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Arquitetura

Sino ainda toca em casa feita por Eudes Costa e com coleção de telefones antigos

Uma casa de 1980 decorada com liberdade e misturas bem rústicas

Thailla Torres | 25/01/2019 08:43
Peças histórias compõem a decoração da casa, que foi projetada pelo arquiteto Eudes Costa. (Foto: Henrique Kawaminami)
Peças histórias compõem a decoração da casa, que foi projetada pelo arquiteto Eudes Costa. (Foto: Henrique Kawaminami)

Ninguém fica indiferente ao portão de madeira e sino antigo da fachada. E para tocar a campanhia, só puxando a cordinha. Essa é a casa de uma família, no Vilas Boas, que tem uma mistura interessante de estilo rústico e peças históricas na decoração. A ideia da professora Hedy Jane Bastos Gomes, de 77 anos, era conceber um chalé simples, longe do estilo contemporâneo. Mas se viu dentro de uma estrutura maior do que havia sonhado. Mesmo assim, nenhum detalhe perdeu o seu encanto.

Acostumada com o barulhinho do sino que nos leva ao passado, Jane, como prefere ser chamada, abre as portas, carinhosamente, ao lado da filha e professora Ana Paula Gomes, de 50 anos.  Juntas, contam a história da casa que, desde 1980, desperta curiosidade. "Essa casa é um projeto do arquiteto Eudes Costa, mas a ideia era fazer um chalé inspirado em construções dos anos 80, na região do Itanhangá. Mas, não sei dizer porque, ele acabou projetando nesse estilo", conta Jane.

Para tocar a campanhia basta puxar a cordinha e escutar o sino. (Foto: Thailla Torres)
Para tocar a campanhia basta puxar a cordinha e escutar o sino. (Foto: Thailla Torres)
Ao olhar do lado de fora, ninguém imagina os detalhes e as histórias dessa casa. (Foto: Henrique Kawaminami)
Ao olhar do lado de fora, ninguém imagina os detalhes e as histórias dessa casa. (Foto: Henrique Kawaminami)
O gramado, o orquidário e plantas frutíferas desenham o jardim. (Foto: Henrique Kawaminami)
O gramado, o orquidário e plantas frutíferas desenham o jardim. (Foto: Henrique Kawaminami)

Ao entrar na sala e na parte superior, percebemos detalhes que não são possíveis de visualizar do lado de fora. Na conversa sobre o projeto, Eudes notou que os donos gostavam do estilo rústico, e veio com a ideia do tijolinho à vista que, versátil, foi utilizado em todos os lados da casa.

Como forma econômica de evitar outro tipo de acabamento e manter o estilo rústico, o arquiteto também investiu na laje aparente, que faz qualquer visitante passar minutos olhando curiosamente para o teto. "Em toda casa é com esse acabamento, com exceção dos banheiros que receberam gesso".

O contraste é muito visível, especialmente, com as janelas irregulares que comprometem até hoje o uso de cortinas comuns. "Elas não são quadradas como as janelas tradicionais, a casa toda tem essas entrâncias que não vemos do lado de fora e, por isso, nunca conseguimos colocar cortinas normais, apenas algumas esteiras de palha ali no mezanino", aponta, Ana.

Ao entrar na casa, detalhes da arquitetura que não são vistos do lado de fora surpreendem. (Foto: Henrique Kawaminami)
Ao entrar na casa, detalhes da arquitetura que não são vistos do lado de fora surpreendem. (Foto: Henrique Kawaminami)
O mezanino que as crianças fazem de "Central Perk" para tomar café, bater papo e ficar na internet. (Foto: Henrique Kawaminami)
O mezanino que as crianças fazem de "Central Perk" para tomar café, bater papo e ficar na internet. (Foto: Henrique Kawaminami)
Móveis de madeira, ferro, tijolinhos e laje aparentes
são detalhes diferentes. (Foto: Henrique Kawaminami)
Móveis de madeira, ferro, tijolinhos e laje aparentes são detalhes diferentes. (Foto: Henrique Kawaminami)

