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Economia

Número de jovens trabalhadores em MS cai para o menor nível em seis anos

Nesse cenário, desemprego tem alta de 62% entre pessoas de 14 a 24 anos

Osvaldo Júnior | 24/04/2018 06:33
Matheus Victor está entre os jovens trabalhadores de Mato Grosso do Sul (Foto: Divulgação)
Matheus Victor está entre os jovens trabalhadores de Mato Grosso do Sul (Foto: Divulgação)

O mercado de trabalho de Mato Grosso do Sul está menos jovem. São 196 mil pessoas de 14 a 24 anos com alguma ocupação no Estado, de acordo com a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Este é o menor número da série histórica do estudo, iniciado em 2012. Na outra ponta, o desemprego entre os jovens sul-mato-grossenses cresceu 62% no mesmo período.

Esse cenário se contrapõe ao objetivo do Dia Internacional do Jovem Trabalhador, comemorado neste 24 de abril. Criado pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), a data visa estimular a contratação de pessoas com menos idade e menos experiência. Essa finalidade se torna ainda mais importante em um quadro de estatísticas como as apresentadas por Mato Grosso do Sul.

Conforme a PNAD, no último trimestre de 2017, havia 450 mil pessoas de 14 a 24 anos em Mato Grosso do Sul. Esse número é inferior a dos anos anteriores (sempre quarto trimestre), exceto ao de 2016 (448 mil). Nos demais anos, as parcelas de sul-mato-grossenses nessa faixa etária foram os seguintes: 2015, 454 mil; 2014, 469 mil; 2013, 460 mil; e em 2012, 465 mil.

A população jovem é menor – a retração foi de 3,22% desde 2012. No entanto, a queda no número de trabalhadores jovens foi muito mais intensa: 15,51%, ou seja, cinco vezes mais. Em 2012, eram 232 mil sul-mato-grossenses de 14 a 24 anos no mercado de trabalho. No ano passado, essa quantidade recuou para 196 mil.

Em se tratando de desemprego, a disparada foi de 62%, passando de 29 mil em 2012 para 47 mil em 2017. São 36 mil jovens desempregados a mais. Pelo histórico da PNAD, o número de desocupados caiu para 22 mil em 2013 e em 2014; depois começou a subir: 36 mil em 2015; e 47 mil em 2016 e 2017.

Número de jovens trabalhadores em MS cai para o menor nível em seis anos

Matheus Victor Silva Vieira, 23 anos, está no grupo dos que estão empregados. E isso é imprescindível em seu caso, porque ajuda no orçamento de casa. “Só sou eu e minha mãe”, conta o jovem, que trabalha como vendedor em uma loja de roupas no shopping Bosque dos Ipês, em Campo Grande.

Ele está no mercado desde os 16 anos. Iniciou como jovem aprendiz no Tribunal de Justiça. “Fiquei até 18 anos, aprendi muito. Só saí porque comecei a faculdade de Engenharia Civil”, detalha. O curso foi trancado, porque Matheus precisou aumentar sua ajuda na renda familiar. “Tive que sair pra trabalhar. Meu Fies [Financiamento Estudantil] ficou atrasado, sujei meu nome”, recorda-se.

Número de jovens trabalhadores em MS cai para o menor nível em seis anos

“Acordo por volta das 8h. Faço as tarefas lá de casa, pra ajudar minha mãe. Aí venho pro shopping por volta de meio-dia. Antes de começar a trabalhar, vou pra academia treinar, faço musculação aqui mesmo no shopping”

O trabalho é puxado, das 14h às 22h. Isso, no entanto, não impede que Matheus viva sua juventude. Ele encontra tempo para si, para a namorada e para os amigos. “Acordo por volta das 8h. Quando estou animado, corro um pouco. Depois, faço as tarefas lá de casa, pra ajudar minha mãe. Aí venho pro shopping por volta de meio-dia. Antes de começar a trabalhar, vou pra academia treinar, faço musculação aqui mesmo no shopping”, relata. “Consigo sair com minha namorada, com meus amigos. Dá pra conciliar”, completa.

Como projeto profissional, Matheus pretende investir na área de vendas. Ele quer voltar para a faculdade, mas não para o mesmo curso. “Quero fazer alguma coisa na área de gestão ou de administração”, conta.

