Juros do cheque especial caíram, mas cliente mal conhece taxas de banco
A partir desta segunda-feira (6), a passa a valer a regra que limita a cobrança do juros de 8% mensal, ou 151,8% ao ano

Mesmo com uma nova regra que limita a taxa de juros em vigor e o medo de se endividar, os campo-grandenses não sabem qual o valor cobrado dos juros do cheque especial, um crédito pré-aprovado, disponível na conta corrente e usado quando o saldo não é suficiente. "Só sei que cobram", está foi a resposta dos consumidores ouvidos pela reportagem do Campo Grande News, na manhã desta segunda-feira (6).
A partir de hoje, a cobrança da taxa tem limite máximo de 8% mensal, ou 151,8% ao ano. A regra foi criada pelo Banco Central, no fim de novembro do ano passado, quando a taxa média de juros cobrada era de 12,4% ao mês, ou 306,6% anual. A medida, segundo o Banco Central pretende tornar o cheque especial mais eficiente e menos regressivo, ou seja, menos prejudicial para a população mais pobre.
A diarista Edna Regina Colagos, de 40 anos, não sabe o valor da taxa. "Sei que é cobrado, mas não costumo usar", disse. Ela afirma que é uma pessoa controlada com as contas e não entra no cheque especial. Para evitar qualquer tipo de dívida a estratégia é comprar apenas à vista.
"Uso só dinheiro porque já tive uma dívida há dois anos", lembra. Segundo ela, em 2017 a dívida começou com R$ 500,00. "Foi para R$ 800,00; R$ 1.000,00 e chegou até R$ 2.000,00 só de juros. Depois disso eu mudei", completa.
A operadora de empilhadeira, Theiza de Araujo do Nascimeto, 26 anos, conta que não faz ideia de quanto seja a cobrança. Para se controlar, ela explica que só usa um terço do limite do cartão de crédito, por exemplo. "Tomo cuidado por causa dos juros mesmo, porque sei que não vou aguentar pagar", lembra.
Mesmo com uma dívida ativa, o vigilante Ramão Gerson Vila Maior, de 55 anos, também afirma não ter ideia de quanto é cobrado por mês de juros, mas sabe que alto. Ele contou que ultrapassou o limite em outro banco. "De R$ 196,00 passou para R$ 500,00 de um mês para o outro", afirma. Ele estima que hoje, a dívida seja de cerca de R$ 3.000,00.
Para evitar novas ele mudou a forma de comprar e baniu os cartões de créditos. "Hoje eu pago tudo à vista, se quero comprar uma televisão, por exemplo, eu junto o dinheiro por alguns meses vou lá e compro".
Sem saber o valor da taxa, a empregada doméstica Helislaine Ponce, 43 anos, explica que não usa o crédito a mais do banco. Agora sou bem controlado justamente por causa do medo dos juros". Ela lembra da dívida de 15 anos atrás. "Ultrapassei o limite de compra, com a multa não dei conta de pagar e me enrolei", afirma.
Para pagar a conta, ela precisou vender um cachorro. "Vendi um pastor alemão, que eu amava muito, por R$ 70,00, eu lembro até hoje". Hoje quando ela sente que está perdendo o controle a solução é quebrar o cartão de crédito. "Jogo fora", completa.
Tarifa - Para garantir a queda dos juros, os bancos estão autorizados a cobrar tarifa de quem tem limite do cheque especial maior que R$ 500 por mês. De acordo com o Banco Central, cerca de 19 milhões de usuários do cheque especial possuem menos de R$ 500 de limite, dentro de um universo de 80 milhões de clientes.
Quem tiver limite de até R$ 500 no cheque especial e não fizer uso do dinheiro não paga nada. Acima disso, o banco poderá cobrar 0,25% sobre o valor disponível que exceder esses R$ 500 – mesmo que o cliente não encoste no dinheiro.
Caso use o cheque especial, a pessoa fica isenta dessa taxa e paga o juro de até 8% ao mês, equivalente a cerca de 150% ao ano. Para os contratos já em vigor, a cobrança passa a ser permitida a partir de 1º de junho de 2020.
Ainda segunda a regra, as instituições têm a obrigação de comunicar a incidência com 30 dias de antecedência.