ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
MARÇO, QUINTA  28    CAMPO GRANDE 26º

Artes

No bairro Pioneiros, oficina é referência no Brasil para quem toca sanfona

Anny Malagolini | 17/10/2013 07:10
Milton e o acervo de acordeons que tem em casa (Foto: João Garrigó)
Milton e o acervo de acordeons que tem em casa (Foto: João Garrigó)

Na rua Deolinda Pereira de Souza, no bairro Pioneiros, uma casa é referência para sanfoneiros de todo o Brasil. Há 39 anos, funciona ali o ateliê de Milton Barros. Aos 77 anos de idade, ele tem nas mãos a solução para defeitos de todo tipo e também cria os acordeons.

Entre os clientes famosos, o maior até agora é o cantor Michel Teló, que por Milton é chamado de “cria de casa”. Ele conta que a primeira sanfona foi feita para Michel quando ele ainda era criança.

O tempo passou, o hit “Ai se eu te pego” ganhou o mundo, mas ainda hoje o instrumento usado pelo cantor nos shows tem a assinatura de Milton, feito sob medida e com materiais importados. Mesmo sem querer detalhar muito, ele conta quando isso custou: “A sanfona saiu por R$12 mil”, lembra.

Outro músico que sempre recorre à casa do bairro Pioneiros é o gaúcho Renato Borghetti, um dos mais populares artistas brasileiros. De um estado onde a “gaita” é tradição, Borghettinho não se importa com a distância e confia o cuidado do instrumento à oficina de Campo Grande.

Sistemático, Milton atribui ao signo de touro a personalidade difícil e metódica, que é confirmada pela filha, Elizabeth Barros. “Tem que estar tudo perfeito, para não reclamar”. Para Milton, tanta dedicação é uma forma de preservar a tradição da família e não ter músico bravo na hora que o som sai. “É como uma Ferrari, dificilmente precisa de reparos”, assegura.

Michel Teló é cliente fiel desde a infância (Foto: João Garrigó)
Michel Teló é cliente fiel desde a infância (Foto: João Garrigó)

Como só o período de secagem da cobertura de uma sanfona demora até 60 dias, o que ele mais recomenda é a compra de um pronto, mas garante que na oficina tem só material de qualidade.

É quase uma vida inteira dedicada ao ofício, aprendido com avô, quando ainda morava na cidade de Martinópolis, no interior de São Paulo.

Desde que nasceu, os dias passaram com as notas da sanfona como trilha. A intimidade musical proporcionou a Milton facilidade em descobrir. “Na teimosia eu aprendi a tocar, sozinho”. Ele até gravou um CD com chorinhos clássicos, como “Brasileirinho”, tudo no acordeom.

Milton se mudou para Campo Grande em 1974, com vontade de ganhar dinheiro. Deixou de lado a música, e foi trabalhar com refrigeradores, na época, uma novidade na cidade.

Ele conta que um conhecido de São Paulo o descobriu aqui na cidade e logo surgiram músicos pedindo para ele consertar os instrumentos. “Não teve jeito, a música me persegue”.

A profissão foi passada de pai para filho, mas não deve durar mais uma geração. Nenhum dos 4 filhos se interessaram pela música. “Vai ficar tudo para vender”, brinca com o drama, na frente da filha, que é artesã.

Para quem ficou curioso, o telefone da oficina é 33871998.

Nos siga no Google Notícias