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Arquitetura

Com arte do portão à laje, casa de grafiteira guarda 5 mil telas

Na casa da grafiteira Marilena Grolli, a arte está por toda parte, da antena à decoração da cozinha

Jéssica Fernandes | 03/07/2023 06:55
Na Vila Nasser, lar da artista Marilena Grolli é conhecido pela vizinhança. (Foto: Marcos Maluf)
Na Vila Nasser, lar da artista Marilena Grolli é conhecido pela vizinhança. (Foto: Marcos Maluf)

A casa da grafiteira Marilena Grolli, de 50 anos, exala arte em todos os cantos, desde os muros aos quadros espalhados nas paredes. Na Vila Nasser, assim como em outras regiões de Campo Grande, a artista plástica deixou seu rastro artístico através de figuras animalescas e humanas.

O contato com a arte dela e de outros artistas surge do portão de entrada, que tem o grandioso desenho do tucano de olhos azuis. É só pôr os pés na varanda para entender que são pouquíssimos os espaços lisos e brancos que Marilena deixou livre de graffiti, ilustrações, esculturas ou tinta.

Na residência, a artista conta que guarda na laje cerca de cinco mil pinturas em tela. “Eu deixo a produção basicamente toda na laje, aí desço só algumas que estou mexendo, então tem várias obras aqui embaixo”, conta.

Grafiteira há mais de 30 anos, Marilena Grolli começou a desenhar na infância. (Foto: Marcos Maluf)
Grafiteira há mais de 30 anos, Marilena Grolli começou a desenhar na infância. (Foto: Marcos Maluf)

A conversa começa assim e em seguida Marilena fala sobre o início no grafite, que não foi a primeira arte que testou no caminho como artista. “Eu grafito há mais de 30 anos e comecei primeiro com as artes visuais pintando tela, mas meus primeiros murais foram em São Paulo. Comecei a grafitar com o grupo de grafiteiros de lá e ainda faço parte de uma agência de artistas”, afirma.

Antes de se formar em Artes Visuais na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), ela viveu os primeiros contatos com a arte através de projetos sociais voltados para teatro, canto e desenho. Primeira artista da família, Marilena começou criança a fazer os desenhos que anos mais tarde se transformariam em grafites.

Marilena encontrou nessa vertente artística a possibilidade de mostrar o trabalho para quem realmente precisava ter acesso à arte. “Sempre gostei de coisas que são ligadas à comunidade, eu sou rueira mesmo, mas o grafite surgiu pela necessidade que eu tinha de ver a obra crescer, de ver ela em grande dimensão e possibilitar que outras pessoas tivessem acesso a minha arte. A arte na galeria, ela fica restrita a determinado público”, comenta.

Na sala, obras da artista estão espalhadas pelas paredes. (Foto: Marcos Maluf)
Na sala, obras da artista estão espalhadas pelas paredes. (Foto: Marcos Maluf)

Na rua, a arte provoca e instiga qualquer um que tenha contato com ela. O grafite transforma a cidade, colore espaços e agrega valor ao que antes não chamava a atenção e nem despertava emoção alguma. Na visão dela, o grafite carrega essas e outras características que são gigantescas.

“O grafite é uma forma de agregar valor. Um muro sem arte é apenas um muro, ele nem sequer é notado. Quando você coloca uma obra de arte você agrega valor e volta o olhar. De alguma forma você consegue estabelecer um diálogo, a força da arte, do grafite é imensa pelo que ela pode causar a outra pessoa”, destaca.

Na trajetória com a arte, Marilena demorou para encontrar o próprio estilo, técnica e identidade, que hoje são conhecidas pelo público. Quem vê os desenhos multicoloridos pelas ruas não imagina que a princípio as produções eram ‘mórbidas’.

