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Artes

Carpinteiro constrói bares de dia para tocar blues à noite em Campo Grande

Lucas Arruda | 16/09/2015 08:16
Atualmente João está tocando na banda Big Mama Blues. (Foto: Fernando Antunes)
Atualmente João está tocando na banda Big Mama Blues. (Foto: Fernando Antunes)

Quem vê os trabalhadores de uma construção sabe que, normalmente, a música que vai estar rolando ali será o sertanejo. Pelo menos é assim que a maioria das pessoas pensa.

Quebrando este estereótipo, João Carlos faz bicos em obras desde cedo, profissão que herdou do pai, mas só há nove anos trabalha firme com carpintaria. Na rotina de trabalho, ele não comenta sobre o estilo de música que curte e que toca na noite, mas sempre aparece alguém que o conhece e é revelado o baixista de blues. “Sempre que descobrem viro motivo de chacota”, afirma.

Os colegas, segundo João, ouvem na maior parte das vezes funk, sertanejo e música gospel. “Cada um leva sua caixinha de som e põe sua música, uma mais alta que a outra. Já aconteceu de eu trabalhar com protetores de ouvidos só para não ouvir as músicas”, recorda.

João tocando com o Renato Fernandes, Fábio Brum e Bosco (Foto: Arquivo Pessoal)
João tocando com o Renato Fernandes, Fábio Brum e Bosco (Foto: Arquivo Pessoal)
João tocando com o Whisky de Segunda, onde permaneceu por oito anos
João tocando com o Whisky de Segunda, onde permaneceu por oito anos

Quando ficam sabendo que ele é do blues, a primeira pergunta que sai é “como que você consegue escutar algo que não dá para entender nada o que estão dizendo?”. A reposta é simples, João não gosta de inflamar as discussões. “Respondo que não é preciso entender o que está sendo dito, é só sentir a música, ela toca você. Mas nunca me entendem”, diz.

A paixão pelo blues surgiu na adolescência, depois de começar com o rock. Ele ouvia muitas bandas do rock brasileiro dos anos 80, como Titãs, Engenheiros do Hawaii e Legião Urbana. Raul Seixas também fazia parte do gosto musical, até que um dia João percebeu que a maneira que os guitarristas do cantor tocava era diferente do resto que ouvia.

“Perguntei para um amigo o porque era diferente e ele me disse que era por causa da influência do blues que eles tinham”, lembra. A partir daí ele passou a escutar Jimi Hendrix, Eric Clapton e foi indo de vez para o blues de B. B. King, Muddy Waters e John Lee Hooker.

João conta que é motivo de piada quando os colegas de obra descobrem que ele toca blues
João conta que é motivo de piada quando os colegas de obra descobrem que ele toca blues

Nesta época também, no início dos anos 90, fez amizade com os integrantes da maior banda de blues do Estado, o Bêbados Habilidosos. Até tocar com o ex-vocalista da banda, Renato Fernandes, que morreu em fevereiro deste ano, ele tocou. “Tocávamos eu, ele, o Fábio Brum e o Bosco sempre que o Fábio, que mora em São Paulo, vinha pra cá. Era sempre muito bom tocar com o Renato”, frisa João. Ele também fez parte do Whisky de Segunda por oito anos.

Ele nunca pensou em ficar só com uma das profissões. A música está no coração, mas o receio de não conseguir se virar só com ela esteve presente por um tempo. Mas hoje em dia ele reconhece que ama as duas profissões e consegue conciliar ambas. “Quando um lado não dá muita grana o outro supre e acho que não poderia largar, tenho um grande carinho pela carpintaria e pela música”, ressalta.

Até ajudar a construir bares de rock e blues ele ajudou. A fachada do Bar Fly e parte da estrutura do teto do Jack Music Pub foi ele quem fez. “Eu ajudo a dar uns toques, porque sei do que o público gosta e do que os músicos gostam também, então acho que tenho um diferencial para ajudar na obra de bares”, argumenta. Agora João faz parte da banda Big Mama Blues, que surgiu em junho na Capital.

Fachada do Bar Fly que João ajudou a construir
Fachada do Bar Fly que João ajudou a construir
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