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Artes

Com textos sinceros e nem um pouco heroicos, Jairo desmistifica a deficiência

Naiane Mesquita | 02/07/2016 07:25
Jairo Marques, com a filha Elis, na sua casa em São Paulo (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress)
Jairo Marques, com a filha Elis, na sua casa em São Paulo (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress)

Os textos de Jairo Marques, 41 anos, mostram o quanto a sociedade ainda não aprendeu a ser inclusiva de uma forma natural. Jornalista da Folha de São Paulo desde 1999, o sul-mato-grossense descobriu por meio das palavras e de uma abordagem sincera como expor as situações banais e complexas que um deficiente vive em sua rotina. O resultado deste caminho virou livro, o “Malacabado”, lançado pela editora Três Estrelas.

“A ideia não é contar minha história, apesar de tudo levar a crer que é isso. São relatos, recortes da minha vida, tanto os desafios envolvidos em ser um deficiente até como o desafio que é lidar com o outro, na escola, no trabalho, no namoro, no dia a dia”, afirma Jairo.

O livro intitulado “Malacabado” provoca de certa forma as nomenclaturas cuidadosas usadas ao se chamar um deficiente, mas que não combinam com o cenário hostil encontrado no cotidiano. Jairo conhece bem esse caminho. Foi diagnosticado com poliomielite com menos de um ano de idade, dado como “perdido” para a família e que se recuperou o suficiente para sair de Três Lagoas, se aventurar em uma universidade e por fim integrar a equipe de um dos maiores jornais do País.

Para ele, longe de ser vangloriar como herói, o caminho foi mais difícil devido as condições nas quais os deficientes são tratados. “Sempre quis despertar no leitor uma reação, que ele pensasse, como eu enfrentaria essa situação? Como espectador, protagonista. Eu escrevi relatando a minha experiência analisando quem estava ao meu entorno, ao meu redor, como o meu amigo ou namorada. Não sou heroi e nem tenho prentensão de ser”, ressalta.

As reflexões são simples. Como um dos últimos textos publicados no blog do jornalista, sobre como a nova moda do momento, o food truck, não pensa em inclusão. Moderno, despretensioso e ícone da cidade, os carrinhos são altos, não tem atendimento de qualidade para quem tem alguma deficiência.

“Tem a cara do século 21, mas os caras continuam com a mentalidade do século passado, na coisa do atendimento, mal vê o cliente, acha que somos andarilhos, demora para se tocar que eu sou um cliente como outro qualquer. Não tem nem o básico, como um cardápio em braile ou o cuidado com a janela, em ter um espaço rebaixado ou que saia para atender o cara. O que mostra que a nossa luta ainda é muito grande na mudança da mentalidade”, acredita.

Longe de exigir leis para os food trucks, Jairo deseja apenas o que todo deficiente quer, que a inclusão seja pensada de forma natural pela sociedade. “Não levo as discussões para enfim algo rococó, com argumentos científicos e bla bla bla. Quero que isso seja mais próximo das pessoas, questionar sempre, acho que isso é o grande molho do sucesso. O blog e o livro são colaborativos”, ressalta.

Essa forma de abordar o assunto trouxe fãs cativos para os textos de Jairo. “O lançamento do livro foi uma coisa de outro planeta, as pessoas se sentiram representadas, se achavam parte da minha história. As pessoas começaram a entender essa proximidade, não tem mais medo de que nós modermos, lambemos. O leitor entende os perrengues, começa a agir naturalmente e o deficiente se sente mais empoderado, só queremos o que é por lei, direito, por aí vai”, reforça.

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