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Arquitetura

Família mobilia a casa com objetos encontrados no lixo do presídio

Ângela Kempfer | 21/11/2013 06:51
TV e dois ventiladores descartados pelos presos.
TV e dois ventiladores descartados pelos presos.

Na porta do Instituto Penal de Campo Grande, nem a chuva afasta Wesley do lixo. No amontoado de sacos plásticos pretos, ele tem a permissão para mexer apenas na parte sem material orgânico. Ali, o rapaz de 24 anos faz a festa. “Já encontrei uma TV, um DVD, ventilador e até fogão”, conta entusiasmado.

A duas quadras do presídio, em um dos tantos terrenos baldios da região, ele improvisou um teto para a esposa e a filha Vitória. O barraco, feito de placas de compensado e restos de fórmica, é dividido em quarto e cozinha.

Sobre o fogão, a mulher mostra as cinco panelas que também vieram do lixo do presídio, dois banquinhos de madeira e um pufe. “É coisa boa. Tem também esses fogões elétricos (2) e ali naquele balcão, mais um monte de panela e copos de plástico que os presos não querem mais e jogam no lixo”, diz a companheira de Wesley.

No único quarto, lá está a TV de 14 polegadas que certo dia foi descartada por algum preso do Instituto Penal, apesar de ainda funcionar muito bem. Ao lado, o aparelho de DVD que já esteve em uma das celas, também serve à diversão da família. “Lá no presídio, o cara nem manda arrumar nada, quando dá problema, joga fora. Hoje em dia é assim em toda casa”, avalia Wesley.

Wesley separa o que ainda presta no lixo.
Wesley separa o que ainda presta no lixo.

A energia é na base da gambiarra, mas assegura dias de temperatura mais amena, graças aos 2 ventiladores encontrados no lixo. “A gente acha coisas em todo o canto, onde a gente menos imagina”, diz o catador que sobrevive graças ao metal que recolhe nos lixos da cidade e também de bicos como pedreiro.

Durante a conversa, ele comenta que muito do material encontrado no Complexo Penitenciário de Campo Grande é resultado de pente fino, operações feitas pelos agentes para retirar das celas produtos proibidos, principalmente, os feitos artesanalmente.

O rapaz mostra um ventilador improvisado e revela. “Isso daqui é artesanal, não pode. Tem muitos fios que servem para dar choque nos outros”. A malandragem da prisão veio com a experiência lá dentro. Wesley saiu há 6 meses, depois de cumprir pena por tentativa de homicídio e tráfico. “O mais sério é que tentei matar um cara aí, mas ele só ficou aleijado”, comenta.

O irmão ainda está preso por tráfico e assalto, mas o padrasto foi o recordista de pena na família. “Ele é PM, mas ficou aí 12 anos por homicídio, extorsão e estelionato”, conta o enteado.

Ao sair da prisão, Wesley resolveu continuar na região onde esteve boa parte da vida ao lado da mãe, que se mudou para o Noroeste para poder visitar o marido no Presídio Militar.

Agora, ele e a esposa criam a filha Vitória, de 2 anos, em um barraco sob grandes árvores e com vários elementos que podem até ganhar outro status aos olhos de uma criança que não conhece outra vida. Ao fundo, há um grande campo de futebol e em dias de chuva, a rua vira cachoeira, graças a cratera aberta e ignorada pelo poder público.

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