Entre pipa e jogos, crianças curtem último domingo de férias e pais agradecem
Agosto chega também para a meninada recuperar os sonhos, como ser médico, veterinário e dentista

O último domingo (4) das férias escolares para a rede pública em Campo Grande foi de clima misto na periferia da cidade: se para as crianças o sentimento era de despedida das brincadeiras em casa, para os pais e responsáveis o alívio era evidente. A rotina, que já é puxada durante o ano letivo, se intensifica nas férias, especialmente quando os filhos não têm para onde ir e os adultos seguem trabalhando.
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Na rede municipal, as aulas voltam amanhã. Na estadual, o retorno será na terça-feira.
Aurilene Santos de Almeida, operadora de caixa e mãe de seis filhos, resume bem esse cenário. Enquanto os trigêmeos de dois anos demandavam atenção total, os mais velhos, Isadora, de 9 anos, e Diogo, de 16, ajudaram como puderam, mas também exigem atenção. “Eles só vão à praça quando eu posso ir junto, gosto de ficar por perto”, diz
Além dos seis filhos, na mesma casa, quem vive a experiência das férias na cidade pela primeira vez é Paulo Roberto Santos da Silva, de 12 anos. O sobrinho de Aurilene veio da fazenda para estudar e, nesse tempo, aprendeu a soltar pipa com um vizinho.

Apesar de gostar de jogos no celular, ele prefere brincar na rua. "Nunca soltei pipa antes e o Miguel que me ensinou. É legal o celular, mas a pipa é mais", garante o menino. Paulo está empolgado com a escola, onde quer seguir firme no sonho de ser veterinário. “Vaca é meu animal preferido”, diz, lembrando da vida no campo com o pai.
Na região do Noroeste, onde vivem essas famílias, a falta de atividades públicas durante o recesso obriga os pais a improvisar. Sem celular para todos, sobra espaço para brincadeiras clássicas como esconde-esconde, pega-pega ou simplesmente desenhar e ver TV. O uso da tecnologia aparece, mas com limites, seja por escolha das famílias, seja pela falta de acesso a equipamentos funcionando.

Na casa da diarista Célia Santos, mãe dos gêmeos César Augusto e João Miguel, de 6 anos, também não houve grandes passeios. Eles ficaram dentro de casa, entre carrinhos e televisão, porque o uso da internet é restrito: “Não deixo eles brincarem na rua e celular, só quando tiverem mais entendimento. A internet mostra o que é bom e o que é ruim, e ainda não é hora disso”, afirma a mãe.
Os dois estudam na Escola Municipal Senador Rachid Saldanha Derzi e, tímidos, quase não falaram. Mas João Miguel, depois de um sorriso encabulado, confessou: “Prefiro ver desenho.”
Para as crianças, o fim das férias representa o retorno ao convívio com os colegas e à rotina escolar. Para os responsáveis, é também o momento de recuperar algum fôlego

No caso das pequenas Julia e Renata, também de 6 anos, a diversão ficou por conta das brincadeiras no quintal e da televisão, já que o tablet está estragado. As primas são cuidadas pelo avô, Ilton Gomes da Costa, de 50 anos, que ainda trabalha como pedreiro. Ele admite que não há muito tempo para aproveitar as crianças.
“Durante o dia a gente trabalha, e paga uma pessoa para levar e buscar elas na escola. Se tivesse alguma atividade fora do colégio seria ótimo, mas não tem.” As duas também não dão trégua. "A gente fica brincando e as vezes a gente briga", conta Renata.
Entre empolgação, brincadeiras simples e o corre da vida real, agosto chega também para a meninada recuperar os sonhos. Questionadas sobre o que mais gostam, as netas do pedreiro Ilton responderam com rapidez: matemática e brincar de “mamãe e filhinha”. Renata quer ser médica e Julia, dentista.