente e adicionava uma infusão de malte não fermentada, além de mel e vinho, nas cervejas mais caras.

Nos primeiros bares as mulheres ficavam na porta

Todo mundo bebia cerveja.

Bebiam cerveja com canudinho, era um mingau de cevada efervescente. Os reis bebiam no trono. Os sacerdotes, nos templos. A primeira poeta da história foi uma mulher chamada Enheduana. Em quase todos os poemas de sua lavra, o término era com: "Todos os deuses anunnakis respeitam o longo período de fartura etílica". Era uma poesia um pouco repetitiva. O caso é que a cerveja era considerada importante e sagrada. E ela estava em toda parte. Era o que tornava alguém humano, civilizado.

Mas se você não era rei ou sacerdote, onde bebia uma boa cerva? Vamos dizer que você é um viajante e chegou à cidade de Ur, no sul do atual Iraque, por volta de 2.000 a.C. Você não está interessado em zigurates ou em ver a paisagem, só quer beber. O que fazer? Precisa procurar uma taberna. Por sorte, elas existem.

Tabernas em geral ficam perto da praça principal, mas como Ur é a maior cidade do mundo - contava com impressionantes 65 mil habitantes - há inúmeras tabernas. E como diferenciar uma taberna de uma residência familiar? Simples, pelas prostitutas à sua porta. E como se reconhece uma prostituta de Ur? Bom, elas usam uma única peça de roupa e podem ter um colar de pérolas no pescoço.

Então você se lança em uma taberna, Está sedento. é uma construção baixa de tijolo de barro e com teto reto. A primeira coisa que nota é que está escuro, o cheiro é pungente e há uma porção de moscas. Isso porque a cerveja é feita ali mesmo. O vinho, veio do campo. O cheiro que sentiu é de malte, cevada e tudo o mais que é usado para produzir uma cerveja.

Conforme teus olhos se acostumem à falta de luz, vemos todo o aparato: uma série de tinas, vasilhas e panelas com nomes específicos. Há o "gakkul", o "lamsare" e o "ugurbal". Todos eram fabricados na fabricação da cerveja, mas os arqueólogos não sabem para o que faziam.

Quem está dentro da taberna? Só há uma mulher: a dona. As tabernas sempre pertenciam às mulheres. Uma taberneira faz sentido, considerando que a produção da cerveja era uma tarefa doméstica, e, portanto, recaía sobre as mulheres.

Taberna era lugar de conspiradores. Eram bares pequenos e escuros onde os homens iam para se reunir, tramar, fazer acordos e reclamar do governo. Finalmente você beberá. A taberneira poderá tentar te passar a perna. Se isso ocorrer, é só denunciá-la que será afogada. Os sumérios tinham vários tipos de cerveja: de cevada, de castanha, de farro , escura, leve, vermelha, doce, com mel, com todo tipo de tempero, encorpada com vinho e até mesmo as filtradas (caríssimas). E agora terá de pagar. As tabernas têm uma tabela medida em cevada. É uma sociedade de escambo, de trocas, sem moeda. Cerveja é algo barato. Há muitas trocas possíveis, mas uma outra é regulamentada. Pagar com um leitão. Se você levou um leitão para pagar a cerveja, não estava ali apenas pela bebida. Era o pagamento pela cerveja e sexo com as prostitutas da porta, que ocorria em pé e ao ar livre. Mas esse é outra história.

Nos primeiros bares as mulheres ficavam na porta

Embriaguez: a mosca bêbada e a ressaca das formigas.

Antes de sermos humanos, já bebíamos. O álcool surge naturalmente, e sempre foi assim. Quando a vida começou, ha 4 bilhões de anos, havia micróbios unicelulares nadando alegremente na sopa primordial, consumindo açúcares simples e excretando etano e dióxido do carbono. Na prática, mijavam cerveja.

Felizmente, a vida evoluiu. Vieram as árvores e os frutos, que, se deixados a apodrecer, fermentam de maneira natural. A fermentação dos frutos produz açúcar e álcool, que as moscas drosófilas - as mais comuns - amam. Não sabem se elas ficam bêbadas da maneira como compreendemos. Até porque elas são incapazes de falar, cantar ou dirigir. Só sabemos que, se uma drosófila macho têm suas investidas românticas recusadas por uma desdenhosa drosófila fêmea, seu consumo de álcool aumenta de forma dramática. Porre de coração partido?

Também não resta dúvida que os elefantes tomam porres homéricos. Ponha cerveja na caçamba de uma camionete, tire as tampinhas e deixe que provem. Em geral, há certa confusão, e os elefantes maiores acabam bebendo a maior parte das garrafas. Mas você, em seguida, poderá observá-los aos tropeços e pegando no sono. Contudo, isso pode dar errado. Um cientista deixou um macho dominante beber demais e teve de apartar uma briga entre um elefante muito louco e um rinoceronte. Elefantes nunca atacam rinocerontes, mas a cerveja os transforma.

É mais seguro observar o porre das formigas. Havia uma teoria de que elas têm senha, porque vivem em colônias nas quais não deixam outras formigas entrar. Essa teoria da senha das formigas foi desmantelada. Embebedaram as formigas mergulhando-as no uísque por alguns instantes. Havia cinquenta formigas, 25 de um ninho e 25 de outro. Marcaram cada grupo de 25 com tinta diferente e as depositaram em cima de uma mesa. A mesa estava cercada por água para evitar que se dispersassem. Escolheram 25 formigas misturadas dos dois grupos, essas foram apenas alimentadas. As outras 25, também misturadas, foram mergulhadas no uísque. As formigas alimentadas notaram, e pareceram surpresas, com as bêbadas. Depois de um tempo, as alimentadas carregaram a do outro ninho e jogaram na água. As que pertenciam a seu próprio ninho foram levadas para dormir até que os efeitos do álcool passassem.

Essas citações podem parecer bizarras. Mas as relações entre embriaguez humana e animal, seu espelhamento, levaram a grandes avanços na biologia. Charles Darwin achava que macacos bêbados eram engraçados. Mas também achava que eram relevantes. Ele ficou fascinado ao ouvir como se podia capturar um babuíno. Ofertando-lhe cerveja. Na manha seguinte à bebedeira, os macacos levavam ambas as mãos à cabeça dolorida e recusavam nova oferta de cerveja ou de vinho. Mas aceitavam um caldo de limão. Esses fatos mostram que os nervos do paladar devem ser muito similares nos macacos e no homem. Darwin achava que, se o homem e o macaco reagem da mesma maneira à ressaca, eles devem ser aparentados.

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