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Arquitetura

Abboud guarda memórias de igreja erguida pelo pai, que não viu inauguração

Com papéis e fotografias, o cineasta conta um pouco da história da Igreja Ortodoxa São Jorge, na Rua 14 de Julho

Thailla Torres | 14/02/2019 08:40
O cineasta Abboud Lahdo conta um pouco sobre a fundação da Igreja Sirian Ortodoxa São Jorge.
O cineasta Abboud Lahdo conta um pouco sobre a fundação da Igreja Sirian Ortodoxa São Jorge.

Aos 83 anos, o cineasta Abboud Lahdo aparece sorridente na sala de casa ao saber que mais uma vez dará entrevista para falar da história e as conquistas da família. Ele adora falar do passado. Tem reportagens que contam toda a trajetória dos Lahdo e, principalmente, da Igreja Sirian Ortodoxa São Jorge, localizada na Rua 14 de Julho, que foi fundada e construída por seu pai.

“Nosso pai, Elias Lahdo, tinha um sonho de construir igrejas e orfanatos, por isso, constituiu a 1ª Sociedade Beneficente Sirian Ortodoxa São Jorge. Era para ser uma igreja que beneficiasse o povo. À época, quando ele movimentou a cidade, ganhou apoio das pessoas, mas ao longo dos anos isso se perdeu”, diz ele.

Localizada na Rua 14 de Julho. (Foto: Henrique Kawaminami)
Localizada na Rua 14 de Julho. (Foto: Henrique Kawaminami)
Foi idealizada pelo sírio Elias Lahdo. (Foto: Henrique Kawaminami)
Foi idealizada pelo sírio Elias Lahdo. (Foto: Henrique Kawaminami)
Um projeto imponente que nasceu através do sonho de Elias Lahdo. (Foto: Henrique Kawaminami)
Um projeto imponente que nasceu através do sonho de Elias Lahdo. (Foto: Henrique Kawaminami)

Os papéis mostram no total seis nomes conhecidos e dispostos a fazer parte do sonho de Elias, o presidente. José Chacha aparece como vice, Carmo Jabour como primeiro tesoureiro, Abboud foi primeiro secretário, Toufic Melke era membro e Jamil Nachif o conselheiro.

Todos, segundo o cineasta, lutaram para a construção da igreja, mas nada comparado as dificuldades o pai vivenciou durante os 10 anos de construção que envolveu a família em inúmeras dívidas, algumas, que chegaram a ser cobradas na porta de casa.

Ele faz questão de mostrar um dos recibos de quando o pai recebeu uma Mercedes, modelo 1960, adquirida para ser rifada em prol da igreja. “Mas a pessoa que entregou o carro ao meu pai assinou o recibo, pegou uma nota promissória e entregou a um agiota conhecido na cidade naquela época, que colocou seus cobradores na porta do nosso hotel. Foi muito difícil, tivemos que tirar dinheiro de onde não tinha para pagar o veículo que ainda não tinha sido rifado. Foram quatro anos para conseguir vender o tal carro”, recorda.

Mas nada tirou Elias do foco de construir a igreja. Em 1964, uma solenidade e missa marcou a entrega do terreno adquirido na Rua 14 de Julho. “O comendador Michel Nasser foi quem doou a pedra brita para construção e o prefeito Mendes Canale também esteve presente. Pouco tempo depois comemoramos um novo terreno que seria voltado para um orfanato e um colégio”.

Elias ao lado de pessoas que trabalhavam sem remuneração na construção do prédio.
Elias ao lado de pessoas que trabalhavam sem remuneração na construção do prédio.
Elias Lahdo, também dono do hotel Semíramis. (Foto: Arquivo Pessoal)
Elias Lahdo, também dono do hotel Semíramis. (Foto: Arquivo Pessoal)
Elias ao lado do patriarca Ignatios Jacob Terceiro e o bispo de Nova Iorque, Atanacios Yeshuh Samuel, durante visita à igreja.
Elias ao lado do patriarca Ignatios Jacob Terceiro e o bispo de Nova Iorque, Atanacios Yeshuh Samuel, durante visita à igreja.

As fotografias mostram um evento cheio no terreno que contou com a presença de irmãs do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora e autoridades eclesiásticas. Outra foto exibe Elias ao lado do patriarca Ignatios Jacob Terceiro e o bispo de Nova Iorque, Atanacios Yeshuh Samuel, responsável pelos manuscritos da Bíblia escritos no aramaico antigo e adquiridos de beduínos do deserto.

Os trabalhadores na construção eram voluntários. A planta entregue à prefeito foi assinada pelo engenheiro Annes Salim Saad que trabalhou durante dois meses no projeto, sendo substituído pelo engenheiro Gibran do Carmo Jabour.

Tudo ia bem até que um desgosto, segundo Abboud, colocou fim ao trabalho do pai que nunca inaugurou a igreja criada por ele. “Pessoas que não vou citar os nomes queriam lucrar com a igreja, como se lucra hoje onde vendem-se casamentos, batismos e outros eventos por atacado. Igreja não é comércio e meu pai nunca quis que ela fosse dessa forma”.

O filho lembra que o trabalho humanitário nasceu dentro de casa, quando Elias e a esposa eram donos de um hotel na Rua 14 de Julho, chamado Semíramis com fachada pintada por Abboud. “Tinha um quarto com vários beliches, naquele tempo minha mãe já abrigava crianças que eram sozinhas. Muitas crianças dormiram por lá, por isso a ideia era ter um orfanato digno”.

Abboud não recorda o ano, mas lembra-se que o pai faleceu sem ter inaugurado sua grande missão, mas orgulhoso pela iniciativa. “Nosso pai era um homem incansável, batalhador e persistente. Sempre demonstrou muito amor a Deus”, finaliza o cineasta.

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Igreja levou 10 anos para ser construída. (Foto: Henrique Kawaminami)
Igreja levou 10 anos para ser construída. (Foto: Henrique Kawaminami)
Seus detalhes curvados chamam atenção na fachada. (Foto: Henrique Kawaminami)
Seus detalhes curvados chamam atenção na fachada. (Foto: Henrique Kawaminami)
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