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Em Pauta

O homem que fazia chover

Mário Sérgio Lorenzetto | 17/09/2017 08:03
O homem que fazia chover

Em tempo de seca severa, o maior sonho dos humanos foi fazer chover. Mas esse era um desejo do homem rural. Só foi chegar à cidade com um homem chamado Charles Hatfield. Sua maior façanha ocorreu em San Diego (EUA). Um dia ele foi à biblioteca da cidade e começou a ler sobre chuva. Sobre os antigos e seus deuses da chuva, sobre as tribos com seus cantos e danças para trazer chuva. E leu obras recentes, escritas pelos melhore autores no campo da "pluvicultura". A literatura sobre fazer chover era substancial, ainda que não fosse substantiva.
Os cientistas adotavam uma teoria que fora proposta depois da derrota da Armada Espanhola, em 1588. Ela dizia que as chuvas torrenciais, que mudaram os rumos daquela batalha, foram causadas pela própria batalha. Alguma combinação de ondas sonoras e da fumaça dos canhões conseguira arrancar a precipitação das nuvens, como se fossem frutas de uma árvore. Charlie não se abalou com as derrotas de todos - cientistas ou feiticeiros - que tentaram fazer chover. Havia algo mais. Algo que ainda podia ser feito. Fórmulas que poderiam ser refinadas. Métodos que poderiam ser reelaborados. Como tempo Charlie desenvolveu sua própria técnica.
Seu método era sempre o mesmo. Os detalhes sempre foram misteriosos. Ele e Paul, seu irmão adolescente, escolhiam um lugar abandonado, no meio do nada, e erguiam uma torre. Cinco, dez metros de altura. Uma coisa simples, de tábuas. E em cima uma caixa, aberta, sem teto. Charlie vestia seu terno, subia pela escadinha e misturava produtos químicos na caixa. E esperava enquanto os produtos evaporavam. E traziam chuva.
Os poderosos de San Diego estavam preocupados. Há muito meses por lá não chovia. Somente a falta de água atravancava o crescimento da cidade. Era 1915. Los Angeles crescera. San Francisco também. Só San Diego não crescera. Por falta de água. "Chamem Charlie". Ele prometeu aos poderosos que encheria um grande reservatório em um ano. Seria necessário um metro de chuva. No ano anterior chovera apenas vinte e cinco centímetros. Mas, se ele lhes desse aquela chuva, pagariam dez mil dólares. Era uma fortuna imensa.
Charlie trabalhou em sua torre. E então a chuva caiu. O povo sorriu satisfeito com os poderosos. Foram três dias de chuva, com momentos de intervalo. Homens, mulheres e crianças riam. E Charlie subia a escadinha de sua torre. E os baldes do pó que fazia chover subiam com ele. E subiam as moléculas para o céu. E descia a chuva. E descia a chuva. E descia a chuva. Transbordaram os reservatórios. Todos. Transbordaram os rios. Todos. Alagando os campos. Destruindo estradas. Derrubando pontes. Arrebentando diques. Tirando fazendeiros, pais, mães e crianças das mãos estendidas daqueles que os amavam. Muitos morreram.
Charlie queria receber os dez mil. Mas os poderosos estavam cansados. E tinham problemas maiores que os problemas de um único homem. Então lhe ofereceram um acordo. Ele podia ficar com os dez mil. Tudo que precisaria fazer era dizer ao povo que ele tinha provocado a chuva. Uma multidão se aglomerava na praça amaldiçoando Deus...talvez quisessem saber que o responsável era outra pessoa. Charlie foi embora sem seu cheque. Desapareceu para sempre. E com ele se foi a arte e ciência de fazer chover. Querem chuva criada artificialmente?

O homem que fazia chover

Um vulcão determinou a criação da bicicleta.

A bicicleta está fazendo 200 anos. Até há pouco acreditavam que havia sido criada por Leonardo da Vinci. Comprovou-se que o desenho da bicicleta do gênio italiano é falso. Um charlatão acrescentou raios, quadro, garfo e guidão a dois círculos que Da Vinci deixou desenhado. Assim como tantas outros engenhos do homem, a bicicleta foi fruto da necessidade. O mau tempo foi determinante. Uma mudança climática oposta à que hoje vivenciamos. Durante alguns meses de 1815, ocorreu a maior erupção vulcânica registrada pela história. O Tambora, na Indonésia, expeliu tanta matéria para o céu que vedou a passagem dos raios do sol. Foram milhões de toneladas de pó e cinzas. O sol não passou por essa massa durante anos. No ano seguinte não houve verão na Europa. Caíram nevascas em junho e os campos continuaram gelados em julho. Parecia que o inverno seria eterno. A colheita foi perdida. A fome se abateu nas populações da Ásia e da Europa. Veio uma crise nos transportes em lombo de cavalo e nas diligencias, causada pela mortandade de cavalos. Era preciso decidir entre alimentar-se ou alimentar os animais. Um jovem alemão, o barão Karl von Drais, imaginou e produziu um veículo para substituir o cavalo - em vez de quatro cascos, duas rodas. Nascia assim, em 1817, a "draisiana" ou "velocípede". Era fabricada em madeira e impulsionada por passadas, simultâneas ou consecutivas, das duas pernas. Drais a patenteou e começou a exportar para a França. Logo a engenhoca começou a ser pirateada, especialmente por carroceiros. As primeiras melhorias feitas pelos franceses foram nos raios das rodas e no material do garfo. Trocou-se a madeira pelo ferro.

O homem que fazia chover
O homem que fazia chover

Equilíbrio nas bicicletas e pneus de borracha.

Os estudiosos da história da tecnologia consideram a conquista do equilíbrio como o fator que fez o sucesso total das bicicletas. Os franceses notaram que, nas ladeiras, ao ganhar embalo, era possível erguer as pernas sem cair. Sem procurar, acharam o equilíbrio. Era algo que ia contra a intuição: o "cavalo de rodas" não caia para os lados se o "cavaleiro" conseguisse impulsioná-lo o suficiente. Talvez por isso, antes de inventar o pedal, puseram apoios para que os pés repousassem nas ladeiras. Os "cavalos de rodas" passaram a ter "estribos". O pedal, como o conhecemos, só viria 40 anos depois. Eram fixos no eixo da roda dianteira. A cada volta que completavam correspondia uma volta da roda. As rodas nessa época eram gigantescas. Elevavam o ciclista a dois metros de altura. Nessas engenhocas sem freio, os tombos poderiam ser fatais. A situação melhorou em 1888 quando John Dunlop patenteou o pneu, criado para aprimorar o triciclo de seu filho. Mas seria no final do século XIX, quando criaram a corrente, a roda solta e a engrenagem conectada à roda traseira que a fama cresceria. O tamanho das rodas voltou à altura das pernas. Só a partir dessa época a bicicleta conquistou enorme popularidade no mundo todo. Preço baixo, um veículo ao alcance de muitos mais pessoas venceu o cavalo, que necessitava de caras cocheira e alimentos. O mais interessante é que as bicicletas venceram todas as provas disputadas com os primeiros automóveis. Mas as bicicletas continuam sendo o meio de transporte mais popular do planeta. São mais de um bilhão de bicicletas rodando, especialmente nos populosos países asiáticos.

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