Pais temem fim de formação técnica com mudança na gestão de escola agrícola
Ensino Médio da unidade passará para a responsabilidade do governo do Estado em 2026

A mudança na gestão da Escola Municipal Agrícola Governador Arnaldo Estevão de Figueiredo, localizada na rodovia MS-040, zona rural de Campo Grande, tem gerado preocupação e revolta entre pais de alunos e moradores da região. A unidade, que existe há quase 30 anos, vai passar parte de sua administração para a responsabilidade do Estado a partir de 2026.
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A Escola Municipal Agrícola Governador Arnaldo Estevão de Figueiredo, em Campo Grande, passará por mudança administrativa em 2026, quando o Ensino Médio será transferido para a responsabilidade do Estado. A alteração tem gerado preocupação na comunidade escolar, principalmente pela possível extinção do diploma técnico agropecuário. A unidade, que existe há quase 30 anos e atende 500 alunos em tempo integral, já formou 17 turmas de técnicos agropecuários. Pais e alunos criticam a falta de comunicação sobre as mudanças e temem pelo futuro do ensino técnico, considerado fundamental para a inserção no mercado de trabalho agrícola da região.
Durante uma reunião realizada nesta quinta-feira (23) com a comunidade escolar, um dos pontos apresentados foi a retirada do diploma técnico agropecuário, além da possibilidade de redirecionamento de professores, exonerações e demissões. Professores também reclamaram da gratificação de deslocamento, que atualmente é de 50%, e não sabem se continuarão a receber.
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Com a alteração, o Ensino Médio deixará de ser totalmente municipal e passará para a SED (Secretaria Estadual de Educação). A principal preocupação das famílias é com o novo modelo apresentado na reunião, de que o estudante precisará fazer uma prova final aplicada pelo Estado para obter o título. Caso não seja aprovado, concluirá o Ensino Médio sem o diploma.
A escola, que atende cerca de 500 alunos em tempo integral, já formou 17 turmas de técnicos agropecuários ao longo de sua história. Para muitas famílias da zona rural, é uma referência de ensino e uma oportunidade de inserção no mercado de trabalho agrícola.
A técnica de enfermagem Geisebel Andrade, de 42 anos, mora com os filhos na Chácara das Mansões. Sua filha cursa o 1º ano do Ensino Médio na escola, onde estuda há 14 anos.
“Ficamos sabendo dessa mudança da Prefeitura para o Estado sem nenhuma comunicação aos pais. Não fomos notificados nem avisados e ficamos preocupadas, porque ela está desde pequena nesse ambiente agrícola, aprendendo, e já se vê formando como técnica agrícola. É uma situação frustrante”, lamentou.
Ela lembrou também que o filho de 23 anos se formou na mesma escola e hoje trabalha na área como técnico agrícola.
“É deles [filhos] o gosto pela coisa. Eu não sou da área, mas a gente os criou nesse ambiente. Então, é frustrante ver essa mudança sem comunicação. Eu falei que, se for preciso, vamos fechar a BR, vamos fazer qualquer coisa, porque é em prol dos nossos filhos”, disse.
A dona de casa Rosa Kennedy, 31 anos, também teme pelo futuro da filha, aluna do 4º ano do Ensino Fundamental.
“Ela está aqui desde o primeiro aninho. Já fiquei mexida, porque é o sonho dela finalizar aqui. Eu quero levá-la para a cidade, mas ela falou: ‘mãe, eu quero terminar meus estudos aqui’. Ela já começou a ir para o campo. O maior medo de todas as mães é a mudança que haverá para os alunos”, destacou. A auxiliar de serviços gerais Fernanda dos Santos, de 35 anos, também demonstrou preocupação.
“Eu já formei uma filha, e a mais nova está no segundo ano do Ensino Médio. Disseram a ela que vão tirar os professores do campo; não haverá mais aula no campo, apenas dentro da sala de aula. Eu não vejo nenhuma melhoria para o terceiro ano que vem; eles vão perder os dois anos que estudaram. Hoje eles saem com curso técnico completo, com diploma; isso não vai ter mais”, disse.
A auxiliar de serviços gerais Cristiane Oliveira, 38 anos, conta que optou por matricular as filhas na escola pela qualidade e pelo ensino técnico oferecido.
“Quando elas passaram para o Ensino Médio, nós não quisemos que elas estudassem à noite. Conseguimos a vaga aqui confiando na referência da escola. Querem tirar o curso técnico; os professores de campo não vão mais poder estar com eles em sala de aula. Isso afetou muito, porque muitos não querem mais estudar aqui. Quando ficamos sabendo, foi uma decepção, porque o Estado não comunicou, não sentou com os pais para saber o que achavam.”
Questionado sobre a mudança na gestão, o secretário municipal de educação, Lucas Bittencourt, explicou que a decisão faz parte de uma parceria entre a Prefeitura e o Governo do Estado, formalizada por meio de um termo de cooperação. Segundo ele, o objetivo é ampliar as oportunidades e o currículo dos estudantes da Escola Agrícola Governador Arnaldo Estevão de Figueiredo.
“Na verdade, nós vamos ter uma parceria, um termo de cooperação com o Estado. Na Prefeitura é a única escola que tem Ensino Médio. Então, para que esse aluno tenha mais experiência com outros ensinos técnicos profissionalizantes, a parceria com o Estado vai ampliar esse currículo. Ao invés de ter uma troca de experiência dessa escola com ela mesma, ela vai ter o Estado todo para conversar e avançar”, afirmou.
O titular da educação municipal reforçou ainda que os alunos continuarão recebendo certificações técnicas. “Ele tem uma certificação por ano e, no final do terceiro ano, sai com o ensino técnico profissionalizante de agropecuária.”
Em nota a Semed (Secretaria Municipal de Educação) confirmou que, a partir de 2026, o Ensino Médio da escola passará para a responsabilidade da SED.
“A mudança ocorre em conformidade com a Constituição Federal e com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que definem as competências de cada ente federativo na oferta da educação”, disse a pasta.
O Campo Grande News entrou em contato com o Governo do Estado e aguarda retorno.
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