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Artes

Homossexualidade, traição e liberdade são overdose de polêmica em peça

Adriano Fernandes | 28/01/2016 06:12
O grupo de Brasília "Sutil Ato" dividiu em dois atos, cinco das mais emblemáticas histórias de Plínio Marcos. (Foto: Layza Vasconcelos)
O grupo de Brasília "Sutil Ato" dividiu em dois atos, cinco das mais emblemáticas histórias de Plínio Marcos. (Foto: Layza Vasconcelos)

No teatro, retratar um romance de Plínio Marcos é sinônimo de intensidade, visceralidade e choque. Neste fim de semana, o público de Campo Grande vai poder conferir um compacto com cinco das mais emblemáticas obras do escritor, que ficou conhecido por retratar como ninguém as minorias diariamente marginalizadas na sociedade.

Em “Autópsia”, sete atores se revezam em mais de duas horas do espetáculo, que revive as histórias dos personagens das peças “Navalha na Carne”, “Querô: Uma Reportagem Maldita”, “Dois Perdidos numa Noite Suja”, “Abajur Lilás” e “Quando as Máquinas Páram”.

Homossexualidade, traição, violência, prostituição e liberdade, são alguns dos temas interligados na peça e que foram eternizados nas obras do “autor maldito”, como Plínio Marcos ficou conhecido devido ao tom polêmico de seus textos. Em cena, os atores do Grupo Sutil Ato, de Brasília, propõem uma espécie de jogo entre os personagens e a plateia.

“O palco serve de tablado para que esses atores promovam uma espécie de rinha, como um jogo em que cada história é interligada à outra” explica o diretor, Jonathan Andrade. Trabalho delicado tanto em termos de adaptação quanto atuação, para abordar os elementos clássicos dos romances do autor.

“É um espetáculo que choca, as pessoas se emocionam, choram, mas elas também se divertem. Há uma ironia, piadas, banalidade, mas há também despretensão no Autópsia. Retrata a violência, mas também existe poesia, o lirismo, o humor além de ser uma peça muito paradoxal, muito diversa como matéria”, explica o diretor.

"Navalha na Carne" foi censurado pela ditadura e só pode ser encenado 13 anos depois de ser escrito. (Foto: Layza Vasconcelos)
"Navalha na Carne" foi censurado pela ditadura e só pode ser encenado 13 anos depois de ser escrito. (Foto: Layza Vasconcelos)
O romance "Perdidos Numa Noite Suja" é uma das peças que serão apresentadas. (Foto: Layza Vasconcelos)
O romance "Perdidos Numa Noite Suja" é uma das peças que serão apresentadas. (Foto: Layza Vasconcelos)

O espetáculo é divido em dois atos. O primeiro tem duração de 1h40 e mescla o trágico drama de um menor nas ruas do Brasil de “Querô: Uma Reportagem Maldita”; a tensão nos diálogos de uma prostituta, um gigolô e um homossexual do polêmico “Navalha na Carne” e a realidade dura de um casal e seus vizinhos, contada em “Quando as Máquinas Páram”.

Já o segundo ato dura 1h10, tempo em que o público pode conferir a relação conflituosa entre dois amigos no enredo de “Dois Perdidos de Uma Noite Suja” e a ira do cafetão homossexual que explora três prostitutas no pardieiro de “O Abajur Lilás”. Histórias que retratam por meio da violência, a opressão, os desejos e excessos o ser humano no limite da marginalidade.

O espetáculo põe em cena alguns elementos destas histórias que são retratadas por meio de quadros. A dramaturgia é a mesmas das tramas originais, mas com elementos que são originais do grupo como a quebra da quarta parede, depoimentos dos personagens e interação com o público.

“As histórias estão conectadas a partir de quadros e compactadas, mas ele conserva toda a estrutura dramática do texto de Plínio Marcos. Este é o elemento mais provocativo em relação à dramaturgia original do autor que, quando foram lançadas, não comportavam esses elementos mais contemporâneos. Os conflitos são os mesmos, só que mais acirrados”, defende.

O espetáculo surgiu em 2011 na Faculdade de Artes Dulcina de Morais, como projeto de conclusão de curso de Artes Cênicas, coordenado por Jonathan. Parte do elenco concluiu o curso com o projeto que hoje integra as peças Grupo Sutil Ato de teatro.

“É um espetáculo muito dinâmico, provocativo de uma temporalidade que as pessoas embarcam muito facilmente, mesmo sendo um material muito denso. Mas acima de tudo fala sobre afeto, sobre humanidade. Sobre o quanto nós somos muito parecidos na nossa solidão”, conta.

“Autópsia” chega por aqui depois de passar por quatro cidades do Distrito Federal e Goiânia. Em seguida irá para Belo Horizonte. A peça foi eleita o melhor espetáculo brasiliense do Festival Cena Contemporânea de 2014 pelo público e pelo crítico Diego Ponce de Leon em enquete realizada pelo jornal Correio Braziliense.

Em Campo Grande o espetáculo será apresentado no Teatro do Prosa, no Sesc Horto nos dias 29, 30 e 31, que fica na Rua Anhanduí, n° 200.

O primeiro ato as 19h e o segundo ato as 21h. A entrada é gratuita e a classificação indicativa é para maiores de 18 anos.

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"O espetáculo fala sobre afeto, sobre humanidade. Sobre o quanto nós somos muito parecidos na nossa solidão". (Foto: Layza Vasconcelos)
"O espetáculo fala sobre afeto, sobre humanidade. Sobre o quanto nós somos muito parecidos na nossa solidão". (Foto: Layza Vasconcelos)
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