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Economia

Ameaçado por cortes, Sistema S é epicentro cultural e profissional de MS

Superministro da Economia do governo Bolsonaro declarou que o sistema S pode sofrer corte de até 50%. Principal oferta de cultura em Mato Grosso do Sul, instituições do comércio preveem “desaceleração em cadeia” na economia de MS

Izabela Sanchez | 10/01/2019 10:45
Sesc Cultura, em Campo Grande, a última unidade inaugurada pelo Sesc na Capital (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Sesc Cultura, em Campo Grande, a última unidade inaugurada pelo Sesc na Capital (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

Foi na década de 1940, no estado de São Paulo, que empresários da indústria e do comércio resolveram resolver a falta de formação qualificada da mão-de-obra e criaram as primeiras organizações do que hoje é conhecido como Sistema S, formado por 9 instituições de caráter privado, patronais, com o objetivo de promover formação profissional, assistência social, lazer, cultura e educação

Após 78 anos, o Sistema S é um gigante que movimenta milhões em atividades para indústria, comércio, agricultura, transporte, cooperativas, micro e pequenas empresas. O governo federal sustenta que a "caixa preta" dessas entidades precisa ser aberta e o superministro de Economia do governo de Jair Bolsonaro (PSL), Paulo Guedes, já anunciou que vai “passar a faca”, com cortes de até 50% na contribuição que as empresas precisam repassar ao Sistema S.

Sesc Morada dos Baís, uma das unidades que concentra atividades culturais em Campo Grande (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Sesc Morada dos Baís, uma das unidades que concentra atividades culturais em Campo Grande (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

Quem comanda as 9 empresas que compões essa estrutura, é claro, saiu em defesa da verba completa, apresentando tudo que garantem já ter feito regionalmente.

Em Mato Grosso do Sul, as instituições do comércio ocupam uma série de atividades que movimentam a economia e qualificam o mercado de trabalho. Sesc e Senac investiram, em 2018, R$ 66 milhões no Estado. Diretora do Sesc em Mato Grosso do Sul, Regina Ferro afirma que o Sesc arrecadou, por meio das contribuições compulsórias, R$ 34 milhões em 2018, uma média de arrecadação mensal de R$ 2,8 milhões. Já o Senac, segundo o diretor Vitor Mello, arrecadou R$ 25 milhões durante 2018, com uma média de arrecadação mensal de R$ 1,8 milhão.

A receita própria do Sesc, em Mato Grosso do Sul, foi de R$ 19 milhões e a do Senac, R$ 7,3 milhões. Os números, segundo os gestores, financiam toda a estrutura das instituições e a oferta de serviços, incluindo os que são gratuitos.

O Sesc tem 15 unidades em Mato Grosso do Sul. Além da unidade administrativa, são 14 unidades físicas e 4 móveis - que oferecem serviços de odontologia, saúde da mulher e biblioteca -. Em Campo Grande são 8 unidades e no interior o Sesc está presente em Aquidauana, Bonito, Corumbá, Dourados, Ponta Porã e Três Lagoas.

Com 455 empregos gerados de forma direta, uma das ações do Sesc é na área de assistência. De forma gratuita, há trabalhos voltados aos idosos, com aulas de canto e coral, dança e oficinas artísticas. Na educação, são 322 alunos no ensino infantil e 1122 no fundamental, em Campo Grande. Já em Três Lagoas, são 136 alunos da educação infantil e 222 da fundamental, além de 41 alunos do EJA (Educação de Jovens e Adultos),

Há, ainda, academias distribuídas na Capital e no interior, além de hotel e ações de saúde. A última oferece atendimento odontológico, exames relacionados à saúde da mulher e consultas nutricionais.

O Senac, por outro lado, é referência em formação técnica e em Mato Grosso do Sul é conceituado, especialmente, na área de saúde. São 9 unidades no estado, em Campo Grande, Aquidauana, Dourados, Ponta Porã, Naviraí, Três Lagoas e Corumbá.

Os cursos abrangem diversos segmentos: gestão e negócios, saúde e beleza, turismo, hospitalidade e lazer, meio ambiente, comunicação, arte, design e moda, segurança, informática e tecnologia, entre outros.

Em 2018 foram 17.500 atendimentos, com 2.063.180 horas efetivas. Diretor do Senac, Vitor Mello explica que nas ações foram destinados atendimentos a 3.818 alunos no PSG (Programa Senac de Gratuidade): 1.014.000 horas efetivas.

Em Mato Grosso do Sul, esses números implicam atividades que não são, muitas vezes, oferecidas pelo poder público. O destaque é para a cultura e a formação técnica profissional.

