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Artes

Na barulheira da rua, Ricardo surpreende quem passa com o som do violoncelo

O músico também toca o violino e chama atenção das pessoas que tentam tirar fotos e ouvir mesmo de dentro dos carros

Eduardo Fregatto | 14/07/2017 07:17
Ricardo é uma "respiro" na trilha sonora caótica da cidade grande, também com o violino. (Fotos: André Bittar)
Ricardo é uma "respiro" na trilha sonora caótica da cidade grande, também com o violino. (Fotos: André Bittar)

Quem passa apressado pela praça Ary Coelho, debaixo do sol no emaranhado de pedestres, se surpreende com a música suave e diferente que vem das cordas do violino ou do violoncelo de um músico solitário, de pé no meio da calçada. Há quem vire o pescoço para olhar, mas ignora a presença e siga andando. E tem aqueles que contribuem com dinheiro, param pra apreciar ou até tentam tirar fotos mesmo de dentro dos carros que passam no trânsito.

As reações funcionam como estímulo para Ricardo Vasconcelos de Andrade, de 27 anos, que toca nas ruas desde 2013. Entre se apresentar num teatro fechado, com uma orquestra, ou pelas vias da cidade, ele não tem dúvidas: prefere estar no meio do povão.

Ele também toca o enorme violoncelo, que chama mais atenção, mas também dá mais trabalho de transportar. (Foto: Acervo Pessoal)
Ele também toca o enorme violoncelo, que chama mais atenção, mas também dá mais trabalho de transportar. (Foto: Acervo Pessoal)
O pequeno Gustavo pediu para a mãe, Jussara, dar algum dinheiro. "Mãe, que lindo", ele disse.
O pequeno Gustavo pediu para a mãe, Jussara, dar algum dinheiro. "Mãe, que lindo", ele disse.

"É outra energia, a interação das pessoas, pra mim é melhor", define. Ele veio de Santos (SP) e conta que lá as pessoas reagiam menos à sua presença. "Aqui é mais raro ver alguém tocando instrumentos desse tipo, em lugar público", aponta, explicando porque o campo-grandense lhe dá mais atenção.

"Eu dei dinheiro porque meu filho falou 'mãe, que lindo'", conta Jussara Arantes, 40 anos, que passava com o filho pequeno, Gustavo, de 7. "Ele gosta muito de música", diz a mãe, orgulhosa. Outro pedestre, Alexandre Duarte, 28, ficou feliz de ver música clássica tocada ao vivo, de tão perto. "Eu toco pagode. Vou sempre ajudar outros músicos que vejo. As pessoas não fazem ideia do custo de um instrumento, não dão valor", defende.

Ricardo conta que seu único trabalho é se apresentar nas ruas e faz cerca de R$ 50 em um dia comum. Começou se apresentando em frente ao Shopping Campo Grande e desde então percorre alguns pontos movimentados da cidade.

Alcione Castro, 47, diz que aprecia música clássica. "Foi a primeira vez que o vi tocando, tive que contribuir".
Alcione Castro, 47, diz que aprecia música clássica. "Foi a primeira vez que o vi tocando, tive que contribuir".

Aprendeu a tocar violoncelo quando adolescente, num projeto social de Santos. "Tinha uns 17 anos. A música é o que sempre tive maior aptidão, e sempre gostei de fazer essas intervenções em público", destaca.

Desde que chegou na Capital, todos os dias, saía da sua casa no São Francisco e ia andando com o violoncelo, instrumento grande e pesado, nas mãos. Por isso, anda preferindo tocar o violino, que é pequeno e leve. "Aprendi a tocar violino há uns 6 meses, sozinho. Acabou sendo bem mais prático pra mim", confessa.

No repertório, tem desde clássicos como Primavera, de Vivaldi, e O Trenzinho do Caipira, de Villa Lobos, até músicas pop, como a trilha de abertura da série Game of Thrones, e canções do Nirvana e dos Beatles.

O música relata que entre os comentários e elogios, muita gente revela sentir vontade de aprender a tocar algum instrumento. "Eu sempre apoio. O violino, por exemplo, não tem um custo tão alto. Todo mundo pode aprender", enfatiza.

Agora, já conhecido por quem passa todo ali na região da Avenida Afonso Pena, Ricardo não se arrepende de ter trocado Santos por Campo Grande. "O pessoal de SP é mais estressado. Não sei se o contato com a natureza, mas aqui são mais tranquilos, prestam mais atenção", finaliza.

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Ricardo está todos os dias, às vezes até domingo, ali na região da Ary Coelho.
Ricardo está todos os dias, às vezes até domingo, ali na região da Ary Coelho.
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