Orelha, brinco vazado e mãos cumpridas são algumas das características da arte. (Foto: Marcos Maluf)
Orelha, brinco vazado e mãos cumpridas são algumas das características da arte. (Foto: Marcos Maluf)

A artista plástica relata como foi o processo de experimentação que posteriormente resultou nos conhecidos personagens ‘Os Capengas’. “Esses personagens chegaram um pouco diferentes. Não comecei de cara com ‘Os Capengas’ porque produzo há muito mais tempo. Comecei com uma pintura um pouco mais mórbida. A série ‘Tormentos’ é a primeira que eu considero uma série artística”, diz.

“A orelha, o brinquinho vazado, as próprias mãos, os relevos, o cotovelo e os seios sempre nessa posição como se fossem um mamãozinho. Esses personagens eu criei, então não existem outros no mundo igual”, explica.

Gestora de artes da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, a artista plástica segue produzindo sem pausa. Nos últimos anos, o máximo que conseguiu ficar longe da tinta spray e sem fazer grafite foi uma semana.

No muro do vizinho, Marilena grafitou figuras que colorem a esquina. (Foto: Marcos Maluf)
No muro do vizinho, Marilena grafitou figuras que colorem a esquina. (Foto: Marcos Maluf)

Como grafiteira atuante na cena e não apenas em eventos específicos, a moradora do Bairro Vila Nasser destaca que nunca resiste ao ímpeto de desenhar. “No meu caso, sou aquela pessoa que quando dá a instiga de grafitar eu saio pedindo muro. Nem sei onde ou como vai ser”, conta.

Além do próprio muro, Marilena grafitou inúmeros pela cidade e o Bairro Vila Nasser também não saiu ileso. Na rua onde mora, o vizinho ganhou a autêntica obra-prima Grolli, assim como um outro numa quadra próxima e na fachada do poliesportivo da vila.

Ela fala que no bairro, onde mora há 23 anos, a residência é conhecida e que o trabalho artístico não passou despercebido pelos vizinhos. “Aqui já é ponto de referência, aqui é a casa dos grafites. Eu sou conhecida como a artista do bairro, o pessoal já sabe que é aqui”, conta.

Latas spray são alguns dos elementos encontrados no ateliê da artista. (Foto: Marcos Maluf)
Latas spray são alguns dos elementos encontrados no ateliê da artista. (Foto: Marcos Maluf)

Com grafites espalhados por Campo Grande, São Paulo e outras regiões do País, Marilena levou sua arte para o México quando foi uma das 17 artistas convidadas para participar do Festival Internacional Board Dripper. Na ocasião, ela era uma das três artistas participantes ao lado de uma chinesa e uma francesa.

Em casa, ela guarda duas recordações dessa primeira viagem internacional a trabalho. Na cozinha, sala e corredor que dá acesso aos quartos e ao ateliê onde trabalha, as paredes estão ocupadas por quadros, sendo um deles um retrato dado de presente por outra artista.

O ateliê reflete a bagunça que ela diz gostar. Latas de spray, pincéis, quadros de amigos, quadros autorais compõem o ambiente. Na mesa, a grafiteira mostra algumas dos desenhos feitos em papéis e a nova experimentação com resina, que em breve devem chegar às feiras.

No espaço de lazer tem mais de 10 grafites assinados por outros artistas. (Foto: Marcos Maluf)
No espaço de lazer tem mais de 10 grafites assinados por outros artistas. (Foto: Marcos Maluf)

Dando um passeio pela casa, a grafiteira mostra a área de lazer com piscina onde foram grafitados 12 desenhos diferentes por amigos que também são artistas, sendo alguns deles Kim Matos, Bruno Rodrigues, Dicesarlove, Ladys e Gejo O Maldito.

Fazendo o caminho de volta para a entrada é possível ver um dos ‘Os Capengas’ desenhados na antena, um imenso quadro grafitado com a figura de uma ave e outro de tamanho menor com a imagem de uma mulher segurando uma Coca-Cola.

Todos esses são resultado da criatividade e talento da grafiteira, que também cedeu parte do muro para que outra artista desenhasse com tinta alguns ramos de árvores.

A casa, assim como a dona, vivem na pele a arte que provoca quem passa na rua ou tem a sorte de conhecer o interior desse universo artístico da Marilena Grolli.

Confira a galeria de imagens:

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