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Artes

Saqueado e roubado, brasileiro é "homem caranguejo" de Colker, em Cão Sem Plumas

Espetáculo da mais premiada bailarina brasileira é apresentado em Campo Grande no fim de semana

Thaís Pimenta | 14/06/2018 08:07
No palco, bailarinos se cobrem com lama para representar o homem caranguejo de Deborah. (Foto: Divulgação)
No palco, bailarinos se cobrem com lama para representar o homem caranguejo de Deborah. (Foto: Divulgação)

Campo Grande tem o privilégio de receber neste fim de semana, nos dias 16 e 17 de junho, no Teatro Glauce Rocha, o espetáculo “Cão sem Plumas”, que rendeu a Débora Colker o prêmio internacional Benois de La Danse. Prestes a desembarcar por aqui, o Lado B conversou com a coreografa que desde 1994 constrói uma das carreiras mais brilhantes na dança brasileira.

LB - São 18 anos desde que você trouxe a Campo Grande o espetáculo "Casa" e, a trabalho, nunca mais pisou por aqui.

Débora - Pois é, faz tanto tempo que eu não vou a Mato Grosso do Sul. Nós estamos tendo o prazer de rodar o País patrocinados pela Petrobras. Viajamos pelo país que, se não me engano, é o quarto maior em extensão territorial do mundo, esse gigante Brasil e ainda tem muito chão por aí. Esta semana nos apresentaremos em Uberlândia pra só depois desembarcar em Campo Grande.

Mato Grosso do Sul é um Estado que eu já visitei por diversos motivos. Já estive em um rio chamado Formoso e visitei o paraíso que é Bonito, então já tive oportunidade de conhecer essa terra.

Ao mesmo tempo em que bailarinos reproduzem coreografia, um filme é exibido no telão e se torna cenário. (Foto: Divulgação)
Ao mesmo tempo em que bailarinos reproduzem coreografia, um filme é exibido no telão e se torna cenário. (Foto: Divulgação)

LB - E a sua relação com os rios, com o meio ambiente é algo que aparece com força em Cão Sem Plumas?

Débora - Cão Sem Plumas foi uma adaptação de um poema de João Cabral de Melo Neto, escrito em 1950, mas que poderia ter sido escrito hoje. O espetáculo aborda o descaso da natureza humana, geográfica, das nossas águas, das nossas terras e dos ribeirinhos. É um espetáculo de dança, cinema, poesia e música que através do corpo aborda esses assuntos que são tão fortes pra gente o tempo.

Ele fala sobre o rio Capibaribe, um rio que atravessa o estado de Pernambuco mas ele está falando também de todos os rios e águas do mundo. Nos alerta pra cuidar das nossas águas, dos nossos artigos, das nossas possibilidades naturais. E o Brasil é tão agraciado de recursos naturais, por aqui não deveríamos ter problema algum. Nossa água, nosso maior bem, água de beber, é motivo de atenção, então quando a gente toca nesse assunto estamos lembrando destes temas.

O Brasil é um país muito rico culturalmente, então é uma bela oportunidade sincera de falar dessa tragédia e dessa riqueza trazendo esses impulsos de movimentos artísticos.

Coreografia foi considerada a melhor de 2017 pelo prêmio Benois de La Danse. (Foto: Divulgação)
Coreografia foi considerada a melhor de 2017 pelo prêmio Benois de La Danse. (Foto: Divulgação)
A força e a fraqueza dos ribeirinhos são interpretadas por meio da dança. (foto: Divulgação)
A força e a fraqueza dos ribeirinhos são interpretadas por meio da dança. (foto: Divulgação)

LB - Como foi o processo de construção dessa trilha sonora que traz tantos ritmos do Nordeste, como o maracatu?

Débora - Essa trilha foi feita junto com o Verner, com o poeta Lirinha e com Jorge Dü Peixe, do Nação Zumbi, então foi concebida junto com pernambucanos. Essa trilha foi muito precisa no sentido de trazer a sonoridade de Pernambuco mas ao mesmo tempo de misturar essa sonoridade com o ritmo da água, da terra e poder encontrar uma sonoridade ora palavras cantadas, declamadas, ritmadas ou apenas o som dos instrumentos, do coco, do maracatu, do cavalo marinho.

Dançarinos interpretam um homem "saqueado e roubado, que que roubaram dele até o que não tinha. (Foto: Divulgação)
Dançarinos interpretam um homem "saqueado e roubado, que que roubaram dele até o que não tinha. (Foto: Divulgação)

LB - No espetáculo, além da música, o cinema aparece também, com um filme feito a partir de imagens captadas junto a Cláudio Assis. Como foi esse processo?

Débora - Foram 24 dias imersos em Pernambuco, um período em que a Companhia deu oficinas e filmamos todos os dias. E esse filme apresenta a história daquela região, do agreste nordestino. O espetáculo “Cão Sem Plumas” também é cinema, e a dança se passa neste cenário audiovisual. A coreografia, a dança, está no filme, no palco, na música, na poesia, no rio, na lama, nesse homem caranguejo representado no palco.

(Foto: Divulgação)
(Foto: Divulgação)

LB - E quem é esse homem caranguejo?

Débora - É um homem enganado, saqueado, roubado, que roubaram dele até o que ele não tinha. É o homem brasileiro, é nóis.

LB - O que o prêmio Benois de La Danse, recebido no Teatro Bolshoi, significa para a dança brasileira?

Débora - Então, ganhamos a melhor coreografia de 2017, 2018. A premiação foi agora em Moscou. Representa os três anos de pesquisa e elaboração desse espetáculo, o processo de descoberta de um vocabulário de movimentos que consegue traduzir toda essa poesia. Foi o primeiro gol do Brasil na Rússia!

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