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Economia

Engolidos pelas redes, mercadinhos sobrevivem com clientes de caderneta

Segundo proprietário, os mercadinhos de bairros ficam com a demanda de reposição do dia a dia das famílias

Fernanda Palheta | 25/08/2019 07:50
Engolidos pelas redes, mercadinhos sobrevivem com clientes de caderneta
Mercado Popular, conhecido como Mercadinho do Seo Valdir começou onde era uma antiga igreja na Vila Carlota (Foto: Kisie Ainoã)
Mercado Popular, conhecido como Mercadinho do Seo Valdir começou onde era uma antiga igreja na Vila Carlota (Foto: Kisie Ainoã)

Três quarteirões separam o Mercado Popular, conhecido como mercadinho do seu Valdir, na Rua do Dólar, do Hiper Comper, na Avenida SpipeCalarge, na Vila Carlota, em Campo Grande. A concorrência chegou em 2017, quando a unidade da rede foi inaugurada na região. Em dois anos, as vendas do mercadinho de bairro caíram pela metade e a sobrevivência vem dos vizinhos, fregueses antigos e clientes de caderneta.

Filha do seu Valdir e uma das atuais proprietárias do mercadinho do bairro, Valdecira Antônia da Silva, de 46 anos, conta que o comércio existe há mais de 40 anos e surgiu quando o bairro não tinha nenhum tipo de infraestrutura. “Na época aqui não tinha nada, não tinha acesso, não tinha asfalto, não tinha linha de ônibus”, lembra.

Após o pai de aposentar, a filha, Valdecira assumiu junto com os irmãos o comando do Mercadinho (Foto: Kisie Ainoã)
Após o pai de aposentar, a filha, Valdecira assumiu junto com os irmãos o comando do Mercadinho (Foto: Kisie Ainoã)

Segundo ela, os primeiros produtos eram carregados de bicicleta pelo pai. “Minha mãe veio de Jateí [cidade a 292 quilômetros de Campo Grande] e para ganhar dinheiro começou a vender as coisas. No começo era só uma tabuinha e meu pai ia nos grandes mercados compra os produtos e carregava tudo de bicicleta”.

Com o crescimento do comércio, Valdir deixou o antigo emprego e começou a tocar o mercado junto com a esposa, quando o nome do comércio do bairro pegou. O mercado ganhou fama na região por ter de tudo. “As pessoas brincavam fazendo aposta que poderiam encontrar desde fumo, enxada e botina aqui”, lembra Valdecira.

A variedade de produtos continua e é vista pela proprietária como um dos diferenciais. “Temos até elástico por metro, coisa que não se encontra em supermercados”, compara.

Mesmo com a queda nas vendas após a concorrência, o movimento continua. Valdecira reconhece que os clientes antigos são fiéis. “Temos clientes de caderneta e clientes que vem aqui desde que abrimos”, aponta. Como é o caso da vizinha Marlene AparcidaArce Pessoa, de 33 anos, que apesar de morar mais perto do Comper prefere o mercado de bairro.

“A preferência é por ser antigo aqui, os preços são acessíveis e encontramos de tudo. Além do atendimento excelente. Sempre que venho aqui a gente conversa, além de ser cliente a gente tem amizade”, explica. Outro ponto é a confiança. “Às vezes eu estou sem dinheiro e anoto na caderneta”, completa. A escolha pelo mercado vem de outras gerações, segundo a moradora do bairro, os pais dela já eram clientes do mercadinho e até hoje fazem compras no local.

Mercado do Seo Valdir ficou conhecido por ter de tudo (Foto: Kisie Ainoã)
Mercado do Seo Valdir ficou conhecido por ter de tudo (Foto: Kisie Ainoã)
Com clientes antigos, marcado de bairro mantem caderneta (Foto: Kisie Ainoã)
Com clientes antigos, marcado de bairro mantem caderneta (Foto: Kisie Ainoã)

A queda nas vendas se repete no Mercado São Paulo, na esquina da Rua Expedicionário Alcindo Jardim Chagas, na esquina com a Travessa Santiago, no Jardim Aero Rancho. Na região a concorrência é com a Rede Pires. “É uma rede muito forte e estamos aqui no meio para atender a vizinhança”, apontou o proprietário do mercadinho, Paulo Sérgio Correa, de 50 anos.

Há 14 anos a frente do comércio, o dono do mercadinho afirma que a diminuição das vendas tem sido gradual. “Prosperou bastante, mas hoje com a atual circunstância do mercado a gente está sentindo bastante, caiu cerca de 40% nas vendas”, avalia.

No Jardim Aero Rancho, a proximidade com redes de mercados mudou o perfil de compra dos moradores (Foto: Kisie Ainoã)
No Jardim Aero Rancho, a proximidade com redes de mercados mudou o perfil de compra dos moradores (Foto: Kisie Ainoã)

Além da rede Pires, o dono do mercadinho aponta que outras redes estão no bairro. “Os mercados grandes estão vindo para os bairros. Aqui, por exemplo, nós temos o Comper e Fort, que estão aqui próximo. Temos também mercados já antigos e tradicionais na cidade que estão vindo para essa região”, aponta.

Paulo ainda afirma que vê uma mudança no perfil das compras feitas no comércio de bairro. “Hoje os mercados grandes têm feito mais promoções e o pessoal vai migrando e a gente fica reposição do dia a dia. Essa é a realidade dos mercados de bairro”, completa.

No Mercado Silva, na Rua Generoso de Albuquerque, no Jardim Aero Rancho a concorrência com grandes redes chegou, mas não afetou as vendas. É o que afirmou a proprietária Marlene Barros Amorim Silva, de 47 anos. “Deu uma abaixada sim, mas não nos afetou”, conta. Segundo ela, além dos clientes antigos, de confiança, que ainda tem caderneta, o comércio tem muito cliente novo. Em 20 anos, o mercadinho cresceu e deixou de ser um “quadradinho”.

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