Também não seria preciso fechar as cortinas, detalhes e formatos diferentes das janelas e portas encantam, e a luz natural se cruza com o clima aconchegante de quem gosta do estilo. "Na época, Eudes que nos ajudou a escolher este terreno. Também pensou em todos os detalhes técnicos, como localização, altura, posição do sol, para que a casa ficasse confortável e durasse muito tempo", conta Jane lembrando que, além da família, poucas pessoas moravam por ali naquela década. "O bairro ainda chamava Jardim Alegre e a rua Rodolfo José Pinho era toda esburacada", acrescenta.

Cinco mil telefones - Móveis vintage na sala de estar, obras de arte rústicas, uma coleção de telefones antigos, um maleiro, luminária e banco de estrada de ferro: todos esses itens originais se cruzam na decoração e dividem espaço com o mobiliário de madeira maciça, que nunca saiu do lugar por causa do peso.

Os móveis e objetos antigos eram uma paixão para o marido de Jane, o engenheiro Ronaldo de Oliveira Gomes, que partiu aos 74 anos, em 2016. Ele teve uma coleção de 5 mil telefones antigos. "Estava sempre em antiquários comprando algum telefone, era uma paixão dele. Mas depois do falecimento, os netos e sobrinhos escolheram alguns, e o restante vendemos", conta a esposa.

Parte do que restou da coleção de telefones de Ronaldo. (Foto: Henrique Kawaminami)
Parte do que restou da coleção de telefones de Ronaldo. (Foto: Henrique Kawaminami)
Escadaria de aroeira, um pedido de Jane a Eudes. (Foto: Henrique Kawaminami)
Escadaria de aroeira, um pedido de Jane a Eudes. (Foto: Henrique Kawaminami)
Detalhes da entrada com maleiro e banco da estrada de ferro. (Foto: Henrique Kawaminami)
Detalhes da entrada com maleiro e banco da estrada de ferro. (Foto: Henrique Kawaminami)

Ainda que os objetos estivessem desgastados, para Ronaldo não significavam velharias. Ele entendia todas as imperfeições de uma peça como cicatrizes do tempo e, amava, recuperá-las. "Papai tinha 4 contas no Mercado Livre e estava sempre em busca de antiguidades, usava o seu conhecimento elétrico da Engenharia para consertar ou restaurar os objetos", conta Ana.

Com quatro quartos, sala de estar, jantar e cozinha rústica, o mezanino com acesso pela escada de aroeira é ditado pelos netos como o "Central Perk", do seriado Friends. O cantinho, com sofá, café, livros e objetos antigos, virou ponto de encontro da meninada para internet, bate papo e brincadeiras. "É uma casa aconchegante, que recebeu muitas visitas e foi palco de boas comemorações", diz Ana.

A casa tem um clima leve e despreocupado. É um lugar onde os amigos podem chegar e ficar à vontade com a simpatia de Jane, que não tem preguiça em repetir sua história. E apesar do projeto inicial ter permanecido lá na região do Itanhangá, a casa concebida no Vilas Boas hoje é o verdadeiro DNA da família. "Ficou bonita do mesmo jeito. É diferente, rústica, do jeito que eu e Ronaldo sempre gostamos. Fomos muito felizes aqui", finaliza.

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(Essa reportagem foi uma sugestão do nosso amigo e arquiteto Elvio Garabini)

Cozinha com móveis rústicos e coloridos, customizados por Jane. (Foto: Henrique Kawaminami)
Cozinha com móveis rústicos e coloridos, customizados por Jane. (Foto: Henrique Kawaminami)
Detalhes que chamam atenção. (Foto: Henrique Kawaminami)
Detalhes que chamam atenção. (Foto: Henrique Kawaminami)
As peças foram compradas em estradas do Sul. (Foto: Henrique Kawaminami)
As peças foram compradas em estradas do Sul. (Foto: Henrique Kawaminami)
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