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Boom digital: como lidar com a era da superexposição

Por Lia Rodrigues Alcaraz (*) | 20/05/2025 15:08

A adolescência é uma fase de descobertas, intensas transformações e construção da identidade, recentemente fomos envolvidos numa trama envolvendo dois adolescentes, um garoto filho de atores globais e uma influenciadora, namorada do mesmo.  Em pouco tempo, a velocidade da confusão foi marcada pelo avanço vertiginoso da tecnologia e pela presença massiva das redes sociais, em pouco tempo o tribunal da internet já tinha julgado, condenado o certo e o errado da situação, ser adolecente por si só já é um dos desafios mais complexos, agora lidar com tudo isso de forma exposta deixa tudo ainda mais intenso e complicado. O surgimento dos "digitais influencers", figuras que moldam opiniões, comportamentos e desejos, somado à velocidade da informação e à superexposição da vida pessoal, exige uma reflexão crítica sobre os impactos desse cenário na formação subjetiva dos jovens e na saúde mental coletiva.

O ambiente digital, por um lado, proporciona acesso à informação, expressão de ideias e senso de pertencimento. Por outro, coloca os adolescentes diante de uma vitrine onde tudo é instantâneo, performático e, muitas vezes, irreal. Influencers, muitos deles também jovens, promovem estilos de vida idealizados, rotinas estéticas inalcançáveis e padrões de sucesso que geram ansiedade e comparação constante. O que deveria ser inspiração frequentemente se transforma em frustração, alimentando sentimentos de inadequação, baixa autoestima e alienação da realidade.

Além disso, a cultura da exposição extrema cria um paradoxo: ao mesmo tempo em que os adolescentes buscam pertencimento nas redes, são levados a compartilhar detalhes de sua vida íntima sem filtros, o que pode acarretar sérias consequências emocionais, sociais e até legais, tudo isso para ganhar likes, seguidores, status para poder vender em publicidade. O senso de privacidade se dilui, e muitos jovens não têm ainda maturidade emocional para lidar com julgamentos públicos, cyberbullying e a permanência digital de seus erros, até porque o tribunal da internet é implacável e imparcial, impossível de agradar a todos.

Diante desse contexto, é urgente pensar em estratégias de cuidado e educação digital, famílias, escolas e profissionais da saúde mental precisam caminhar juntos na construção de espaços de escuta, orientação e acolhimento. A mediação crítica do uso das redes, sem necessariamente haver proibições radicais, mas tendo como base o diálogo, é fundamental para que os adolescentes possam desenvolver autonomia, senso ético e consciência dos limites entre o público e o privado. A alfabetização digital deve ser feito em casa, na escolas e na cultura, não pode se restringir ao uso técnico da tecnologia, mas precisa incluir o letramento emocional, o pensamento crítico e o respeito à diversidade.

O fato é que, viver a adolescência em tempos de internet é um desafio que exige mais do que regras: exige presença, escuta e vínculo. Os influenciadores não deixarão de existir, nem a tecnologia desacelerará. Mas é possível formar adolescentes mais preparados, conscientes e saudáveis se, como sociedade, escolhermos educar para o uso e não para a fuga, para o diálogo e não para o controle cego, o equilíbrio, nesse caso, não é um luxo é uma necessidade.

(*) Lia Rodrigues Alcaraz é psicóloga formada pela UCDB (2011), especialista em orientação analítica (2015) e neuropsicóloga em formação (2024). Trabalha como psicóloga clínica na Cassems e em consultório.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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