Professores adaptam aula para usar IA como aliada e não minar senso crítico
Educadores adaptam aulas para integrar IA de forma responsável
Professores do Ensino Médio e Ensino Fundamental têm adaptado as aulas e metodologias para lidar com o impacto da inteligência artificial no ensino e na aprendizagem. O objetivo é claro: fazer da IA uma aliada para aprimoramento das aulas, ensinar os estudantes a utilizá-la de forma consciente e, acima de tudo, preservar e estimular as habilidades de reflexão e senso crítico dos alunos.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
Professores brasileiros, de Ensino Fundamental e Médio, estão se adaptando à realidade da inteligência artificial na educação. Buscam usar a IA como ferramenta de apoio, ensinando os alunos a utilizá-la conscientemente, sem comprometer o desenvolvimento do senso crítico e da reflexão. A preocupação com o uso ético da tecnologia é central nesse processo. Experiências em sala de aula mostram que a IA já é utilizada por estudantes, demandando novas estratégias pedagógicas. Professores relatam a identificação de textos produzidos por IA e adaptam suas práticas, priorizando atividades em sala de aula para garantir a autoria dos trabalhos. Ao mesmo tempo, utilizam a IA para planejamento de aulas e desenvolvimento de atividades mais criativas, otimizando seu tempo e aprimorando o aprendizado. Especialistas alertam para os riscos do uso indiscriminado da IA, como a redução do esforço mental e a erosão do pensamento crítico. A formação continuada de professores e o debate sobre o uso ético da tecnologia são apontados como caminhos para garantir que a IA seja uma ferramenta a serviço da educação.
Professora de Língua Portuguesa na Escola Estadual Ada Teixeira, em Campo Grande, Rosana Coelho tem 25 anos de experiência na educação e observa que a IA já faz parte do dia a dia dos adolescentes. Por isso, ela considera fundamental que os jovens reflitam sobre os benefícios e malefícios dessa tecnologia.
Pensando nisso, no semestre passado, a escola promoveu um evento de redação cujo tema foi a “Inteligência Artificial”, envolvendo todos os alunos. Antes de partirem para a prática do texto, os estudantes participaram de debate sobre o tema com professores de Redação e de Língua Portuguesa. “Os alunos dominam muito a tecnologia, muitos sabem mais que os professores. Eles, no fundo, sabem que a IA tem benefícios e malefícios”, complementa a professora Rosana.
Texto com IA
No ano passado, Rosana chegou a identificar o uso do Chat GPT em textos de seus alunos. Segundo ela, foi fácil identificar, pois o texto apresentava linguagem e vocabulário diferente do usual. “Eu acompanho os textos dos meus alunos, eu sei como eles escrevem. Por isso, é muito fácil de identificar”, afirmou a professora ao lembrar que desde que o uso de telefone celular foi proibido nas escolas esses casos diminuíram.
Atividades em sala
Atualmente, Rosana não pede mais redação como tarefa para casa, mas todos os textos são feitos em sala de aula. Desta forma, ela tem a garantia de que o aluno vai fazer uma escrita autoral. “Se eles tiverem a oportunidade, eles vão usar. Por isso, eu priorizo a redação na escola”.
Professor de Filosofia para o Ensino Médio, Osvaldo dos Passos Pereira Júnior segue a mesma linha. “Um caminho que ajuda é produzir o máximo possível em sala de aula sem o celular”. A ideia, segundo o professor, é possibilitar que os estudantes desenvolvam habilidade de reflexão e de argumentação, por isso, ele incentiva também a realização de seminários, nos quais os estudantes são incentivados a fazerem pesquisas, organizar as informações em casa e apresentar em sala. Assim, relacionam teoria e prática.
IA para preparar aulas
Osvaldo e Rosana têm usado a inteligência artificial também para auxiliá-los no planejamento das aulas. No caso dele, prefere buscar ideias de metodologias e atividades que são adaptadas à realidade de cada turma.
