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Direto das Ruas

Volta de parquímetro a R$ 5 gera conflito entre patrões e empregados no Centro

Comerciantes reclamam que funcionários usam vagas que seriam de clientes e os trabalhadores reclamam de preço

Por Bruna Marques | 29/12/2025 16:37
Volta de parquímetro a R$ 5 gera conflito entre patrões e empregados no Centro
Movimento de veículos e vagas ocupadas na Rua 14 de Julho, no Centro da Capital (Foto: Paulo Francis)

A proposta de retomar o estacionamento rotativo nas ruas do Centro de Campo Grande voltou a circular entre comerciantes e já gera reclamações, com foco na tarifa sugerida de R$ 5 por hora. A denúncia chegou ao Campo Grande News nesta segunda-feira (29), feita por um supervisor de loja, de 28 anos, que pediu para não ser identificado por medo de ser demitido após levantar o assunto.

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A proposta de retomada do estacionamento rotativo no Centro de Campo Grande gera polêmica entre comerciantes e funcionários. O principal ponto de discórdia é a tarifa sugerida de R$ 5 por hora, considerada elevada principalmente por trabalhadores que dependem do carro como meio de transporte. O decreto publicado em novembro prevê inicialmente 3 mil vagas, com possibilidade de expansão para 6,2 mil em seis anos. O sistema funcionará em horário comercial, com tempo máximo de permanência de duas horas. Comerciantes defendem a medida para garantir rotatividade, enquanto funcionários temem demissões caso se manifestem contra o projeto.

Segundo o denunciante, donos de comércios da região central se mobilizam para trazer de volta o rotativo, com modelo digital, mas o debate já começa com resistência por causa do preço. Funcionários e consumidores consideram a cobrança elevada, especialmente para quem depende do carro para trabalhar no Centro.

De acordo com o supervisor, o primeiro impacto recairia sobre trabalhadores do próprio comércio. Ele relata que muitos usam carro como principal meio de transporte, não recebem auxílio-estacionamento e não têm alternativa viável. A resposta atribuída a representantes do setor foi que quem quiser manter o emprego deve estacionar longe e seguir a pé ou usar transporte público. “Se virem e venham trabalhar”, resume o denunciante.

O segundo ponto de tensão, segundo ele, é o clima de ameaça. O supervisor afirma que poucos funcionários conhecem a articulação e que parte dos que sabem teria sido alertada informalmente de que manifestações contrárias podem resultar em demissão.

O terceiro efeito pela avaliação do denunciante é que a tarifa de R$ 5 por hora tende a afastar consumidores, que teriam de pagar caro para estacionar na rua ou deixar o carro mais distante. Ele também afirma que muitos já optam por estacionamentos privados por considerar mais seguro, diante de riscos como arranhões, danos e furtos. Com o rotativo mais caro, ele projeta aumento de demanda e possível reajuste nos estacionamentos particulares, além de migração de compras para o online, onde parte das lojas já oferece entrega.

Volta de parquímetro a R$ 5 gera conflito entre patrões e empregados no Centro
Placa de “embarque e desembarque” e proibição de estacionar em trecho do Centro (Foto: Paulo Francis)

Defesa da retomada - Em grupos de WhatsApp com participação de donos de lojas, comerciantes defendem o retorno do sistema como forma de garantir rotatividade das vagas e facilitar a vida de clientes.

Um comerciante escreveu: “Pessoal, estou propondo que a gente retome o estacionamento rotativo no Centro, agora com modelo digital”.

Na sequência, outra mensagem diz: “Isso já deveria ter sido solucionado pelo poder público. A 14 de Julho virou um corredor. Ao tempo que os funcionários estacionam em frente ao trabalho, o cliente nem chega. Os funcionários, assim como alguns lojistas que não pagam estacionamento mensal, podem deixar os carros um pouco mais longe (assim como fariam se viessem de transporte público)”.

Outro lojista afirmou: “Estou com vocês. É necessário implantar o sistema rotativo de estacionamento. Praticamente 70% das vagas são ocupadas por colaboradores das lojas, por isso não tem vaga para os clientes estacionarem”. E uma quarta mensagem reforçou a mobilização: “Não podemos parar. O poder público só entende quando temos união e cobramos”.

Um participante do grupo enviou áudio com exemplo de quando teve comércio na Rua Rui Barbosa, relatando que funcionários ocupavam vagas na rua, clientes não conseguiam estacionar, as vendas caíam e lojas fecharam, com perda de empregos. No áudio, ele disse que “tem que pôr na balança o que é mais importante”, reconhecendo a dificuldade do tema.

