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Arquitetura

Edifício da década de 50 é a melhor “encrenca” da professora Marlene

A moradora antiga do sobradinho simpático, na Rua Barão de Melgaço, fala da beleza que é viver na história da cidade

Thailla Torres | 15/03/2019 08:22
Dona Marlene se diz apaixonada pelo edifício, que apesar do tempo, traz calma aos moradores. (Foto: Marina Pacheco)
Dona Marlene se diz apaixonada pelo edifício, que apesar do tempo, traz calma aos moradores. (Foto: Marina Pacheco)

A fachada é antiga, não fosse à grade nova entre a porta e a calçada, o prédio antigo da Rua Barão de Melgaço faria muito pedestre ou motorista voltar no tempo. Fachada simpática e letreiro de ferro que parece nunca ter saído do lugar indicam que o Edifício Arlinda tem história para contar.

A mulher que deu nome ao prédio, chamado pelos atuais moradores de sobradinho, não vive mais. Seu nome foi parar na fachada por Francisco Serra, ex-dono do cartório 1° ofício que, na década 50, decidiu construir o prédio e homenagear a esposa. “Realmente foi um dos primeiros sobradinhos no Centro de Campo Grande. Eu era pequena e esse edifício já existia. Não sei muito de toda a história, mas ele construiu e colocou o nome da minha bisavó. Enquanto viveram moraram naquelas casas ao lado”, conta Tânia Faria, de 62 anos, bisneta de Francisco que compartilhou um trecho da história do edifício. 

Ao mostrar o jornal, ela conta a história como professora durante 27 anos. (Foto: Marina Pacheco)
Ao mostrar o jornal, ela conta a história como professora durante 27 anos. (Foto: Marina Pacheco)

Hoje, ao bater palmas por vários minutos na porta do edifício, encontramos a professora Marlene Lemes de Sousa, de 70 anos, moradora mais antiga do prédio e proprietária do edifício junto com a família. “Chegamos aqui em 1975. Hoje é um prédio que pertence a uma única família, mas temos dois inquilinos no andar de cima”, diz.

Na fachada do edifício onde cerca de 10 pessoas ainda vive, a preservação é o que mais chama atenção para o tempo que passou. “A gente cuida porque ele merece, faz parte das épocas remotas de Campo Grande”.

A mulher, de muitas palavras, se identifica com uma das primeiras professoras da Escola Estadual Joaquim Murtinho, onde lecionou durante 27 anos e ainda considera sua segunda casa. Aposentada, hoje ela se dedica ao edifício e também a religião espírita que traz à moradora resposta sobre o lugar em que vive. “Porque vim morar aqui? Sou da reencarnação, eu acredito que temos o lar, a vida e a família que merecemos. É a lei de causa e efeito”.

Mesmo sem saber da história de Arlinda, dona Marlene não a desconsidera. “Por mais que não a conhecemos, talvez ela seja uma ascendente nossa, tenho carinho por ela e pela história que ficaram nessas paredes”.

Fachada é preservada com letreiro de ferro que nunca saiu do lugar. (Foto: Marina Pacheco)
Fachada é preservada com letreiro de ferro que nunca saiu do lugar. (Foto: Marina Pacheco)

Sorridente e ali mesmo no portão de entrada ela compartilha das delícias de se viver em um prédio construído, aproximadamente, na década de 1950. “É uma encrenca deliciosa. Eu brinco assim porque ele tem muitos problemas, como tudo que avança idade, mas ele é maravilhoso, e não conseguimos mais viver fora”, diz.

Na fachada cor salmão a única modificação foi a pintura nova e a colocação de um portão de ferro, para garantir a segurança. Mas o tamanho dos ambientes, por exemplo, continua sendo uma grande vantagem para a moradora. “Não são como os apartamentos atuais. Temos espaço”, diz a moradora.

Os desafios ela também não esconde. “O encanamento ainda é de ferro, quando ele enferruja e fura, não importa o que você queira, é preciso quebrar a parede de cima em baixo para arrumar. Nessa quadra já teve muito cupim. Mas nós temos que dar conta do recado”.

Na despedida, o recado é também uma certeza na vida da moradora. “Daqui eu não saio, daqui ninguém me tira”, ri.

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Entre as árvores quase não dá para ver a fachada, mas é só chegar perto para sentir a simpatia do lugar. (Foto: Marina Pacheco)
Entre as árvores quase não dá para ver a fachada, mas é só chegar perto para sentir a simpatia do lugar. (Foto: Marina Pacheco)
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