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Em Pauta

O nacionalismo volta a ser poderoso

Qual a origem das nações?

Mário Sérgio Lorenzetto | 25/04/2019 06:35
O nacionalismo volta a ser poderoso

A ideia de nação é corriqueira, ainda que poucos saibam defini-la. Está em nosso linguajar comum. A maioria de nós, incluindo boa parte dos historiadores, associa a ideia de nacionalismo ao século passado. Creem que está diretamente ligada a movimentos como o fascismo ou o nazismo, responsáveis por algumas das maiores atrocidades vistas pela humanidade. Mas Mussolini e Hittler apenas copiaram ideias muito mais antigas. O nacionalismo pertence aos anos 1.300, faz parte do ideário da Idade Media.

O nacionalismo volta a ser poderoso

As vertentes do nacionalismo medieval.

Inicialmente, o nacionalismo surgiu como expressão de identidade. Era como as pessoas descreviam a si mesmas quando estavam distantes de suas casas. Logo, surgiu o nacionalismo eclesiástico. O termo "nação" designava um grupo de padres de certa parte da cristandade. Por último, veio nacionalismo político. Até o século XIV, os reis governavam reinos e não nações. A ideia do nacionalismo dos reis apareceu em alguns momentos em que o rei e seu povo se achavam unidos na busca de interesses comuns - e isso era raro.
Esses três tipos de nacionalismo representam, coletivamente, uma força poderosa que, podemos dizer, continua a moldar o mundo até hoje.

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Nacionalismos surge com o aumento das viagens.

Durante alguns séculos, as viagens eram raras e perigosas. As estradas tinham mais ladrões que lombadas eletrônicas nos dias atuais. Do século XIII em diante, o aumento da frequência das viagens e do comércio internacional fez com que mais pessoas passassem a morar no exterior. Era natural que elas procurassem cercar-se de outros que falassem o mesmo idioma, compartilhassem os mesmo laços de fidelidade e entendessem seus costumes... e até suas piadas. Quando comerciantes da Liga Hanseática, a federação das cidades alemãs e do Báltico, estabeleciam um enclave em um porto estrangeiro, passavam a chamar-se de "nação".

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O nacionalismo estudantil.

Começou a tornar-se comum que estudantes provenientes do mesmo país se unissem em grupos nas mais famosas universidades internacionais. No começo do século XIX, a Universidade de Paris tinha quatro "nações" reconhecidas: franceses, normandos, ingleses e picadenses. Interessante saber que até os anos 1980, essa mesma ideia ainda vigorava entre os universitários que viviam no Rio de Janeiro. Por lá, ainda existia uma "nação" de mato-grossenses. Moderninhos eles, não?

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A nação também era de inimigos.

Essa ideia de nacionalismo cresceu tanto que foi parar no meio das acusações de povos que se detestavam. Nas cidades fronteiriças, onde desde sempre os povos mais se entrechocam por motivos sérios ou fúteis, "nação" era o grupo de estrangeiros para ser expulso da região. O exemplo clássico desse nacionalismo ocorreu na cidade fronteiriça de Berwick, onde os membros da "nação" inglesa pediram ao rei a expulsão dos membros da "nação" escocesa.

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As oito nações do Concílio de Viena.

Os bispos e arcebispos aderiram a essa ideia. No Concilio de Viena (1311-12), se dividiram em oito nações: alemães, espanhóis, italianos, dinamarqueses, ingleses, franceses, irlandeses e escoceses. Essas nações eclesiásticas não tinham nenhuma relação com os reinos políticos. Não existia uma nação chamada Espanha, nem França e, muito menos, Itália, a última a ser constituída. A nação eclesiástica alemã, por exemplo, era formada por bispos de muitas regiões europeias. Tinha mais a ver com culturas e idiomas comuns e o hábito de viajar em grupo do que com fidelidade a algum monarca. Tchecos e húngaros eram da nação eclesiástica alemã.

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O nacionalismo inglês era caracterizado pelo ódio a franceses e escoceses.

E o nacionalismo começou a vestir as roupas do ódio. Os reis começaram a fomentar um sentimento de união. A ideia era convencer aqueles que moravam em uma extremidade do país a pagar mais impostos (sempre impostos) para defender aqueles que morassem em outra extremidade. Independentemente de onde morassem, ser inglês era todo aquele que odiasse franceses e escoceses e por sua cultura e língua, não apenas pela fidelidade ao rei. Da mesma forma, franceses e escoceses se definiam por sua oposição aos ingleses. Portanto, o nacionalismo político já nasce com duas fraturas: impostos maiores e o ódio ao vizinho.

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