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Artes

Orfanato da década de 40 vira espaço cultural com aulas de dança, teatro e festa

Naiane Mesquita | 28/04/2016 08:05
Casarão Cultural foi construído na década de 40 (Foto: Fernando Antunes)
Casarão Cultural foi construído na década de 40 (Foto: Fernando Antunes)

À noite, sem ao certo saber o local exato, é difícil encontrar o Casarão Cultural. De longe se assemelha apenas a um estacionamento comum, utilizado todos os dias por frequentadores de uma academia local. Entre o fluxo intenso de carros e o barulho ofuscante de buzinas, um forró embala um casal solitário em plena terça-feira fria.

Mais novo reduto de Campo Grande, como o próprio nome diz, o Casarão Cultural se tornou um espaço tomado pelas artes, em uma área valorizada, bem na rua Joaquim Murtinho, 2204.

No subsolo, um estúdio de música sobrevive. Nas pequenas casas espalhadas pelo “quintal” de 3 mil metros quadrados, há uma escola de artes, a sede do Teatro Imaginário Maracangalha e outros serviços de saúde e bem-estar. Já no andar de cima, no salão principal, é o recanto da dança, com aulas todos os dias, de segunda à sexta, para casais solitários ou turmas lotadas.

No espaço acontece aulas de dança agora (Foto: Alcides Neto)
No espaço acontece aulas de dança agora (Foto: Alcides Neto)

O arco da entrada e as grandes portas de madeira pura dão pistas de que a construção é antiga. Longe de ser apenas um prédio comum, o espaço tem uma história muito além de suas paredes, que remonta a década de 40. Fundado pela educadora Oliva Enciso, primeira vereadora de Campo Grande e deputada federal de Mato Grosso, o espaço nasceu como Sociedade Miguel Couto dos Amigos do Estudante. Era uma escola e também orfanato.

“Não era apenas um orfanato, as crianças que tinham dificuldades financeiras, mas não eram órfãs, elas podiam dormir e realizar todas as refeições aqui. Também havia ajuda de outras formas, como em distribuição de cestas básicas”, explica José Renato Lima Fontoura de Freitas, 27 anos, neto de outro fundador, Newton Enciso de Freitas, irmão de Oliva.

José Renato é músico, produtor cultural e foi o primeiro a se firmar no Casarão. Ali montou um estúdio, o Degrau, e desde então atua ao lado de bandas e profissionais da área em Campo Grande. Admirador do trabalho da família, ele é um dos mais empolgados em transformar o espaço em reduto da arte.

José Renato é neto dos fundadores do prédio, antiga escola e orfanato da cidade (Foto: Alcides Neto)
José Renato é neto dos fundadores do prédio, antiga escola e orfanato da cidade (Foto: Alcides Neto)

“Tenho a ideia de fazer um sarau, em que cada grupo possa contribuir com algo, o Maracangalha faz uma performance, Eli uma apresentação de dança, uma banda faz um ensaio aberto. Tenho planejado essas ações”, promete.

Nos planos, talvez o mais nobre e complexo, é o de revitalizar um trecho do prédio e transformá-lo em um memorial em homenagem a Oliva Enciso. “Temos muita coisa relacionado a história da Sociedade e da Oliva. Estamos catalogando o material. Queremos que o Casarão seja ocupado, se alguma escola quiser usar o espaço para apresentação, por exemplo, será bem vindo”, indica.

Piso, portas e janelas foram preservados ao longo do tempo (Foto: Alcides Neto)
Piso, portas e janelas foram preservados ao longo do tempo (Foto: Alcides Neto)

Depois de Zé Renato, quem se aconchegou no Casarão foi a professora de dança Eliana Fernandes, 36 anos. Desde 2015, ela realiza aulas de dança de salão no maior espaço da casa. “Os ritmos mais queridos são o chamamé e a vaneira. A primeira festa que eu fiz aqui foi a aula inaugural, em agosto do ano passado e foi com a temática do sertanejo de Mato Grosso do Sul. Fiz um carreteiro e a aula foi um sucesso. Inesquecível. Até hoje me pergunto como fiz em tão pouco tempo”, brinca.

De Penápolis, interior de São Paulo, ela mora em Campo Grande há 19 anos. Já trabalhou em outra coisa, viveu só de dança e agora acredita estar na melhor fase da vida. “Esse espaço é incrível. Só de entrar aqui você sente uma energia diferente. Os alunos falam isso também. Eu sempre quis ensinar, levar a dança para quem não é profissional, quem tem medo ou receio de aprender. Hoje, estou realizando meu sonho”, acredita.

A professora Eli Fernandes movimenta a cena do Casarão com festas temáticas de dança (Foto: Alcides Neto)
A professora Eli Fernandes movimenta a cena do Casarão com festas temáticas de dança (Foto: Alcides Neto)
Aula inaugural de Eli, com festa sertaneja e menu típico de carreteiro (Foto: Arquivo pessoal)
Aula inaugural de Eli, com festa sertaneja e menu típico de carreteiro (Foto: Arquivo pessoal)

A próxima empreitada, que movimenta o calendário do Casarão é uma festa Nordestina, no dia 21 de maio, às 22 horas. Com tudo que tem direito, de forró a comidas típicas, o evento é organizado por Eliane e um grupo de realizadores. “A festa se chama Nordeste Day. Com esse friozinho, nada melhor que dançar coladinho”, brinca Eliana.

“Uma das organizadoras é a Kelly Tammy que já fez outras festas comigo e foi a responsável pelo Zouk na Orla, que hoje acontece na Praça do Peixe. Vamos ter show do Forró Zen, uma das bandas mais famosas de Campo Grande, além de comidas típicas e muita dança”, descreve.

O valor para entrar na festa é de R$ 20,00 e não inclui a alimentação. Mais informações no telefone (67) 8426-5450 ou (67)8137-4582.

Prédio ainda precisa de revitalização (Foto: Alcides Neto)
Prédio ainda precisa de revitalização (Foto: Alcides Neto)
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