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Política

Público celebra a trajetória de Ney Matogrosso

Redação | 30/08/2008 17:52

Quando as cortinas se abriram e mostraram Ney Matogrosso como uma ave rara em um divã no centro do palco, a platéia soltou um suspiro de admiração, mas nada parecia novo.

Nem o divã, usado por gente como Madonna como um recurso para estimular o imaginário sobre uma realeza sensual, e nem o badalado figurino "glam", criado por Ney e Ocimar Versolato, uma releitura sofisticada das segundas peles que se tornaram moda quando Bowie ainda era Ziggy Stardust.

Essa impressão inicial, somada ao arranjo convencional de "O Tempo Não Pára", em que Ney vociferava as palavras de desprezo de Cazuza sobre a burguesia, para um teatro repleto de scarpins, poderia ter feito com que um espectador mais apressado, e que não fizesse parte do imenso fã-clube do artista que lotou o teatro, pensasse: eu já vi esse show. E isso teria sido um grande engano.

O show estava por começar, e talvez tenha realmente começado, após a homenagem à Cazuza, quando Ney cantou os primeiros versos de "Mal Necessário", canção de Mauro Kiwito: "Sou um homem sou um bicho, sou uma mulher, sou a mesa e as cadeiras deste cabaré".

Daquele momento em diante, Ney tomou a dianteira de um espetáculo que continua sendo uma celebração da liberdade, e justamente em uma área onde as liberdades são mais perigosas. O show é verdadeiramente "sexy". A ponto de despertar alguns risos nervosos dos acompanhantes das senhoras durante as trocas de figurino, que Ney faz ao lado do divã.

Para outros a saída fácil à exibição ousada do corpo do artista e sua movimentação no palco, foi no grito: "Gostoso!". Coisa que já virou moda na turnê.

E é nesse terreno, do escancaramento da repressão, onde ela se faz mais forte, que Ney desafia o público, que por sua vez, adora. E onde recria um personagem que se volta para futuro, como a encarnação de um espírito latino miscigenado, libertário e sensual.

A banda, formada por uma nata de novos músicos, não demora para decolar. Em músicas como Cavaleiro de Aruanda e Inclassificáveis, a banda parece ter se formado com Ney, e não ser um grupo de experientes músicos convidados, o que quase sempre se traduz em apuro técnico e falta de personalidade.

Mas é o magnetismo de Ney Matogrosso o que realmente tira o trem dos trilhos. Depois que o artista circula pelo teatro no meio do público, cantando "Porque que a Gente é Assim", o show se transforma em uma festa, e as pessoas começam a deixar os assentos e se aproximar do palco, sentar nos degraus, para ver mais de perto.

O show caminha para o final em uma trajetória ascendente. Passa por Inclassificáveis, que sintetiza a visão que o artista criou de um arquétipo inca, indígena, afro, e que diz: "aqui somos mestiços mulatos, cafuzos pardos tapuias tupinamboclos, americarataís yorubárbaros, somos o que somos, inclassificáveis".

E termina com Divino Maravilhoso. "Atenção, precisa ter olhos firmes, pra este sol, para esta escuridão, tudo é perigoso, tudo é divino maravilhoso".

Com a última do bis, 'Pro Dia Nascer Feliz', o povo levantou para dançar.

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