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Educação e Tecnologia

Entre perdas e ganhos, universitários estão "sobrevivendo" na pandemia

Depois de ano e meio sem aulas presenciais, UFMS, por exemplo, vai manter sistema híbrido até fim do ano

Lucia Morel | 14/07/2021 07:22
"Paliteiro", símbolo da UFMS. (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)
"Paliteiro", símbolo da UFMS. (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)

Dos males, o menor. Depois de pouco mais de um ano e meio sem aulas 100% presenciais e com previsão de manutenção do sistema híbrido de ensino até o fim deste ano, as universidades parecem estar “sobrevivendo” na tentativa de manter a qualidade do ensino em pé.

Os prejuízos são inumeráveis em um momento tão conturbado. Para o aluno de Sistemas de Informação, na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Wellington Idino, cada área do conhecimento sofre com diferentes defasagem diante do cenário que se impõe.

“Na minha área, por exemplo, os professores já têm conhecimento das ferramentas tecnológicas e é mais fácil se adaptar, mas sabemos de aulas em outras áreas, humanas ou licenciatura, por exemplo, que acabam sendo limitadas por falta do domínio das ferramentas tecnológicas”, avalia.

Presidente do DCE (Diretório Central de Estudantes) da universidade, Wellington aponta a evasão e a distância no acesso à tecnologia como um dos maiores prejuízos. “Teve aumento da evasão e a desigualdade sócio-econômica ficou mais evidente, implicando no desempenho dos alunos. O corte federal no orçamento prejudicou a assistência estudantil e claro, a saúde mental também se prejudicou, porque já não houve mais os ganhos que chamamos de extracurriculares, que são as trocas, as conversas”, analisa.

Sobre a evasão, ele cita que estudantes abandonaram algum semestre letivo para poder trabalhar, já que perderam a assistência estudantil, que era o que os mantinha podendo estudar sem estar trabalhando. “Não necessariamente abandonaram o curso”, disse, ressaltando que, “na opinião geral, estamos conseguindo sobreviver”.

Mas ele também consegue ver os prós à grande parcela dos acadêmicos. “Os ganhos são as novas rotinas e a inserção de novas tecnologias que serão ainda úteis pro ensino. A flexibilização do tempo de estudo, com a gente conseguindo se adequar aos horários. Tiveram também avanços em projetos de pesquisa e extensão em relação à pandemia”, avaliou, enumerando os ganhos.

Guilherme, estudando em casa. (Foto: Arquivo pessoal)
Guilherme, estudando em casa. (Foto: Arquivo pessoal)

Distante - Estudante de Direito, Guilherme Ferrreira Rocha, 21 anos, está no 6º semestre do curso e teve oportunidade de estudar três deles presencialmente. Em sua avaliação, a mudança para o sistema remoto também teve perdas e ganhos

“No meu caso específico, eu acho que foi benéfico sim, porque é mais fácil estudar num ambiente confortável de casa, consigo ler mais e ter mais atenção. Fora que não tem o desgaste com o deslocamento”, avalia, lembrando que o acesso aos professores também melhorou, já que o tirar dúvidas não fica mais restrito à sala de aula.

No entanto, comenta que há mais atividades, com professores realmente querendo aferir a participação dos alunos e se estão aprendendo bem, e pra isso, acabam pesando a mão no cumprimento das tarefas. “Sem o ensino presencial, eles acabam utilizando métodos alternativos para aferir a presença e sobrecarrega a gente, gerando uma grande quantidade de matérias”.

Ele também citou como dificuldades o caso de colegas que precisaram desistir das aulas porque precisaram trabalhar. “Esse método (remoto) fez flexibilizar os horários e meu curso, por exemplo, que era noturno, agora tem aulas durante o dia. Quem trabalha não consegue acompanhar”, conta.

Docência – Professor titular da Facom (Faculdade de Computação), Marco Aurélio Stefanes é também presidente da ADUFMS (Associação de Docentes da UFMS) e analisa perdas “imensuráveis” aos estudantes, mas pondera que diante do quadro, houve certa adequação, ainda que tardia, ao acesso às aulas e conteúdos.

“Nós dormimos no presencial e acordamos no remoto. Não tivemos tempo de nos preparar para o ensino à distância. Eu atuo na área, mas muitos professores têm dificuldades e até são avessos a isso e a universidade não deu essa capacitação”, lamenta.

Ele lembra que há certa assistência aos estudantes, com entrega de equipamentos de informática para acesso às aulas, cartões de acesso à internet o que diminui a defasagem, mas avalia que houve demora na concessão desses benefícios e que mesmo com eles, a participação dos alunos é pequena.

“Alguns alunos se adaptaram, mas tem outros que não têm essa desenvoltura. Nas aulas online mesmo, só uns 10% dos que participam estão com o vídeo aberto e fazem pergunta, os outros aparecem, mas não sabemos se estão lá. É difícil mensurar o que de fato chega eles daquilo que estamos fazendo”.

O professor comenta ainda que as perdas no ensino também não podem ser medidas, já que a adoção do modelo híbrido foi feito de forma emergencial, para suprir a necessidade que a pandemia impôs, mas “não é adequado pra manter qualidade”, que segundo ele, é mais eficaz quando há a “empatia, o olho no olho”.

“A pandemia tirou isso e as disciplinas viram apenas conteudistas. Se o aluno tem outra dificuldade, a gente não consegue fazer esse diagnóstico, porque a gente acompanha só o resultado”.

Para ele, o retorno ideal das aulas presencias será quando ao menos 70% da população estiver efetivamente imunizada, ou seja, 15 dias após a segunda dose definitiva ou dose única. “Somos contrários à retomada sem os 70%”, sustenta.

Corredor central da universidade, que costumava estar sempre lotado. (Foto: Kísie Ainoã/Arquivo)
Corredor central da universidade, que costumava estar sempre lotado. (Foto: Kísie Ainoã/Arquivo)

Universidade – Em nota, a UFMS afirmou que não há previsão de retorno às aulas 100% presenciais, sendo que apenas cursos que precisam de atividades práticas – como os da área de saúde, por exemplo – estão funcionando de forma presencial.

“As aulas teóricas são realizadas remotamente e as aulas práticas são realizadas presencialmente, seguindo o Plano de Biossegurança da Universidade e o Plano de Biossegurança setorial, pois cada unidade possui um plano próprio, para abranger suas especificidades. Por conta disso, cada unidade é responsável pela determinação das atividades presenciais permitidas”, discorre a nota.

A instituição citou ainda que criou projetos com o “objetivo proteger a comunidade universitária identificando situações que merecem atenção e desenvolvendo ações para as necessidades advindas da situação de isolamento social”, como  atendimentos psicológicos para estudantes e servidores em Campo Grande e nos demais nove campus.

Ontem, a universidade divulgou a versão 4.0 do Plano de Biossegurança, em que definiu a manutenção do sistema híbrido até o fim deste ano e implementou protocolo de testagem aos membros da comunidade acadêmica que realizam atividades presenciais.

Também entrou em vigor o Vacinômetro UFMS, que visa monitorar a cobertura vacinal da comunidade universitária dos professores, técnicos, estudantes e colaboradores terceirizados.

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