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Arquitetura

Reforma da Esplanada? Capital tem R$ 800 mil para criar projeto

Complexo Ferroviário foi o único patrimônio cultural selecionado de MS para receber verba federal

Por Aletheya Alves | 22/03/2024 06:43
Armazém Cultural fica localizado na Esplanada Ferroviária. (Foto: Arquivo/Paulo Francis)
Armazém Cultural fica localizado na Esplanada Ferroviária. (Foto: Arquivo/Paulo Francis)

Apesar do Complexo Ferroviário de Campo Grande ser uma das regiões mais importantes da cidade, o abandono da Rotunda, além da falta de projetos para restaurar os prédios e a área da Esplanada são reclamações que persistem há anos. Agora, a novidade é que a Capital foi a única cidade do Estado a ser contemplada pelo novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) Seleções na área de patrimônio cultural e recebeu R$ 800 mil de verba federal para criar um projeto que mude a narrativa.

No início do mês, o Governo Federal divulgou a lista com 105 novas ações de restauração do Patrimônio Cultural aprovadas e o Complexo Ferroviário estava incluso. Mas, até agora, os órgãos envolvidos no projeto não haviam divulgado detalhes sobre o investimento em Campo Grande.

Em conjunto à Sectur (Secretaria Municipal de Cultura e Turismo), o Iphan/MS (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) está empenhado no desenvolvimento das ações. Por isso, o superintendente do órgão e arquiteto, João Santos, explicou ao Lado B o que essa verba significa na prática.

“O Pac Seleções na área do patrimônio cultural ficou restrito à contratação de projetos de arquitetura e engenharia. Então, nesse primeiro momento, ainda não haverá obras. O que temos hoje é a aprovação de R$ 800 mil para contratação dos projetos em nível executivo para o Complexo Ferroviário. O que precisamos fazer agora é delimitar o que será abordado pelo projeto, o que a gente quer na área e como queremos tratar”, diz o superintendente.

Rotunda era utilizada como oficina e integra o Complexo Ferroviário. (Foto: Arquivo/Paulo Francis) 
Rotunda era utilizada como oficina e integra o Complexo Ferroviário. (Foto: Arquivo/Paulo Francis)
Espaço perdeu parte de sua estrutura com o passar do tempo. (Foto: Arquivo/Paulo Francis)
Espaço perdeu parte de sua estrutura com o passar do tempo. (Foto: Arquivo/Paulo Francis)

Contextualizando qual é o atual cenário envolvendo o tema, o superintendente explica que apesar de ainda não haver um recorte específico de quais áreas e quais edifícios serão abrangidos pelo projeto, há pontos que estão em concordância entre a prefeitura e o Iphan.

“Nós precisamos resolver os problemas que já se arrastam há alguns anos como a necessidade de um projeto que seja adequado para o conjunto da rotunda, para que o parque da esplanada (espaço em que há os trilhos ao lado do armazém e plataforma cultural) seja devolvido para uso da comunidade. E, como uma grande vontade do Iphan, precisamos pensar na requalificação urbanística da Esplanada Ferroviária”, descreve o representante do Iphan/MS.

Ainda sobre a Esplanada, João relata que é necessário pensar sobre a área das ruas e das calçadas, incluindo um tratamento paisagístico com arborização, inserção de lixeiras, bancos e acessibilidade. “No fim das contas, é muita vontade e o dinheiro não é tão grande assim. Então, vamos precisar ajustar todas essas vontades com a Sectur e técnicos do Iphan para adequarmos”.

Além de Campo Grande, cidades como Miranda e Corumbá também submeteram projetos para o PAC Seleções, mas como dito anteriormente, não apenas a Capital foi contemplada.

João detalha que o projeto enviado ao Governo Federal foi escrito pela Prefeitura de Campo Grande, através da Sectur (Secretaria Municipal de Cultura e Turismo), com apoio do Iphan-MS. E, como próximos passos, a ideia é que as duas instituições continuem agindo em conjunto.

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Tudo isso pode parecer pouco por ser uma etapa de projetos, mas para acontecer de fato, é necessário que exista um projeto. Nós não vemos isso como algo superficial ou com importância menor. Não é só um projeto, é o projeto, defende o arquiteto.

Com a verba federal, será desenvolvido um plano com projetos de base arquitetônica, executivo e de planilha orçamentária que dará condições para elaborar uma futura licitação.

