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Economia

Com “ameaça” de Guedes ao Sistema S, cooperativas defendem instituições

Cursos oferecidos fazem parte do sistema S, que passa por ameaças de cortes anunciados pelo Ministro da Economia Paulo Guedes

Izabela Sanchez | 13/01/2019 14:32
Cooasgo, a Cooperativa Agropecuária São Gabriel do Oeste (Foto: Divulgação)
Cooasgo, a Cooperativa Agropecuária São Gabriel do Oeste (Foto: Divulgação)

Um dos primeiros anúncios da equipe ministerial do presidente Jair Bolsonaro (PSL) ocorreu antes mesmo que ele tomasse posse. A declaração do superministro da Economia, Paulo Guedes, em dezembro de 2018, de que iria “passar a faca” no Sistema S preocupou o setor. Formado por 9 instituições de caráter privado, patronais, as entidades que integram esse conglomerado têm o objetivo de promover formação profissional, assistência social, lazer, cultura e educação.

A lista de serviços inclui atividades ligadas às federações da indústria, comércio, agricultura, transporte, cooperativas e micro e pequenas empresas, que abocanham até bilhões em contribuições compulsórias repassadas pela Receita Federal.

Um dos setores que podem esperar transformação, “caso a faca seja passada” pelo ministro é o cooperativismo. Em Mato Grosso do Sul, em torno de 95 cooperativas formam o sistema da OCB-MS (Organização das Cooperativas Brasileiras em Mato Grosso do Sul). As contribuições compulsórias, que oneram 2,5% sobre a folha de pagamento das entidades, sustentam o Sescoop (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo), uma das 9 instituições do Sistema S.

Em 2018, a Receita Federal repassou R$ 372.385.571,42 à central do Sescoop. O serviço, em Mato Grosso do Sul, arrecadou R$ 4.237.159,25 entre janeiro e outubro de 2018.

O presidente da OCP, Celso Ramos Régis, durante um dos cursos oferecidos pela Sescoop (Foto: Divulgação)
O presidente da OCP, Celso Ramos Régis, durante um dos cursos oferecidos pela Sescoop (Foto: Divulgação)

Presidente da OCB-MS, Celso Ramos Régis, afirma que os valores do Sescoop são os menores entre as instituições do Sistema S e não representam “nem 1%” do que as entidades arrecadam. Ele acredita que no anúncio do governo sobre os cortes “há um equívoco”. Isso porque, explica ele, não são recursos públicos, mas é essa é a impressão que o governo passa à população.

“O que há é uma oneração da folha, eu prefiro pagar os 2,5% e ter os treinamentos”, comenta. “O Sistema S surgiu na década de 1940 em São Paulo. O governo não tinha forma de preparar a mão de obra, isso é um modelo inglês em que o próprio empreendedor forma mão de obra, eles instituíram uma taxa para que cada um recolhesse, baseado na folha, para formação dos empregados”.

O presidente afirma que a regulamentação, por meio de legislação específica, ocorreu para que todas as empresas, comércios e cooperativas contribuíssem, tornando o sistema mais organizado. “Acontece que um pagava e outro não, aí o governo instituiu para que todos pagassem. Surgiu primeiro da indústria e comércio, mais tarde, na década de 80 criou-se o Senar, e o último é o Sescoop, de 1998”.

“O Sescoop não dá 1% do total do Sistema S. No Sescoop temos uma meta nacional que é ter 80% do recurso aplicado na atividade-fim e só 20% na atividade meio. Hoje em Mato Grosso do Sul estamos com 78% em atividade-fim e 22% na atividade-meio, somos um dos melhores indicadores do Brasil”, defende. Segundo ele, o uso da verba inclui cerca de 20 cursos oferecidos aos cooperados em áreas como Gestão, MBA em Marketing e formação de líderes –que e ajudam na organização interna das cooperativas.

“Até setembro as cooperativas que solicitam, encaminham quais são as necessidades que elas têm. A diferença do sistema cooperativista para os demais é que aqui é o dono do negócio são milhares, porque o modelo cooperativo é diferente”, pontua Celso. Em Mato Grosso do Sul, afirma, “os fortes” são as cooperativas de agropecuária, crédito e saúde.

Silos da Cooasgo, em São Gabriel do Oeste (Foto: Divulgação)
Silos da Cooasgo, em São Gabriel do Oeste (Foto: Divulgação)

Desorganização – O presidente acredita que o principal impacto dos cortes seria na organização das contribuições. As cooperativas, afirma ele, “escolheriam continuar contribuindo”. Sem a obrigatoriedade, porém, reconhece que as arrecadações seriam desiguais.

“O que poderia acontecer? Nós iríamos chamar as cooperativas e eu tenho certeza que em uma assembleia iriam querer repor o dinheiro. Só que aí tem uns mais espertos que pagam, outros que não pagam”, explica.

Celso alega que as instituições S ocupam uma lacuna que deveria ser preenchida pelo próprio governo. “Quem prepara a mão de obra técnica deveria ser o governo, mas não existe no Brasil. O empresariado organizado, através do sistema S, capacita. A discussão vai ser grande, porque falta um pouquinho mais de entendimento. Do nosso S vai causar um transtorno”.

Crise econômica – O dirigente reforma que as diversas linhas de formação oferecidas ajudaram a estruturar as cooperativas e tiraram algumas, relata ele, do “olho da crise”. “A cooperativa de Jaraguari é um case de sucesso. O presidente veio fazer curso e ela se transformou, estava quase para fechar, hoje é uma cooperativa forte. Uma outra é a Cooasgo, uma cooperativa grande de suinocultores de São Gabriel do Oeste, que passou por dificuldade de gestão”, contou.

Em Jaraguai, o ano de 2012 uniu produtores de leite em torno da Comprojá (Cooperativa Mista dos Produtores de Leite de Jaraguai e Região), formada principalmente por produtores de assentamentos.

Matriz da Cooasgo (Foto: Divulgação)
Matriz da Cooasgo (Foto: Divulgação)

“O problema era na comercialização. Quando laticínio fazia compra individual tinha produção maior, tinha menor, e tinha preferência por quem produzia mais, e decidimos criar a cooperativa que vai de 20 litros a 200 litros e recebem o mesmo atendimento”, explica o presidente Paulo Francisco Angelo da Silva.

Ele sustenta que o sistema torna a formação, que pode ser cara, em algo acessível a quem não pode pagar. “Eu participei em cursos para presidente porque é importante entender o cooperativismo, saber o que planejar para o ano, quais as diretrizes, quais os caminhos a serem trilhados”, alegou. Isso fica acessível porque se fôssemos pagar seria muito caro. Como a nossa cooperativa é nova e pequena, seria quase impossível”.

Já em São Gabriel do Oeste, uma associação de produtores credita à formação profissional o sucesso que atraiu a Aurora, que compra boa parte da produção de suínos da Cooasgo (Cooperativa Agropecuária São Gabriel do Oeste). A suinocultura é apenas um dos segmentos de um grupo que une 460 produtores ligados à agropecuária, fábrica de ração e armazenamento de grãos.

Lá, afirmam, a Sescoop ajudou na capacitação de produtores e trabalhadores, bem como no suporte para elaboração do estatuto. Neste ano, a Cooasgo faz 26 anos. A avaliação é de que o fortalecimento do grupo foi um dos responsáveis pela chegada da Aurora.

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