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Artes

Como anda o artista dos bois, 40 anos após a bovinocultura

Elverson Cardozo | 06/12/2012 09:25
Humberto Espíndola é premiado em mais de 40 salões nacionais de arte. (Foto: Luciano Muta)
Humberto Espíndola é premiado em mais de 40 salões nacionais de arte. (Foto: Luciano Muta)

Ele tem obras em acervos de vários museus brasileiros, em coleções particulares e em outros países. Coleciona prêmios dos principais salões de artes e continua a receber elogios da crítica especializada. Nascido em Campo Grande, Humberto Espíndola, é hoje um dos principais nomes das artes plásticas no Brasil, responsável por lançar Mato Grosso do Sul no cenário mundial explorando a principal característica do Estado: a bovinocultura.

Desde que apresentou o tema na IV Salão de Arte do Distrito Federal, onde se destacou como represente da arte contemporânea na região Centro-Oeste, ele não parou de criar.

A cultura bovina tornou-se a principal fonte de inspiração do artista que, com o passar dos anos, ficou conhecido como “o pintor dos bois”. Nos trabalhos que realiza, das telas às pinturas externas, a paixão é escancarada.

Há 45 anos Humberto conquista o reconhecimento, como um ícone da cultura Sul-Mato-Grossense. À época em que despontou, o Estado já tinha um papel importante no agronegócio brasileiro.

O rebanho bovino representava a riqueza da região, status do poder que se concentrava nas mãos de poucos. Falar sobre isso em forma de arte foi um desafio, a começar pela época, marcada na história como um dos períodos mais conturbados do país.

“Eu comecei a minha pintura fazendo uma relação não só do problema da riqueza do Estado. Ela coincidiu com o período da ditadura. O boi eu associe às mitologias do poder – o pecus-pecunia, o boi e o dinheiro. O dinheiro é o poder do poder econômico que acaba construindo o poder político”, explicou.

As coisas mudaram, afirmou, ao mencionar a polêmica que conseguiu levantar na época. “Quarenta anos se passaram e eu tive 40 anos de evolução nos pincéis”, avaliou.

Humberto se considera um “pintor muito pintor”, porque ainda se preocupa com a técnica e com a beleza plástica das cores. “Essa é minha visão. Por acaso, ainda não tive vontade de sair do boi”, disse.

Obra do artista é inspirada na cultura bovina. (Foto: Luciano Muta)
Obra do artista é inspirada na cultura bovina. (Foto: Luciano Muta)

Crítica e historiadora de arte, Aline Figueiredo afirma que o artista mostra em seus trabalhos o ambiente e o mundo em que vive. Para isso, utiliza os mais variados materiais para apresentar sua pesquisa, em um verdadeiro “culto diário ao boi”.

“Passou do óleo sobre tela à tela de arame, e desta ao arame farpado, ao ferro, à faca e à marca. Da paisagem ao curral, ao chifre, ao couro, à moeda. Da roseta à rosa. Do quadro de parede ao objeto ambiental”, escreveu.

Humberto é pioneiro na criação de novos suportes, de novas instalações e objetos e continua inovando. Em Campo Grande, um dos marcos deixados por ele foi a “Cabeça de Boi”, monumento em ferro e aço, com 8 metros de altura, que fica na Praça Cuiabá, na rua Dom Aquino com a Duque de Caxias.

Exposição - Na tarde desta terça-feira (5), o espaço cultural do TJ-MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) recebeu mais uma exposição de Humberto Espíndola.

Intitulada “pinturas recentes”, a mostra reúne 13 obras do artista, que considera este trabalho um “caleidoscópio do próprio repertório iconográfico”.

Espaço estará aberto à visitação até o dia 19 de dezembro. (Foto: Luciano Muta)
Espaço estará aberto à visitação até o dia 19 de dezembro. (Foto: Luciano Muta)

“Estou trazendo umas pinturas recentes, mas elas são uma mistura do meu baú, onde eu pesco aqueles temas que eu venho desenvolvendo há mais de 45 anos”, destacou.

Entre as séries apresentadas, uma das mais conhecidas é “Rosa Boi”, que ele considera a mais popular e que interage com “Kadiwéu”. É o carro-chefe da exposição.

Em uma das telas - no tamanho 115 cm x 150 cm - um boi parece sair de dentro de uma rosa. A explicação mostra que Humberto continua irreverente, procurando fugir do convencional:

“Todos os pintores que pintaram boi pintaram o carro de boi. E eu inventei o meu rosa boi que é meu tema principal. É um tema que eu fiz pela primeira vez dentro da história da arte mundial. Misturei o boi com a rosa e fiz essa mistura do rosa boi”.

O boi, há 30 anos, não tinha a importância que tem hoje, mencionou. Ninguém queria ter um em casa, “pendurado” na parede.

“No tempo que eu comecei todo mundo achava o boi feio e falava: ‘Porque você não pinta cavalo? Cavalo que é um bicho bonito, digno de ficar em uma sala. Eu tinha aquela coisa de recuperar a imagem da beleza do boi. Inventei o rosa boi. Misturei e as pessoas passaram a consumir, colocaram na casa e abriram espaço para a beleza dele que hoje é mais do que consagrado”, finalizou.

Obras da série Rosa Boi. (Foto: Luciano Muta)
Obras da série Rosa Boi. (Foto: Luciano Muta)

Mas o carro “Carro de Boi” não foi deixado de lado. Também está presente. Reaparece com elementos da cultura indígena. As séries “Abstrações rurais” e a dos “Cupins” – que ainda vem sendo desenvolvidas – também estão representadas na mostra.

As obras, inéditas, permanecem expostas até o dia 19 de dezembro.

Humberto Espíndola começou a pintar aos 21 anos. (Foto: Luciano Muta)
Humberto Espíndola começou a pintar aos 21 anos. (Foto: Luciano Muta)

Perfil – Bacharel em jornalismo pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Católica do Paraná, Humberto Espíndola começou a pintar aos 21 anos.

Após a consagração nacional com o tema bovinocultura, o artista foi selecionado para representar o Brasil em diversas exposições internacionais, entre elas as Bienais do Equador, Cuba, México, Itália e Colômbia, fora as nacionais.

Humberto é premiado em mais de 40 salões nacionais de arte e tem seu trabalho registrado em bibliografias de referência e livros de arte contemporânea.

O artista já recebeu homenagem especial pela contribuição à cultura brasileira, prêmio de melhor do ano em pintura e o título de cidadão benemérito de Campo Grande.

Na semana passada, recebeu a “medalha de honra ao mérito cultural Lenine Póvoas pela AL (Assembléia Legislativa) de Mato Grosso.

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