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Arquitetura

Casa de madeira dos anos 50 é tesouro de família na região mais cara da cidade

Thailla Torres | 03/02/2017 06:05
Numa área de 960m², casa é escondida entre verde, em uma das regiões mais valorizadas da cidade. (Foto: Alcides Neto)
Numa área de 960m², casa é escondida entre verde, em uma das regiões mais valorizadas da cidade. (Foto: Alcides Neto)

A casa é protegida por muros e cerca elétrica. Um portão pequeno, com grade azul, revela a arquitetura antiga ainda de madeira, que destoa do bairro repleto de alvenaria e lojas de grife. A casa resiste ao tempo e as mudanças na Rua Manoel Inácio de Souza, em região nobre, quase na esquina de uma das ruas mais valorizadas da cidade, a Euclides da Cunha. Mas para quem vive sob o teto há mais de 60 anos, qualquer mudança não tem sentido.

"Eu nasci aqui dentro, ela já existia por conta do meu pai", diz Vanda Alves Lorentz, de 62 anos. A residência foi erguida há 66 anos pelo pai dela, para abrigar ele, a esposa e os 11 filhos. "São oito homens e três mulheres. Como era muito filho, ele precisava de uma casa grande, então foi e fez essa daqui. Depois, aumentou um poquinho para caber todo mundo", narra Vanda.

Dona Isaura aos 97 anos, na casa onde viveu maior parte do parte do tempo ao lado da família.
Dona Isaura aos 97 anos, na casa onde viveu maior parte do parte do tempo ao lado da família.

Única dentre os filhos que ainda permanece na casa, Vanda cuida da mãe de 97 anos de vida.

Ainda do portão, é possível escutar o barulho da bengala de dona Isaura Alves Lorentz, batendo no chão enquanto conversa com os cachorros. Quando percebe a visita, maravilhoso é o riso de quem gosta de conversar, mas que por conta da idade, tem poucas lembranças. "Onde você mora? Como é o nome do seu pai e da sua mãe?", pergunta Isaura, logo de saída.

Os questionamentos se repetem, enquanto ela acompanha a filha nas recordações da família. "É a idade, tem dias que ela se lembra de tanta coisa bonita. Mas tem dia que esquece tudo, mas ela adora conversar", justifica a filha.

A casa foi um sonho do pai Otávio Rosa Laurentz, que faleceu há 21 anos. Natural de Campo Grande, mas com família no Rio Grande do Sul, "ele tinha um jeito de gaúcho", diz a filha.

Casado com Isaura, foi ferroviário na antiga Estação Noroeste do Brasil e escolheu o terreno no Jardim dos Estados quando o bairro ainda tinha enormes pés de manga e plantação de guavira.

"Meu parentes eram todos dessa região. Muita gente passava nessa rua, que tinha plantação de guavira, aí meu pai achou esse terreno e resolveu ficar de uma vez aqui".

Vanda observa detalhes da sala que parecem intactos desde a construção.
Vanda observa detalhes da sala que parecem intactos desde a construção.
Detalhe da cozinha com utensílios antigos.
Detalhe da cozinha com utensílios antigos.

Vanda diz que a casa foi erguida pelo pai e um amigo chamado Edmundo. "Era marceneiro e carpinteiro profissional". Surgiu com tanto capricho, que apesar da casa ser velha, nem de longe parece estar caindo aos pedaços. "Meu pai era muito cuidadoso. Pode ver, a madeira é toda certinha e não é aquela casa torta. Lá no sul, tinha muita casa de madeira e acho que ele gostava desse estilo", narra a filha.

Do corredor até a casa, o jardim exibe as plantas bem cuidadas. Entrando pela varanda, a filha conta oito cômodos do imóvel em formato de U. De um lado, quartos dividos que foram usados pelos irmãos e do outro, sala, cozinha e área de serviço. O mobiliário é o mesmo, quase todos em madeira, muito bem guardados.

A pintura do lado de fora tem desgaste por conta do sol e a chuva. Mas dentro, algumas partes ainda mantêm o brilho. Com cortinas de tecido e muitos objetos espalhados pelos cômodos, nota-se o número de relógios em todas as paredes. "Era muita gente dentro de casa para saber a hora", brinca um dos filhos do casal, João Batista Alves Lorentz, de 63 anos, que chega de bicicleta para visitar a mãe.

Do quintal, harmonia é ficar embaixo do pé de abacate faz sombra o dia todo na casa.
Do quintal, harmonia é ficar embaixo do pé de abacate faz sombra o dia todo na casa.

A área de 960m² é rodeada pelas árvores. Na calmaria, Vanda que sempre foi dona de casa, é quem passa os dias a cuidar da mãe. "Dois irmãos moram em Cuiabá, o restante vive aqui em Campo Grande. Mas eu sou a penúltima filha, meus irmãos foram ficando de idade também e eu quis ficar aqui para cuidar dela", diz.

Aos 97 anos, Isaura é avó de 25 e os bisnetos, Vanda disse que não sabe ao certo quantos são, mas tem certeza que o primeiro tataraneto nasceu recentemente. "É muita gente na família, a gente não lembra certinho", ri.

Ao lado da mãe, ela diz que a casa foi o melhor que pode ficar para a família, mesmo diante de tantas propostas de compra.

"Muita gente já tentou comprar. Mas isso daqui não tem dinheiro no mundo que pague. E essa casa é o amor da vida dela, se a gente sair daqui, como é que ela fica? Quando meu pai era vivo, ele nunca quis mudar ou mexer, sempre foi assim do jeito que ele fez e do jeito que ele deixou vai ficar", garante. 

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Do lado de fora, apesar do tempo, madeira está bem conservada. (Foto: Alcides Neto)
Do lado de fora, apesar do tempo, madeira está bem conservada. (Foto: Alcides Neto)
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