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Em Pauta

Os últimos dias da ditadura e a Velhinha de Taubaté

Mário Sérgio Lorenzetto | 08/10/2017 07:55
Os últimos dias da ditadura e a Velhinha de Taubaté

Em 1971, durante um seminário na Universidade Yale (EUA), as cabeças coroadas da academia internacional discutiram a situação do Brasil. No auge do "Milagre" econômico da ditadura e da repressão do governo Médici, falava-se em um futuro de estabilidade do regime. Mas eles sabiam que um regime onde se misturavam administrações arbitrárias, manipulações grosseiras, mistificações e mudanças frequentes de equipe só poderia ser bem-sucedido enquanto a economia fosse bem.
Passados alguns anos, o "Milagre" se fora e, pior, a economia estava no mais profundo colapso. O país quebrara como nunca havia acontecido em sua história. A situação era tão catastrófica que o presidente general Figueiredo teve de dar um telefonema ao presidente Ronald Reagan, pedindo-lhe que o governo norte-americano cobrisse a conta do Banco do Brasil em N.York. Foi atendido e recebeu uma carta de Reagan, breve e direta: "Tenho a satisfação de lhe informar que conseguimos acomodar o assunto que discutimos recentemente. Isso foi conseguido no espírito de amizade que estou certo de que certamente será duradouro". O general Figueiredo respondeu com um tom arrogante ao favor: "os problemas enfrentados pelo Brasil tem conotações globais...". Parecia que fora Reagan quem telefonara pedindo socorro.
Nesses dias o jornalista Luis Fernando Veríssimo criou um dos mais expressivos e divertidos personagens do período. Era a Velhinha de Taubaté, que "passa boa parte do seu tempo numa cadeira de balanço assistindo ao Brasil pela televisão". e "é o último bastião da credulidade nacional. Ninguém acredita mais em nada nem em ninguém no país, mas a velhinha acredita. Não dá para imaginar o que acontecerá no país depois que a velhinha se for".
A velhinha se foi. A ditadura terminou.
Aos 72 anos, Tancredo era um homem miúdo, gentil e de fala pausada. Preferia ouvir. Tancredo estava na oposição desde 1964, mas era uma oposição muito branda. Na sua vida pública vira divisões e tragédias, aprendendo com elas o que há de fugaz nas paixões políticas. Dizia que "se o Maquiavel vivesse nos dias de hoje não passaria de um vereador".
No dia 15 de janeiro de 1985, em clima de comemorações semelhantes às das vitórias da Copa do Mundo, Tancredo de Almeida Neves foi eleito presidente da República. Derrotou Maluf por 480 votos contra 180. Depois de 5 generais e 2 juntas militares, estava acabada a ditadura e um civil retornaria à Presidência da República. E aí começava outro martírio. A democracia de Sarney não era a almejada pelo povo. As regras da democracia começavam ludibriando a população. Nem Tancredo e nem Ulisses. Sarney assumia o poder. A decepção com o novo período democrático vinha no primeiro dia. O clima que hoje vivemos é bem similar ao do final da ditadura.

Os últimos dias da ditadura e a Velhinha de Taubaté

Vivemos melhor que nossos pais na época da ditadura.

Há imensas parcelas da população aspirando por um novo regime autoritário, especialmente entre as faixas etárias mais jovens. Eles não vivenciaram a ditadura. Pior, imaginam um regime de plena liberdade e riqueza. Acreditam em um regime de austeridade, porque os presidentes da República militares foram homens austeros e probos. Nada mais falso. Na ditadura tudo é proibido. Só podemos respirar, caso não façamos oposição. A riqueza que existiu no período ditatorial foi com a compra de dinheiro de outros países. Fomos aos bancos e compramos uma montanha de dinheiro que até hoje pagamos. E se os presidentes foram honestos, seus ministros foram iguais aos da democracia. Não se esqueçam que as Odebrechts da vida são filhas da ditadura e nela cresceram. Mas essa é outra história. Os números do período ditatorial, em comparação com a época democrática, são muito ruins para a imensa maioria da população.
Em 1985, primeiro ano da democracia, a expectativa de vida do brasileiro era de 63 anos, apesar de todas as mazelas, hoje, é de 74 anos. Melhorou 17%. A taxa de mortalidade infantil no período ditatorial era de 61 crianças mortas para cada 1.000, atualmente, essa taxa é considerada universalmente boa: 14 crianças mortas a cada 1.000 nascidas. Melhorou 76%. Há uma taxa que é pouco debatida no Brasil, mas é fundamental para entendermos como vive a população. É a taxa que mede quantas calorias, por pessoa, por dia, que o brasileiro tem acesso. No período ditatorial o brasileiro ingeria 2.629 calorias por dia. Atualmente, ingerimos, em média, 3.263 calorias por dia. Melhora de 24%. Por ultimo, a melhoria média salarial de 1985 a nossos dias foi de 35%.

Os últimos dias da ditadura e a Velhinha de Taubaté
Os últimos dias da ditadura e a Velhinha de Taubaté
Os últimos dias da ditadura e a Velhinha de Taubaté

O caos da social-democracia europeia.

A bandeira social-democrata estava no poder nos principais países europeus até há pouco. França, Alemanha, Bélgica e Holanda eram o núcleo duro europeu da esquerda moderada. As políticas de austeridade que aplicaram, a crise migratória e a irrupção de opções populistas afastaram o eleitor das esquerdas. Resta apenas a Itália, dentre os países mais ricos, mas o Movimento 5 Estrelas, anti-euro e populista vem crescendo em intenções de votos. Todavia, o 5 Estrelas sofreu derrota importante nas eleições municipais. Restam apenas Portugal, República Tcheca e Eslováquia, no rol dos pequenos países. Nossos irmãos portugueses são um ponto fora da curva. Por lá, a esquerda comunista e social-democrata cresce e governa. Mas crescem sem radicalizar. Também resta a Áustria governada pela esquerda, mas todas as pesquisas mostram uma derrota fragorosa nas próximas eleições. É o caos da esquerda.

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