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Arquitetura

No São Francisco, casa de madeira é recanto onde Darcy deu à luz o filho caçula

Thailla Torres | 31/08/2017 06:06
"Meu recanto é maior que o mundo", diz dona Darcy que vive no São Francisco há 70 anos
"Meu recanto é maior que o mundo", diz dona Darcy que vive no São Francisco há 70 anos

Não há timidez que impeça Darcy de falar da casinha de madeira onde vive. Quando arrisca parafrasear um poeta, a voz soa nitidamente como um convite para que o visitante se achegue no sofá colorido que é visto do portão. "Meu recanto é maior que o mundo", diz cheia de sorrisos.

De longe a residência impressiona pelo cuidado aos detalhes. Ali, Darcy Ribeiro da Silva, de 70 anos, cultiva tudo o que precisa desde que nasceu, ao lado de vizinhos que preservam a mesma raiz.

O lugar foi erguido aos poucos quando ela morava com os filhos e o marido no terreno ao lado que pertencia a mãe. "A gente comprou essa daqui há 45 anos, mas antes eu morava em outra também de madeira com a mamãe", conta.

Essa é Darcy Ribeiro, feliz e apaixonada por sua casa de madeira. (Foto: Thailla Torres)
Essa é Darcy Ribeiro, feliz e apaixonada por sua casa de madeira. (Foto: Thailla Torres)

No São Francisco desde que nasceu, ela conta da casa como quem fala de um xodó. "Essa minha casinha é maravilhosa, amo tanto. Digo que se eu um dia eu ganhar na mega-sena, só vou conseguir ajeitar, mas sempre continuará de madeira", diz orgulhosa.

Comprada em fevereiro de 1972, meses depois a residência ganhou um significado especial na vida de Darcy que deu à luz o filho caçula no quarto pequeno e bem cuidado até hoje. "Oswaldo, meu pequeno, nasceu bem ali. Lembro que foi naturalmente, sem nenhum sofrimento", recorda do bebê que veio ao mundo todo saudável e pesando 4,6 kg.

E olha que nem calor e frio é motivo para desistir da casinha que ela encara no bom humor os detalhes que nunca chamou de defeito. "Tem gente que reclama porque faz muito calor aqui dentro. Mas no frio é a mesma coisa e a gente sente o vento pelas frestas da madeira. Eu brinco que são meus ventiladores naturais", sorri.

Da estrutura, ela só tem elogios já que a casa é bem cuidada e com a pintura em dia. "Gosto de espalhar meus mimos como flores e borboletas de decoração", diz mostrando os 6 cômodos que estão sempre arrumados de um jeito impecável. "Por isso todo mundo que entra aqui lembra um pouquinho da infância", acredita.

O quarto onde nasceu o filho caçula. (Foto: Thailla Torres)
O quarto onde nasceu o filho caçula. (Foto: Thailla Torres)
Móvel retrô tem a idade do filho, (Foto: Thailla Torres)
Móvel retrô tem a idade do filho, (Foto: Thailla Torres)
Cozinha está sempre impecável. (Foto: Thailla Torres)
Cozinha está sempre impecável. (Foto: Thailla Torres)

Darcy é a mais velha de 15 irmãos, mas a única que prefere não se render à alvenaria, e olha que não falta insistência. "Todo mundo me questiona porque eu não vou derrubando aos poucos para construir algo mais firme. Mas firme porque se ela nunca caiu?", questiona.

Vivendo na região desde que nasceu, também nunca faltou tremedeira com a passagem do trem nos trilhos ao lado. "A casa até balançava quando o trem passava. Eu adorava dar tchau para os passageiros. Mas me acostumei tanto que as vezes eu nem sentia mais quando ele chegava perto", recorda.

Além do afeto material, as lembranças com o bairro é outro motivo que faz Darcy continuar no mesmo lugar. "É como se eu não me sentisse bem em outro cantinho. Essa casa é meu canto. Só nesse bairro eu tenho 70 anos de vida e presenciei muita coisa, até a mudança de nomes", conta sobre a região que foi conhecida como Cascudo, Vila Ferroviária e São Francisco.

De tão especial, Darcy já emprestou a casa até para locação de um filme que ela não se recorda o nome. "Vieram aqui, conversaram e filmaram, mas nunca ninguém voltou para me mostrar. Mas não tem problema, fico feliz em estar sempre de portas abertas", diz.

A casinha é o amor de Darcy e se alguém pergunta sobre o futuro, ela nem pensa para responder. "Quero viver nessa casa até o último dia da minha vida. Espero que todos deixem", finaliza.

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Até nos dias de calor, dona Darcy aproveita o sofá florido que dá para ver da rua. (Foto: Thailla Torres)
Até nos dias de calor, dona Darcy aproveita o sofá florido que dá para ver da rua. (Foto: Thailla Torres)
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