Os líderes ainda acreditam que podem continuar se comportando como sempre
Política, finanças e esportes: os líderes ainda acreditam que podem continuar se comportando como sempre.
A era do autocrata terminou. O estilo absolutista já não tem lugar nas sociedades igualitárias, restam a eles os bolsões de conservadorismo que estão esparramados pelo mundo. Essa afirmação é aplicável a muitos âmbitos da atividade humana.
Nas últimas semanas, os resultados das eleições na Grã Bretanha, na Espanha, na Grécia e na Polônia reconfiguraram a ordem política desses países. Novas forças políticas irromperam no cenário, tirando poder das legendas tradicionais. No Brasil ainda dominado pelo tradicionalismo dos líderes de ontem do PT, PSDB e PMDB as eleições municipais ainda distam. E o arcaico vai comandando, contra os anseios de uma parte significativa da população, os destinos da nação. Não é crível que não ocorram profundas mudanças em 2016.
Situação similar ocorre no mundo dos negócios. O Relatório dos Bilionários (em dólar) de 2015 publicado recentemente pela UBS/PwC mostrou que um crescente número de afortunados reside e trabalha na Ásia. Dos 1.300 super-ricos incluídos no relatório, 66% não herdaram sua fortuna - eles a construíram. Há duas décadas a situação era inversa: 57% dos bilionários tinham herdado suas fortunas. Desses 1.300, 36% são asiáticos e tão somente 17% são europeus. Alguém duvida que estejamos vendo o final da forma corrupta, opaca e autoritária como funcionou até agora a organização que dirige o futebol? O fim desses falsos líderes é tanto óbvio como inevitável.
A grande surpresa não é que todas essas coisas estejam ocorrendo. O mais surpreendente é a frequência com que os líderes tradicionais da política, das finanças e dos esportes acreditam que podem continuar se comportando como sempre fizeram.
A bomba armada na Lava Jato vai estourar nas seguradoras.
A quebra de construtoras e paralisação de obras de infraestrutura, provocadas pela operação Lava Jato terá seu fim, além da prisão dos envolvidos dentro de alguns anos, nos cofres das empresas de seguros. Praticamente todas as grandes obras públicas têm seguro de garantia e riscos de engenharia. A Fenaber - Federação Nacional das Empresas de Resseguros - estima em 20 o número de seguradoras que serão atingidas pelas perdas das construtoras e suas obras paradas, mas os valores ainda não foram totalmente quantificados. Essas empresas pretendem lutar na justiça sob o argumento de que "fraude não tem seguro". Isso quer dizer que se ficar comprovado que o fato gerador da indenização nos contratos foi corrupção (que é um tipo de fraude), simplesmente não será paga como determina a legislação do setor de seguros. Mas tudo depende da evolução dos casos na justiça.
O desmanche legal poderá diminuir o número de roubos de automóveis.
Nos últimos quatro anos, uma média de 420 mil veículos foram furtados ou roubados, anualmente, no Brasil. O número equivale a 1.150 automóveis por dia, ou 48 por hora. Por outro lado, apenas 210 mil veículos foram recuperados e devolvidos a seus proprietários. A localização exata desse imenso contingente que supera a marca de 1 milhão de carros é desconhecida, mas o paradeiro, na grande maioria dos casos, está na ponta da língua: os desmanches clandestinos.
Essas "oficinas" especializadas na desmontagem dos veículos e na posterior comercialização das peças no mercado negro proliferam no país e são o grande chamariz das quadrilhas. Apenas no ano passado foram mais de 516 mil veículos roubados, um crescimento de 10% ante os mais de 469 mil do ano anterior. Foram recuperados tão somente 273 mil, ou 53% do total. Eliminando o destino final desses veículos, talvez ocorra a redução de roubos e furtos. A possibilidade de isso ocorrer está na regulamentação da Lei do Desmanche, aprovada no ano passado, com regulamentação prevista para este semestre. Todavia a polícia terá e criar uma força-tarefa para fiscalizar, e fechar, os desmanches existentes. Caso contrário, teremos mais uma letra morta na legislação brasileira. Só no Estado de São Paulo a polícia fiscalizou 1.000 "oficinas", 770 foram fechadas.
As chuteiras algemadas.
Finalmente o governo brasileiro resolveu investigar a corrupção no futebol. Ficou "emparedado" pela ação do FBI que prendeu uma dezena de altos dirigentes do futebol mundial. Nós próximos dias, a Polícia Federal deverá abrir inquérito para apurar o envolvimento da entidade máxima do futebol nacional com empresas de marketing esportivo que pagariam propinas para obter contratos de transmissão de imagens. Ao menos duas delas já estariam sendo investigadas - a Traffic e a Klefer.
Um primeiro sinal de integração com os norte-americanos já foi dado, quando policiais federais cumpriram um mandado de busca e apreensão na sede da Klefer, no Rio de Janeiro. Um de seus sócios é Kleber Leite, ex-presidente do Flamengo.
Um grupo de assessores e membros do primeiro escalão do Ministério da Justiça se reuniu para discutir como tratar a apuração das fraudes no futebol brasileiro. As investigações poderiam chegar às federações estaduais, aos clubes de futebol e às emissoras de televisão que pagam os direitos para transmitir as partidas. Os clubes recebem anualmente cotas das TVs para que seus jogos sejam transmitidos. As emissoras compram esses direitos de empresas de marketing esportivo, como a Traffic e a Klefer. Em outra frente, o Senado brasileiro decidiu abrir uma CPI para investigar a CBF. Como todas as demais, deverá terminar em pizza.
Um alto dirigente brasileiro já está preso. José Maria Marin, o "Zé das Medalhas" (por ter roubado medalhas do Corinthians), ex-presidente da CBF foi encarcerado na Suíça. Os jornais da Europa e dos Estados Unidos relembraram seu passado na política brasileira. Ele é citado como colaborador, dedo-duro, da ditadura militar e carrega a acusação de ter sido o delator do jornalista Vladimir Herzog, torturado e morto em 1975, no DOI-Codi, em São Paulo. Se a polícia levar as investigações à sério, vai faltar algema no país.