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Artes

Inspirado em menina de 3 anos, lambe-lambe é poesia nas ruas de Campo Grande

Naiane Mesquita | 27/08/2016 08:27
Lambe-lambe de San na antiga Estação Ferroviária (Foto: Fernando Antunes)
Lambe-lambe de San na antiga Estação Ferroviária (Foto: Fernando Antunes)

“O amor é o exemplo do eu faço para o mundo. Eu me amo?”. A pergunta vem de um rosto em preto e branco, um lambe-lambe colado no muro de uma das casas antigas da Estação Ferroviária de Campo Grande. Ali onde a poesia está em todos os locais preservados pela história, o grafiteiro e artista San, de 23 anos, deixa seu questionamento para a cidade.

San em frente a painel em quadra esportiva 2 ou 10 no Lar do Trabalhador (Foto: Naiane Mesquita)
San em frente a painel em quadra esportiva 2 ou 10 no Lar do Trabalhador (Foto: Naiane Mesquita)

Quando começou a pixar pela cidade, San ainda era adolescente, no auge dos seus 16 anos. Descobriu nas letras que colocava pela cidade uma voz que nunca antes tinha tido. “Foi pixando mesmo, foi o jeito de fazer minha arte na rua, até hoje eu pixo, mas bem pouco, canalizei minha loucura. Não é mais que nem antes, agora é pensado para o lado da arte”, explica.

O protesto é a sua bandeira. Nas linhas, apenas o que for causar reflexão, de dor ao amor. “Minha felicidade fala quando ajudo meu semelhante. Você ajudou alguém hoje?. “Me inspirei muito em quem já estava na rua, foi essa a linha de raciocínio que eu segui. O grafite tem que questionar. Eu me inspirei muito no trabalho do Verme, que tem grafites conhecidos aqui, como o menino na esquina da rua Antônio Maria Coelho com a José Antônio”, comenta.

Mais um cartaz, dessa vez na avenida Ceará (Foto: Fernando Antunes)
Mais um cartaz, dessa vez na avenida Ceará (Foto: Fernando Antunes)

Durante esse processo de criação, San viu no lambe-lambe uma forma de aumentar a dimensão da sua arte. Ao todo, fez mais de 50 cartazes com frases sobre igualdade de gênero, liberdade de pensamento e amor. Na inspiração o rosto da filha, Elisa, de apenas três anos. “Ela é bem revolucionária, toda criança é anarquista. Tudo que você falar que não pode fazer, ela vai fazer”, acredita.

Apesar dos cartazes serem positivos muitas vezes, San é resignado ao aceitar que a maioria tem vida útil curta. “Tem muita gente que arranca. Porque o negócio que eu escrevo incomoda mesmo. Ainda mais que eu desenho um tridente, o povo acha que é coisa do mal. Também coloco o símbolo da anarquia, que muita gente vê como desordem. Anarquia pelo que eu entendi é de revolução, de revolucionar a cidade, uma arte de libertação. Não adianta fazer uma arte que só eu vou rir e as outras pessoas não”, diz.

San que mora na Vila Nhá Nhá em Campo Grande, usa o grafite para abrir a mente da garotada. “Ali é um lugar cabuloso, tem muito tráfico e eu acredito que o grafite muda o mundo na real. Eu faço paineis de grafite, quero começar uma oficina aqui na quadra que estou pintando, para os alunos da escola. Nós fazemos eventos e recolhemos para ajudar a comunidade. Tentamos fazer algo melhor”, frisa.

Para o artista, a recompensa está no ensinamento repassado e em ver sua arte preservada pelas ruas da cidade. “Se a arte não fizer a pessoa pensar, não vai fluir. Tenho mais lambe-lambe para colar. E quero despertar esse senso crítico até entre os artistas daqui, que fazem tela sobre a natureza. Uma natureza que estamos destruindo com a poluição, com o crescimento da cidade”, acredita.

Quem quiser conhecer o trabalho de San e de outros artistas, hoje tem exposição no Sarobá, às 15 horas, na Euler de Azevedo, no bairro São Francisco.

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