Luminoso, Sesc Morada dos Baís atrai multidão em Campo Grande (Foto: Divulgação/Sesc)
Luminoso, Sesc Morada dos Baís atrai multidão em Campo Grande (Foto: Divulgação/Sesc)

Centro da cultura e formação profissional de MS - As unidades do Sesc são, hoje, praticamente os únicos locais onde ocorrem atividades culturais em Campo Grande. Em 2018, uma nova unidade foi inaugurada, o Sesc Cultura, na Avenida Afonso Pena, que junta-se ao Sesc Morada dos Baís na oferta de shows, apresentações de teatro e até cursos de arte.

As unidades receberam mais de 16 mil pessoas em 2018. Foram 31 apresentações de dança, 45 de teatro, 13 exposições de artes visuais, 154 apresentações musicais, 72 de literatura, 25 cafés literários e 351 sessões de cinema.

O que acontece com a cultura, então, se os cortes ocorrerem? Para a diretora de gestão corporativa do Senac, Michelle Annita Seibert Kist, a oferta de ações pode diminuir, especialmente as gratuitas.

“A gente fala que o país vive sem cultura, a gente precisa desenvolver a cultura. O que a gente fala é de lazer, de qualidade de vida, eles [governo] não vão conseguir fazer. Educação formal, não vai conseguir ter a mesma qualidade, projetos sociais, a prefeitura não faz isso, nós desenvolvemos e mudamos a vida dessas pessoas”, comenta.

Para a gestora, os serviços representam a formação “completa do ser humano”. “Não ter cultura e lazer torna as pessoas abitoladas. Não tinha para onde levar as famílias, o Sesc se propôs a isso, fez diversos programas e projetos para atender a população. Tem a Morada dos Baís, que é um celeiro de cultura. É o ser holístico. Se a gente corta esse recurso, com certeza o Sesc vai diminuir. Se não tiver recurso, não vai conseguir fazer as ações no mesmo volume”.

“E aí vai ficar descoberto porque o governo não vai fazer. Perde-se muito na sociedade, querendo tampar o rombo [alegação do ministro], mas não vão conseguir equalizar as contas públicas, não vão fazer as ações da sociedade e nós vamos parar o Brasil por conta disso. É dar um tiro no pé”, opina.

Uma das unidades do Senac em Campo Grande (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Uma das unidades do Senac em Campo Grande (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

Uma reação em cadeia – Outro ponto levantado pela diretora do Senac é o efeito em cadeia na economia de Mato Grosso do Sul. Ela destaca o papel da formação técnica para a oferta de trabalho qualificado no estado.

“Quando a gente fala em países desenvolvidos existe uma importância muito grande para educação técnica. Trabalhamos com aprendizagem, capacitação. Nós somos muito fortes na área de saúde, em enfermagem, análises clínicas, por exemplo, e somos fortes na área de gastronomia”, destaca.

Michelle explica que a receita própria representa apenas 30% dos recursos adquiridos por meio das contribuições compulsórias. “É um impacto gigantesco, não conseguimos ter a estrutura que temos sem essa receita. A gente está analisando com cuidado todo esse movimento. A ruptura desses 50% trará um impacto para diminuir a gratuidade e quando a gente pensa em termos de empresa, contribuímos com 270 famílias, são mais de 3 mil fornecedores, toda uma cadeia impactada”.

O impacto, avalia, ocorre até no governo. “Eles vão reverter esses tributos para a educação? A perda para o Brasil é muito grande, o governo não tem perna pra isso. Vai ser um impacto em cadeia muito grande. Vai desacelerar quando pensamos na cadeia produtiva, vai impactar o orçamento doméstico, vai ter fornecedores com menos demanda, empresários que vão ter que demitir porque tem uma demanda maior do estado, porque vai parar de existir o investimento”.

O que é o sistema S?

São 9 entidades, todas com o nome iniciado com a letra S: Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e Sesi (Serviço Social da Indústria), ligadas à CNI (Confederação Nacional das Indústrias) e Sesc (Serviço Social do Comércio)e Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio), ligadas à CNC (Confederação Nacional do Comércio).

Além delas, ligado ao CNA (Confederação Nacional da Agricultura), há o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural). Sob responsabilidade da OCB (Organização das Cooperativas do Brasil) há o Sescoop (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo) e à CNT (Confederação Nacional do Transporte), existe o Sest (Serviço Social de Transporte) e o Senat (Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte). Por último, ainda há o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).

Privadas, a maioria delas gera receita própria, mas são mantidas, principalmente, com as contribuições e tributos pagos pelas empresas às confederações, na folha de pagamento. Esses tributos são recolhidos pela Receita Federal e repassados às instituições. As alíquotas de contribuição variam de 0,2% até 3%.

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