Loja no shopping Bosque dos Ipês, que tem à frente Paulo Victo (de azul, sentado), jovem de 29 anos
Loja no shopping Bosque dos Ipês, que tem à frente Paulo Victo (de azul, sentado), jovem de 29 anos

Empreendedorismo, uma resposta à altura das intempéries do mercado de trabalho

Número de jovens trabalhadores em MS cai para o menor nível em seis anos

O caminho para enfrentar as adversidades do mercado de trabalho também passa pelo empreendedorismo. Parte dos jovens que não estão empregados pode estar à frente de algum negócio. E esse grupo é ainda maior depois dos 25, quando, em diversos casos, a faculdade já foi concluída. É o que mostra a pesquisa “Perfil do Jovem Empreendedor Brasileiro”, da Conaj (Confederação Nacional de Jovens Empresários), com dados relativos a 2016.

Conforme o estudo, a maior parte (35%) dos jovens empreendedores têm de 26 a 30 anos. A segunda maior parcela (28%) tem de 31 a 35. Outro dado mostra que os jovens com ensino superior (42%) e com pós-graduação (39%) estão em maior número no mundo do empreendedorismo.

“Na correlação desses dados, percebe-se que os jovens colocam a preparação como fator importante na decisão de empreender, por isso amadurecem suas ideias de negócio enquanto se preparam para decidir empreender ao término da graduação ou pós-graduação”, afirma o relatório do estudo.

Canecas personalizadas, um dos investimentos de Paulo Victor (Foto: Divulgação)
Canecas personalizadas, um dos investimentos de Paulo Victor (Foto: Divulgação)

O que não é possível ser mostrado pelas estatísticas é a carga de trabalho dos jovens empreendedores. Paulo Victor Monteiro, 29 anos, que tem uma loja no shopping Bosque dos Ipês que o diga. Ele chega a trabalhar 14 horas por dia, quando o movimento é mais intenso.
Paulo, no entanto, não é apenas empresário. Ele é daquelas pessoas que trabalhava enquanto descansa. Além de ter uma loja de conserto de celulares e confecção de canecas, onde emprega duas pessoas, ele também é funcionário do complexo comercial, na área de TI (Tecnologia da Informação).

“Comecei a ter o próprio negócio em 2013. Depois, com o tempo consegui vir para o shopping”, contou Paulo. Antes disso, era fiscal de empresa de ônibus, mas já consertava celulares, como autônomo.

“Trabalho no shopping das 15h às 18h de segunda a sexta-feira. Depois das 18h, se for preciso, vou pra minha loja e fico até as 22h. Nos fins de semana, como não trabalho no shopping, fico na loja”, detalhou.

Outro negócio de Paulo, realizado no mesmo espaço, é o de canecas personalizadas, atividade inicialmente feita pela irmã do empresário. “É uma parceira com ela. É um investimento interessante”, avaliou.

Espaço do Living Lab, em Campo Grande (Foto: Google)
Espaço do Living Lab, em Campo Grande (Foto: Google)

Laboratório de redes – No mundo de pessoas conectadas pela internet, os jovens se destacam no empreendedorismo com seus aspectos atuais. Entre essas características, está a de não se isolar nas próprias ideias quando se pensa em ter o próprio negócio. Um “laboratório”, em Mato Grosso do Sul, contribui na construção de pontes – melhor, de redes – entre as iniciativas empreendedoras. Trata-se do Living Lab, desenvolvido pelo Sebrae/MS, em parceria com 42 instituições públicas e privadas.

“O laboratório objetiva falar, construir e atuar com a inovação com atenção às novas necessidades dos negócios e das pessoas”, informou Leandra Oliveira, gerente do Living Lab, unidade de MS. Ela acrescenta que as trocas de experiências ocorrem durante eventos diversos, como palestras, talks, entre outros. “Temos atendimento para pessoas que tem ideias e querem saber como podem avançar mais”, afirma.

O Living Lab acompanha, atualmente, 15 startups, na frente dos quais estão empreendedores jovens. “A maioria tem menos de 35 anos. Os jovens são os que mais participam dos talks, o que é perceptível, por exemplo, nas fotos publicadas na conta do instagram (livinglabMS)”, finaliza.

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