“O interessante é conversar com a IA e não apenas pedir alguma coisa, agradecer e usar a sugestão dada por ela. Quando digo conversar, estou dizendo que a cada resposta da IA, é interessante problematizar e relacionar com outras questões para que possa aprofundar suas contribuições”, afirma o professor.
Para Rosana Coelho, a IA contribui para desenvolver o plano de aula, buscar e melhorar ideias de práticas diferentes, uma vez que os professores, de maneira geral, têm pouco tempo para o planejamento. “Eu e muitos colegas usamos, por exemplo, vou tratar o tema ‘ética, respeito e empatia’, dou as orientações para a IA e ela traz o texto pronto com questões do jeito que eu pedi. Isso facilita a vida e acaba ajudando a criar atividades mais agradáveis para os alunos. É uma ferramenta fantástica para aprimorar o trabalho. Eu gosto bastante”, comenta Rosana.
Preparo para usar IA
Como os colegas têm usado o recurso regularmente, Camila Dias Maia se viu obrigada a entrar na era da IA e, atualmente, está fazendo um curso a respeito. Professora de História há 11 anos, Camila afirma que resistiu o quanto pode, mas precisa se atualizar para acompanhar os alunos - que dominam as ferramentas - e também para aprimorar suas aulas.
Matriculada em um curso on-line da Fadeb (Fundação de Apoio e Desenvolvimento à Educação Básica de Mato Grosso do Sul), Camila se diz encantada com as facilidades. “Tem muitas ferramentas de IA para a sala de aula. Tem para planejamento de aulas, tem como converter textos em música, música em quadrinho. Por exemplo, dar um comando de IA para criar uma charge de Napoleão Bonaparte cantando um rap”.
No entanto, Camila diz que a ferramenta acende um alerta em relação ao uso ético e também a formação do senso crítico dos estudantes.
Desenvolvimento Cognitivo
Segundo a psicóloga Fabiana Silvestre essa preocupação da Camila é muito válida, já que ao usar a IA, como o ChatGPT, ocorre a redução do esforço mental necessário para sintetizar informações, organizar pensamentos e desenvolver argumentações autônomas. Isso atrofia a capacidade de formular ideias originais, o que transforma a aprendizagem em um processo mecânico de reprodução.
Além disso, a psicóloga alerta que pode haver a erosão do pensamento crítico, como provam os estudos da Microsoft/Carnegie Mellon. A pesquisa aponta que a confiança excessiva em respostas de inteligência artificial diminui o engajamento analítico. Consequentemente, resulta em prejuízos à argumentação, já que os estudantes delegam a construção de textos à IA e acabam perdendo a oportunidade de exercitar a reflexão.
Futuro da IA na Educação
Doutora em Educação, a professora Rosimeire Régis é pesquisadora das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) e destaca que os principais desafios do uso da inteligência artificial é o seu uso ético. Para ela, a IA é um facilitador, mas seu uso precisa ser consciente e mediado por princípios pedagógicos e éticos.
Régis ressalta que a IA permite a adaptação de conteúdos ao ritmo, estilo e necessidades do aluno, pode fornecer explicações adicionais ou adaptar exercícios conforme o desempenho do estudante, automatiza tarefas administrativas e repetitivas, auxilia na análise diagnóstica do desempenho dos estudantes, contribuindo para intervenções pedagógicas mais precisas.
No entanto, a ferramenta oferece o risco de dependência tecnológica com a aprendizagem passiva, cópia de respostas até a desvalorização do papel do educador.
Para a pesquisadora, nos próximos 5 a 10 anos, a IA vai transformar, mas não substituir, o papel do professor. Ela ressalta que os educadores que souberem usar a IA com responsabilidade, criatividade pedagógica e pensamento crítico terão um papel ainda mais relevante na educação e ampliarão sua importância no processo educativo.