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Arquitetura

Muro e paineira encantam Ronilson, que sabe dar valor à arquitetura de onde vive

A vida simples perto dos trilhos e o amor do pai pela natureza ditaram os detalhes de uma casa curiosa no Cabreúva

Thailla Torres | 18/01/2019 09:13
Além da árvore majestosa, portão de madeira e muro nada convencional chamam atenção. (Foto: Marina Pacheco)
Além da árvore majestosa, portão de madeira e muro nada convencional chamam atenção. (Foto: Marina Pacheco)

Na avenida de tráfego rápido, só quem tem o olhar ligeiro percebe que uma casa de esquina, no Bairro Cabreúva, não é nada convencional. Além de uma árvore marcante e majestosa, há um portal de entrada e portão de madeira, com muro desenhado à mão e vidros coloridos para uma recepção personalizada.

Na sequência, um pequeno portão de madeira leva ao jardim, tomado pelo verde das plantas, com detalhes em amarelo por causa das flores de acácia. Pelo chão, é fácil encontrar mudas de plantas em vasos e embalagens reaproveitadas, além de árvores frutíferas, como jabuticaba, ata, café e até um achachairu, árvore nativa da Bolívia e com fruto saborosíssimo, garante o dono. "Tem gente que faz até sorvete, é muito conhecida também na Selva Amazônica", diz Ronilson Escalante Ribeiro, de 64 anos.

Ronilson mostra detalhes do quintal, seu maior orgulho. (Foto: Marina Pacheco)
Ronilson mostra detalhes do quintal, seu maior orgulho. (Foto: Marina Pacheco)
Portão diferente que desperta a curiosidade.  (Foto: Marina Pacheco)
Portão diferente que desperta a curiosidade. (Foto: Marina Pacheco)

Dono de um quintal vivo, foi justamente o apego com a natureza que trouxe liberdade para ele criar. Marceneiro há décadas, ele diz que reaproveita até as árvores que caem, mas não deixa de plantar para que a natureza se renove. "Sem o verde a gente não é nada, então a gente cuida das plantas", explica Ronilson, dando crédito ao pai. "Meu pai gostava muito de plantas. Foi ele que nos ensinou a cuidar da natureza. Essa paineira aí da frente foi ele quem plantou".

A árvore tem aproximadamente 35 anos, mas quando Ronilson chegou ao imóvel, em 1964, o visual era bem diferente. "Nós chegamos por aqui ó", diz apontando para a rua que um dia abrigou os trilhos. "Aqui não tinha nada. Mas até hoje é um pedaço interessante porque tem muita gente antiga".

Filho de pai brasileiro e mãe boliviana, Ronilson chegou ao bairro na companhia dos pais e os cinco irmãos. Do tempo do trem e do matagal, ficaram lembranças da correria quando o fogo começava no dormente dos trilhos. "A gente corria com balde d'água para ajudar a apagar o fogo. Era tanta adrenalina que ficava até divertido", recorda.

O tempo passou, o bairro cresceu e, a alvenaria tomou conta de quase todos os terrenos, mas a casa de Ronilson permaneceu diferente, com quintal fresquinho tomado de árvores, iluminado e com uma identidade afetiva e pessoal.

No quintal é fácil encontrar uma variedade de mudas.  (Foto: Marina Pacheco)
No quintal é fácil encontrar uma variedade de mudas. (Foto: Marina Pacheco)
Objetos reaproveitados para abrigar as plantas.  (Foto: Marina Pacheco)
Objetos reaproveitados para abrigar as plantas. (Foto: Marina Pacheco)
Planta que resistiu em marcenaria sem teto.  (Foto: Marina Pacheco)
Planta que resistiu em marcenaria sem teto. (Foto: Marina Pacheco)

Para criar o muro e um portal de entrada diferentes, Ronilson voltou aos tempos de infância e buscou referências na vida simples. Hoje, faz de sua caminhada na região do Cabreúva, um exercício de observação para o que é arquitetura. "A arquitetura que a gente vê hoje em dia é muito reta, mas aqui ninguém é condicionado, isso acontece porque as vezes a gente não se encaixa. Mas eu chamo isso daqui de arquitetura do acaso, ela vai acontecendo se você deixa ela acontecer", diz mostrando detalhes do muro faz muita gente questionar o que há de especial na casa.

Tudo por ali é assim, simples, mas curioso, inclusive, a cobertura da marcenaria que não existe mais porque o pé de abacate caiu. Mesmo assim Ronilson preferiu não refazer o telhado. "Pra quê refazer se a gente pode ser diferente?", brinca.

Tudo o que faz é pela criatividade e intuição. E o tempo vivendo no bairro ajuda a dar ainda mais significado a casa simples, cheia de detalhes que provam sua essência e o amor de Ronilson pelo quintal. "Não pensamos em vender, mas se fosse eu cobraria por cada pé de árvore, elas são bem mais importantes pra mim", diz o dono todo sorridente e com uma simplicidade que caberia até um trecho da poesia de Manoel de Barros para seu quintal.

"Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:"

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Ronilson faz de sua caminhada uma observação sobre o que é arquitetura. (Foto: Marina Pacheco)
Ronilson faz de sua caminhada uma observação sobre o que é arquitetura. (Foto: Marina Pacheco)
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