Ao ver a seleção de Campo Grande para a fase de projetos como uma vitória, João comenta que Mato Grosso do Sul já possui uma boa experiência com o PAC. “Falando sobre locais que também foram selecionados para contratação de projetos de arquitetura e engenharia, nossa experiência é de que eles são contemplados com a obra”.

De acordo com João, locais que receberam a verba federal no PAC de 2013 tiveram as obras garantidas com verba federal. “Nossa esperança é a seguinte: vencemos a primeira batalha que é estar entre os selecionados para o projeto e, finalizando esse momento, vamos submeter novamente para a fase de obras. Então, já estamos um passo à frente com o projeto contemplado com o PAC”, diz.

E, além do Iphan e da Sectur unirem forças para delimitar o que será o foco do projeto arquitetônico e de engenharia a ser desenvolvido, o superintendente completa que a bancada federal também precisa se mobilizar para arrecadar recursos complementares tanto nessa fase inicial quanto nas seguintes.

Esplanada Ferroviária tomada por foliões com o bloco Capivara Blasé neste ano. (Foto: Vaca Azul)
Esplanada Ferroviária tomada por foliões com o bloco Capivara Blasé neste ano. (Foto: Vaca Azul)

Mais uma chance

Essa não é a primeira ação envolvendo os espaços do Complexo Ferroviário que ganham a chance de serem emplacadas. Exemplo disso é que em 2020, o Iphan entregou para a Prefeitura de Campo Grande um projeto que apresentava uma reforma na Rotunda.

Como publicado pelo Lado B em 2021 (veja aqui), as imagens divulgadas mostram que o espaço foi repensado para ganhar movimentação da cultura e do turismo. Conforme o projeto, a ideia era manter a estrutura original e criar novas áreas para eventos, exposições, aulas de teatro, músicas e oficinas.

Projeto desenvolvido pelo Ipha foi entregue para a Prefeitura. (Foto: Divulgação/Iphan)
Projeto desenvolvido pelo Ipha foi entregue para a Prefeitura. (Foto: Divulgação/Iphan)

Na requalificação do espaço, haveria quatro edificações, sendo a Rotunda apresentada como a maior. Nela, haveria um teatro com capacidade para 250 lugares, área técnica, espaço para exposições, complexo administrativo, salas multimídias, café com cozinha industrial, cineclube, banheiros, espaço para eventos e uma biblioteca que conservaria o Arquivo Histórico de Campo Grande.

Segundo declaração do Iphan na época, o projeto foi entregue à prefeitura no dia 12 de outubro de 2020 e a etapa de execução da obra estaria a cargo da administração municipal. Questionada sobre o que seria realizado a partir dali, a Prefeitura não respondeu.

Mas, por que o Complexo Ferroviário é tão importante?

Integrando a história de Campo Grande, a Esplanada Ferroviária talvez seja um dos patrimônios culturais mais conhecidos na Capital. Afinal, é nela que o Carnaval com blocos de rua é festejado anualmente, além de shows, apresentações e feiras culturais tomarem o espaço de tempos em tempos.

Mas, a Esplanada está inclusa em um cenário maior e que foi tombado em dezembro de 2009. Conforme o Iphan, o complexo do Conjunto Histórico e Urbanístico da Antiga Estrada de Ferro Noroeste do Brasil possui 22,3 hectares compostos por 135 edifícios e trilhos que ainda resistem.

Para se ter noção da importância da conservação histórica, foi em 1914 que a primeira estação central de Campo Grande realizou sua inauguração e, em 1924, foi ampliada. E é nesse âmbito que outra construção, a Rotunda (acessada a partir do cruzamento entre a rua Eça de Queiroz e 14 de Julho) se insere.

Registro da Estação Ferroviária de Campo Grande em 1940. (Foto: Arquivo Iphan).
Registro da Estação Ferroviária de Campo Grande em 1940. (Foto: Arquivo Iphan).

“Entre as edificações, destaca-se a rotunda de manutenção, construção semicircular, de 1951, com 110 metros de diâmetro, que continha oficinas, área de lavagem e depósito de peças, com amplas e imponentes coberturas”, descreve informativo do Iphan.

Voltando para o início da narrativa, conforme material de divulgação do Instituto, desde o Segundo Império, no século XIX, já existia uma discussão para construir uma ligação férrea entre o então Mato Grosso e o litoral brasileiro. “Durante a Guerra da Tríplice Aliança, a falta de meios de transporte na região ficou evidente quando o primeiro contingente brasileiro enviado para as trincheiras demorou 8 meses para percorrer os dois mil quilômetros entre a Capital do Império e a vila de Coxim, na então província do Mato Grosso”.

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