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Artes

Ano de urucubaca na Cultura, que perdeu apoio público, mas vingou na raça

Ângela Kempfer | 31/12/2014 06:23
Manoel nos deixou em novembro. (Foto: Vânia Juca)
Manoel nos deixou em novembro. (Foto: Vânia Juca)

A foto que ilustra a matéria representa a nossa maior perda no ano. O poeta foi embora no dia 13 de novembro, pegou o rumo da imortalidade “letral”. Mas a despedida tem sempre dois lados e alguns deles serviram de alento.

O funeral de Manoel de Barros repercutiu mundo afora, reforçando a importância das sutilezas da vida, da simplicidade do texto, da humanidade do que para muitos é apenas “coisa”. Os depoimentos emocionados de fãs e artistas fizeram Mato Grosso do Sul se sentir mais importante, amenizaram a despedida de um homem que “por não conhecer o nome das palavras, batizava a seu gosto”.

Manoel deixou rastro. Além das obras que o colocaram na lista dos mais vendidos do Brasil, para matar a saudade, há textos inéditos dele, garante a família. Outra boa nova é que já no primeiro semestre de 2015 a Alfaguara, selo da editora Objetiva, lança reedições do poeta.

Palhaços e guardas municipais na porta do Paço, durante manifestação pela reabertura, em outubro.
Palhaços e guardas municipais na porta do Paço, durante manifestação pela reabertura, em outubro.

A produção cultural também morreu um pouco em 2014, mas o processo fez surgir o debate. Como as palavras inventadas por Manoel, alguns conceitos até então "desimportantes" ressurgiram fortes.

A polêmica Quinta Gospel popularizou, por exemplo, o termo “estado laico”. Mostrou o quanto o envolvimento entre política e fé pode gerar preconceito. O campo-grandense viu a "tecnomacumba" ser vetada, enquanto a música cristã ganhava cachês nas noites de quinta-feira. As pessoas descobriram na adversidade porque a administração pública deve andar longe das paixões religiosas.

A cidade também ficou mais quieta, ao custo de muitos bares impedidos de colocar música ao vivo para tocar. O bate-boca entre empresários da noite e vizinhos provocou até briga com alto falante como arma, instalado por morador da Rua 7 de Setembro para "devolver na mesma moeda" e perturbar os clientes do bar em frente.

O ano termina com outra batalha daquelas. Depois de décadas, os artistas da cidade resolveram exigir a reabertura do Teatro do Paço, com manifestações periódicas em frente à prefeitura.

A urucubaca da Cultura na cidade em 2014, na verdade, não precisa de explicações complexas. A gestão equivocada levou a um ano sem 3,2 milhões do FMIC (Fundo Municipal de Incentivo à Cultura) e R$ 800 mil do Fomteatro (Programa Municipal de Fomento ao Teatro), sem o 1% do orçamento garantido em lei, sem cachê dos eventos bancados pelo Município, cancelados por falta de verba.

Mas foi bonito ver o povo do audiovisual produzindo, mesmo que de forma independente e sem grandes plateias. Tivemos 4 festivais nos últimos 2 meses: o 22º Mix Brasil da Cultura da Diversidade, itinerância Campo Grande, o 2° Fest Cine Vídeo América do Sul, a 9ª Mostra Cinema e Direitos Humanos no Hemisfério Sul, e o FUÁ (Festival Universitário Audiovisual).

Também é formidável assistir ao grupo Imaginário Maracangalha "causando" em espaços públicos, com seus cortejos da arte popular. Foi animador chegar a 3ª edição da Bienal de Teatro, a mais uma Temporada do Chapéu. Foi de inspirar o carnaval lotado no Cordão Valu, assim como ver a cena eletrônica se reorganizar, o grafite conquistar respeito e muros na periferia, o skate movimentar as ruas, o hip hop voltar à praça, o festival de blues vingar em Bonito na base da colaboração, a rodô ganhar mais e mais resistência.

Agora é só torcer para que o ano que começa amanhã chegue com um banho de sal grosso poderoso, para afastar todas os descaminhos da Cultura em Campo Grande e fortalecer os que começam a acelerar os passos.

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