Volta de parquímetro a R$ 5 gera conflito entre patrões e empregados no Centro
Carros ocupam vagas na Rua 14 de Julho, região central de Campo Grande (Foto: Paulo Francis)

“Os dois lados” do debate - A reportagem também ouviu Ronald Barbosa Dias, 47 anos, funcionário de loja de suplementos na Rua 14 de Julho e professor de jiu-jitsu. Ele disse que foi gestor de loja na Rui Barbosa por 20 anos e relatou que, enquanto havia rotativo, clientes conseguiam parar por cerca de 10 minutos, comprar e sair.

Ronald afirmou que não considera errado o funcionário ocupar vaga quando não há cobrança, mas avaliou que, se todos os trabalhadores da área central estacionarem nas vagas de rua, o cliente passa e não para, procurando locais com estacionamento. Ele também disse que, no grupo, alguns comentaram vender mais pela internet e que questionou: “qual a lógica de ter uma loja, pagar aluguel na área central sendo que vendo mais online? Você pode ter um depósito”. Ao mesmo tempo, afirmou não ignorar a realidade do funcionário e disse ver “os dois lados”.

Sobre relatos de punição, Ronald criticou: “Agora esse negócio de falar que funcionário vai ser mandado embora caso estacione é uma loucura”. Para ele, a discussão deveria focar na lógica da rotatividade para garantir vagas ao cliente.

Volta do parquímetro - Decreto publicado em 17 de novembro detalhou as regras para a volta do SER (Sistema de Estacionamento Rotativo). Pelo texto, o sistema começa com 3 mil vagas no prazo de 12 meses, com possibilidade de ampliação pela administração pública.

O total pode crescer gradualmente até 6,2 mil vagas ao longo de seis anos, com justificativa técnica e análise da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito) e da Agereg (Agência de Regulação dos Serviços Públicos Delegados). O decreto fixa tarifa inicial de R$ 5 por hora, com reajustes futuros sob responsabilidade da Agereg, e aponta que o valor representa aumento de 81,81% em relação aos R$ 2,75 cobrados anteriormente.

O tempo de permanência permitido será de no mínimo 15 minutos e no máximo 2 horas, sem prorrogação. Veículos com OCR (reconhecimento óptico de caracteres) farão a fiscalização para leitura automática de placas. A cobrança será por tíquete virtual adquirido em aplicativo ou em ponto de venda, com ativação antes do uso da vaga.

Volta de parquímetro a R$ 5 gera conflito entre patrões e empregados no Centro
Vagas ocupadas ao longo da Rua 14 de Julho, cenário que alimenta o debate sobre o retorno do estacionamento rotativo no Centro (Foto: Paulo Francis)

O funcionamento seguirá o horário comercial: de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, e aos sábados, das 8h às 13h. Fora desses horários, além de domingos e feriados, o uso será livre, com previsão de que a prefeitura possa destinar espaços para eventos.

O decreto reserva vagas especiais, 5% para idosos e 2% para pessoas com deficiência, mediante credencial do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), mas com pagamento de tarifa como as demais. Táxis e mototáxis terão vagas exclusivas e isentas. O texto também informa que o município não se responsabiliza por danos, furtos, acidentes ou prejuízos envolvendo veículos nas áreas do SER.

Apesar da regulamentação, o retorno não é imediato: depende de licitação para definir a empresa responsável pelo serviço.

Pendências com antiga concessionária - O sistema foi suspenso em 22 de março de 2022, quando acabou o contrato com a Metropark Administração Ltda., antiga gestora da Flexpark, que operava 2.458 vagas no Centro.

Conforme apurado pela reportagem na época, há entrave envolvendo saldo de R$ 3,5 milhões em créditos de usuários, discutido na Justiça, e também uma dívida de R$ 22.024.314,95 a favor da concessionária. Em declarações anteriores noticiadas pelo Campo Grande News, o presidente da Câmara Municipal, Epaminondas Neto, Papy (PSDB), afirmou que o projeto foi aprovado em 2024 e que cabe à prefeitura licitar a volta do parquímetro.

O decreto lista ruas e trechos onde o parquímetro poderá ser instalado, com predominância na região central, incluindo vias como a Avenida Afonso Pena, a Rua 14 de Julho e a Rua Rui Barbosa, entre outras.

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