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Artes

Áudio-descrição leva cegos pela 1ª vez a espetáculo de dança contemporânea

Projeto causa reflexões que ressaltam a importância de tornar a acessibilidade mais presente no cotidiano

Thailla Torres | 25/08/2019 07:44
Para quem até pouco tempo enxergava os passos, a dança ganhou outro sentido. (Foto: Thailla Torres)
Para quem até pouco tempo enxergava os passos, a dança ganhou outro sentido. (Foto: Thailla Torres)

Depois de perder a visão, há quase dois anos, Marelija Zanforlin Magdalena, de 33 anos, foi pela 1ª vez “assistir” um espetáculo de dança com áudio-descrição, ferramenta que permite o deficiente visual acompanhar as coreografias através de uma narração. Para quem até pouco tempo enxergava os passos, a dança ganhou outro sentido, e o projeto ressaltou a importância de tornar a acessibilidade mais presente no cotidiano da cultura.

“Foi uma experiência impactante”, define Marelija, que é psicóloga e também já esteve envolvida com a dança. “Não vou negar que foi um pouco frustrante. A narração me levou a imaginar coisas de um jeito diferente. Em determinados momentos, fiquei na dúvida se era aquilo mesmo que estava acontecendo. Para quem enxergava há dois anos, trabalhar essa imaginação é um pouco difícil”, desabafa.

Cegos usaram áudio-descrição para "assistir" movimentos e coreografias da dança. (Foto: Thailla Torres)
Cegos usaram áudio-descrição para "assistir" movimentos e coreografias da dança. (Foto: Thailla Torres)
Depois de ficar cega, há 2 anos, Marelija foi pela 1ª vez a um espetáculo de dança.  (Foto: Thailla Torres)
Depois de ficar cega, há 2 anos, Marelija foi pela 1ª vez a um espetáculo de dança. (Foto: Thailla Torres)

O depoimento de Marelija emocionou dançarinos e colegas cegos, que tiveram percepções bem diferentes sobre o espetáculo. “Isso o que ela está nos dizendo é muito importante, pois cada um tem o seu tempo para ressignificar os movimentos. Depois que a gente perde a visão, a gente precisa se reconstruir, e ter acessibilidade para isso é fundamental”, explica a pedagoga Leia Ferreira Rodrigues, de 30 anos.

Para ela a áudio-descrição é uma liberdade que não pode ficar restrita em poucos projetos. “Estamos lutando e caminhando para um futuro acessível, em que isso (áudio-descrição) esteja presente em todos os espetáculos e que haja recursos para todos”.

Ana Lucia Correa, de 49 anos, baixa visão desde o nascimento, classificou a oportunidade como “surpreendente”, embora tenha tido muitas dúvidas sobre os movimentos. “Foi a minha primeira vez, achei uma pouco estranho, me confundi algumas vezes, mas em outras me emocionei. Acho que isso tudo é muito significante”.

O recurso fez parte do espetáculo “Poracê – O Outro de Nós”, do projeto Circula Dançurbana que leva espetáculos e oficinas para alunos de escolas municipais, e também contemplou deficientes visuais pela segunda vez.

Ana Lucia também ficou surpresa com o espetáculo.  (Foto: Thailla Torres)
Ana Lucia também ficou surpresa com o espetáculo. (Foto: Thailla Torres)

O diretor Marcos Mattos, destaca que é necessário redobrar a atenção para que todas as pessoas possam participar e usufruir as atividades culturais. “Promover a inclusão é uma das missões da companhia. E com pequenas iniciativas, a proposta é aumentar o olhar para essa necessidade, fazendo com que isso esteja presente em tudo”, explica.

A áudio-descritora Cândida Albes aposta que, com projetos como esse, no futuro, todos os realizadores de espetáculos estarão atentos à oferta de sessões acessíveis. “É uma atitude de se colocar no lugar do outro. E assim formaremos uma grande rede”.

Poracê – O Outro de Nós - Do Nheengatu, a palavra ´Poracê´, significa dança indígena de celebração ou baile, arrasta-pé. ´Poracê – O outro de nós´ é um espetáculo sobre a força do conjunto, uma celebração de estar em comunidade e dos laços com o território. Em cena, experimentando corpos e sons imaginados, os intérpretes propõem formas diversas de ser e estar no mundo.

Provocados por três coreógrafos com experiências distintas, os intérpretes-criadores Adailson Dagher, Ariane Nogueira, Livia Lopes, Maura Menezes, Rose Mendonça e Thiago Mendes, também diferentes entre si, investigam suas identidades, nomes, origens e relações com o lugar onde vivemos: Mato Grosso do Sul. O trabalho reflete questões de diversidade, do pertencimento ao lugar, do encontro de fronteiras, da pluralidade de culturas e linguagens que nos atravessam.

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