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Em Pauta

Roosevelt, a imagem que Bolsonaro deseja ter

Mário Sérgio Lorenzetto | 04/02/2020 06:40
Roosevelt, a imagem que Bolsonaro deseja ter

Quais as semelhanças entre Donald Trump e Jair Bolsonaro? São raras. Enfrentam as acusações de desapreço à democracia e militância anti-ambientalista. Com doses elevadas, só o desapego ao sistema democrático se mantém, Bolsonaro começa a tomar medidas contra o abusivo desflorestamento. A verdadeira semelhança se dá com o ex-presidente dos EUA, Theodore Roosevelt.

Roosevelt, a imagem que Bolsonaro deseja ter

Um presidente que reflete a qualidade de seu tempo.

Eternamente infantil, atraente e agressivo, às vezes despropositado, Roosevelt, como Bolsonaro, deplorava sua era que achava pouco viril e pacífica demais. Ambos empenham-se em voltar a uma época em que homens era homens e as mulheres os adoravam por isso. Pregando e às vezes praticando sua ideologia belicosa.

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Sofridas infâncias.

Roosevelt levou com ele para a Casa Branca os amargos traumas de sua infância. Sua fraqueza física lhe imporia mudanças difíceis. Bolsonaro também teve uma infância em que a pobreza lhe cobrou mais do que uma criança deve realizar. Roosevelt tinha frequentes assustadores ataques de asma, e na falta de ar, parecia que estava prestes a afogar. Afogamento, Bolsonaro, ao que consta, não sofreu, mas foi na beira de um rio que se tornou uma criança se sustentando como se fosse homem. Pescava para não se afogar na pobreza.

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Vigor exibicionista e eterna ansiedade.

Roosevelt era um menino adoentado que se forçou a se tornar um boxeador razoável. Seu grande problema sempre foi seu físico. Bolsonaro era o menino pobre que aspirava a riqueza cuja imagem ideal era a de um rico fazendeiro de sua cidade. Seu problema era financeiro. A pobreza o afogava. Vem dessas infâncias a necessidade de demonstrar um vigor exibicionista. Vem daí, o anseio demasiadamente humano do "poder pelo poder", que só termina com a morte. "A vida ativa" é a solução para os severos enigmas que a vida impôs a Roosevelt e a Bolsonaro. A atividade incessante mantém sob controle a ansiedade.

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Nervosos e tímidos.

Ambos tem a infância e juventude descritas como épocas em que são nervosos e tímidos. Se confortavam com fantasias de explorações destemidas. Iriam desaguar em uma das melhores formas daquilo que os psicanalistas chamam de "comportamento contra-fóbico": conscientes do que temiam, agem como se não tivessem medo, descobrindo que o medo desaparece dessa maneira. Os dois irão para as forças armadas.

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Roosevelt temia meninos mais fortes, Bolsonaro aterroriza-se com os guerrilheiros.

Pouco antes dos quatorze anos, Roosevelt envolveu-se em um episódio que mudou sua vida. Após um de seus ataques de asma, ele foi enviado, sozinho, para um local de repouso. Na diligência que o levou, encontrou dois garotos mais ou menos da mesma idade, muito mais ativos e maldosos do que ele. Apanhou e foi atormentado até o fim da viagem. Bolsonaro, ainda jovenzinho pescador, teve de passar pelo terror infringido por guerrilheiros em sua pequena cidade. Todos fugiram quando os homens armados chegaram. Só o exército foi capaz de fazer a cidadezinha voltar a respirar. Os guerrilheiros eram seus "meninos" fortes, armados e malvados.

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O desrespeito à hierarquia militar.

Roosevelt serviu como coronel da cavalaria dos EUA na guerra contra a Espanha, pelo domínio de Cuba. Logo mudou e virou secretário-assistente da Marinha. É nessa época que passa por cima de seu superior, mais pacífico do que ele, o secretário John D.Long, para conseguir que outro oficial, louco por batalhas, fosse nomeado comandante das forças navais. A seguir, organizou um regimento de cavalaria, denominado "Cavaleiros Violentos" e levou-os a Cuba. Lá eles foram de triunfo em triunfo e chegou a matar um espanhol com as próprias mãos, sem arma alguma. Bolsonaro tem sua mais importante ação "militar" escrutinado em microscópio. Todos conhecem bem suas ideias de soltar uma bomba como repúdio aos baixos salários de seus companheiros de armas. Ambos alcançaram suas vidas políticas profissionais à partir de seus "feitos" militares.

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Agressão retórica.

Puros atos de agressão. Um depois do outro. Roosevelt compôs e ditou inúmeras cartas, escreveu dezenas de artigos para revistas, publicou discursos e mais de uma dúzia de livros. Todos com sua marca inconfundível: a agressão. Quando desejava machucar um adversário, ele abria fogo, pelo correio ou na imprensa, sem qualquer decoro ou respeito a seu cargo. "Idiotas, histéricos, canalhas e biltres" eram as expressões mais comuns adotadas por Roosevelt. Retirem "biltres" e teremos Bolsonaro. O brilho quente e sensual da agressão lhes dá prazer, expõe sua masculinidade.

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A valorização da masculinidade militante.

Era na valorização da masculinidade militante que Theodore Roosevelt resolvia seus problemas. O "instinto viril, de luta" faz a vida valer a pena para os dois mandatários. O mesmo valor dado à guerra. "A paz da covarde fraqueza". A alegria quando "sentia o lobo [da guerra] despertar no coração". Mas há uma perversa justiça poética nesse norte americano. Em 1906, esse rijo lutador, muito ativo na conclusão da guerra russo-japonesa, ganhou o prêmio Nobel da Paz. Roosevelt e Bolsonaro morrerão valorizando a masculinidade. Seus lemas deveriam ser: "machões acima de tudo e de todos".

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O patriotismo anti-indígena.

Roosevelt exibiu seu patriotismo orgulhoso em sua volumosa história "A conquista do Oeste". Exibiu seu afeto pelos rudes pioneiros que "bravamente protegeram, e ousadamente ampliaram, a fronteira americana contra índios cruéis ". Bolsonaro não escreveu, mas seu pensamento é explícito: índios foram derrotados pelos pioneiros patriotas e não tomarão posse de terras perdidas ou conquistadas.

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