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Em Pauta

O Cristo de Ouro e a Grande Ema, histórias da Guerra do PY

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 13/07/2025 08:05
O Cristo de Ouro e a Grande Ema, histórias da Guerra do PY

As populações do pequeno povoado de Miranda e das tribos de terenas, seus vizinhos, tinham fugido para um dos morros da região. Tido como de difícil acesso para as tropas guaranis de Solano Lopez, haviam aberto o caminho com machete e machado. Viviam em choças construídas às pressas. A maioria dos índios que acompanharam as famílias dos brancos era terena. Mas Maria, a mais famosa indígena entre os fugitivos, pertencia à nação kadiwéu. Era alta, bonita, traços bem feitos. Nunca perdia o sorriso. Com isso, conquistara as crianças, que sempre a rodeavam.


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Mingau de bocaiúva.

Paciente, Maria assava as bocaiúvas na cinza do tacuru. Descascava, esmagava a polpa em uma gamela socando a massa até que se esfarelasse. Arranjava um pouco de leite e fazia um mingau grosso adoçado com mel. Era a festa das crianças. Os fugitivos aprenderam com os índios a comer o que encontravam. Carne de paca, de veado, de tatu com mel….o sal acabara, mas os favos de juti eram encontrados com facilidade nos ocos de pau. Os patos-do-mato e as anhumas ficavam ótimos feitos na velha panela de barro. As aranquãs, barulhentas, eram logo descobertas, e mesmo sem sal eram gostosas.


O Cristo de Ouro e a Grande Ema, histórias da Guerra do PY

O Cristo de Ouro.

Quando as barriguinhas das crianças se enchiam, chegava a hora de contar estórias do povo da Maria. As crianças ficavam silenciosas a escutar. Sempre pediam para repetir a estória do Xerez, a primeira cidade do Mato Grosso do Sul, construída pelos padres. Maria mostrava para as crianças, boquiabertas, a altura do Cristo de Ouro, imagem feita em ouro maciço da altura de uma pessoa. Xerez havia sido atacada e destruída pelos bandeirantes. Mas os padres tinham escondido na mata o Cristo de Ouro antes do ataque. Onde ficava esse lugar? Maria não sabia ao certo.


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A Grande Ema.

Quando a noite era sem lua, o céu ficava apinhado de estrelas. Maria então contava para as crianças a estória da Grande Ema, que vigiava a Terra. Mostrava-a apontando os dedos. O que chamamos de Via Láctea seria para Maria o pescoço comprido, a cabeça e o bico de uma grande ema. A kadiwéu dizia, então: “um dia ela vai virar o bico pra gente e engolir tudo”. As crianças se assustavam. Procuravam dormir logo para se esconder do bico da “Hana iti kipae”, em língua terena.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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