Literalmente sem teto, família pode ter casa reformada com programa federal
Família Souza revive lembranças ao cantar diante da casa em ruínas e sonha reformá-la com novo crédito federal

Com o telhado caído e os cômodos tomados pelo tempo, a antiga casa da família Souza, no bairro Tiradentes, em Campo Grande, ficou vazia. Mesmo assim, os irmãos que cresceram ali mantêm o sonho de devolver vida ao lugar onde a matriarca reuniu a vizinhança por duas décadas.
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A família Souza, do bairro Tiradentes, em Campo Grande, vislumbra a possibilidade de reformar sua residência de 50 anos por meio do novo programa federal de financiamento habitacional. O projeto oferece até R$ 100 mil para reformas, com prazo de pagamento de até oito anos, utilizando recursos do Fundo Social do Pré-Sal. A casa, construída pelos próprios irmãos há mais de quatro décadas, enfrenta sérios problemas estruturais, incluindo infiltrações e telhado danificado. O imóvel de oito cômodos carrega memórias significativas da família, especialmente das celebrações em honra a São Sebastião, organizadas pela matriarca Helena Rodrigues de Souza, já falecida.
O aposentado Paulo Rodrigo de Souza, de 65 anos, ainda dorme na garagem. O espaço que antes guardava apenas os carros virou abrigo improvisado, com cama, cobertor, ventilador e televisão. “Durmo aqui mesmo, porque dentro não dá mais. Mas é a casa da mãe, e eu não saio daqui”, diz, olhando para as paredes descascadas.
Há três anos, o telhado de amianto cedeu, deixando todos os cômodos expostos. “A gente tentou consertar, mas o dinheiro acabou. Quando chove, entra água por tudo”, conta o irmão Bernardo Rodrigues Souza, de 53 anos, músico e pedreiro por necessidade.
A casa foi erguida pelos próprios irmãos, há muitos anos, quando o Tiradentes começava a se formar. “Era chão batido, a gente levantou parede por parede”, lembra Bernardo.
Ali, sob o comando de dona Helena Rodrigues de Souza, a matriarca, o imóvel se transformou em ponto de encontro do bairro. Devota de São Sebastião, ela fazia do quintal um pequeno santuário. Todo 20 de janeiro, a festa em homenagem ao padroeiro do Rio de Janeiro reunia dezenas de vizinhos.
“Ela dizia que fé e alegria eram os melhores alicerces de uma casa”, recorda o sobrinho Emerson Luiz da Silva, de 50 anos, hoje desempregado. “Depois que ela se foi, a casa ficou vazia, mas a lembrança continua forte.” O pequeno santuário ainda resiste, porém, não sem sucumbir às marcas do tempo.

O sonho dos três é reformar o imóvel e voltar a ocupar o espaço onde a família viveu seus melhores anos. Paulo, que recebe R$ 1,5 mil de aposentadoria, sabe que sozinho não consegue. “A gente quer só um teto de volta, pra poder sentar na varanda e tocar um violão”, resume Bernardo.
Essa esperança pode ganhar novo fôlego com o programa federal de reforma de moradias, que promete liberar empréstimos de até R$ 100 mil, com prazos de até 96 meses (8 anos) para pagamento. O projeto, que será operado pela Caixa Econômica Federal, deve alcançar famílias de diferentes faixas de renda, com juros reduzidos.
O governo pretende destinar R$ 30 bilhões do fundo social do pré-sal à nova linha de crédito, que poderá beneficiar até 2 milhões de famílias em todo o país.

Para os Souza, a medida representa a chance de reconstruir mais que paredes. “A gente quer ver a casa cheia de novo, ouvir gente conversando, criança correndo. É isso que dá sentido pra vida”, diz Paulo, com a voz baixa.
Mesmo vazia, a casa da família Souza segue de pé, sustentada por lembranças, fé e a esperança de que um novo começo ainda é possível.
Durante a reportagem, orgulhosos, os três voltaram a se reunir na frente da casa, como faziam antes das festas de São Sebastião. Emerson pegou o violão gasto e cantou, Bernardo o acordeon, e Paulo improvisou no ritmo das palmas. Cantaram uma música paraguaia.
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