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Artes

Violonista estreia obra sobre o Trem do Pantanal com orquestra em Campinas

Thaís Pimenta | 15/04/2018 07:50
Cyro é responsável pela obra "Alvorada Pantaneira", inspirada no Trem do Pantanal. (Foto: Raul Delvizio)
Cyro é responsável pela obra "Alvorada Pantaneira", inspirada no Trem do Pantanal. (Foto: Raul Delvizio)

O violonista erudito Cyro Delvizio estreou em grande estilo nesta semana a obra “Alvorada Pantaneira", inspirada no Trem do Pantanal, com composição da Orquestra Sinfônica da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e regência de Cinthia Alireti, pelo Projeto Performance 2018, no qual o músico foi selecionado para ter uma composição sua gravada e concertada.

Em áudios e vídeos é possível notar a sensiblidade. Mesmo que o velho trem não atravesse mais o Pantanal, o roteiro turístico ainda está presente nos corações dos sul-mato-grossenses e o violonista Cyro se inspirou em suas próprias memórias e sensações vividas nas inúmeras vezes em que viajou com o trem quando criança. A obra foi composta originalmente para violão, e ampliada em orquestra, com 8min40s de música.

A ideia parece complexa mas é simples. Um berrante anuncia o raiar do dia, e entre polcas e guarânias, os ritmos folclóricos paraguaios. O trem ressurge pelos fagotes dos músicos, sendo o tema central da composição. Os padrões rítmicos nascem da sobreposição dos compassos simples e composto – 3/4 e 6/8, por exemplo. Já o vocabulário harmônico é bastante limitado e por isso o compositor tenta expandi-lo. Uma segunda versão para orquestra de sopros também está disponível para "Alvorada Pantaneira".

Cyro está levando o MS para o Brasil. (Foto: Raul Delvizio)
Cyro está levando o MS para o Brasil. (Foto: Raul Delvizio)

Cyro explica que essa é sua obra orquestral mais antiga, composta em 2009 para a reinauguração do Trem do Pantanal. "Na época, por questões logísticas do evento, lamentavelmente não foi tocada. Com isso se passaram quase 10 anos até a estreia em Campinas, executada praticamente sem alterações. Então nesse tempo eu venho escrevendo outras obras e espero que minha escrita tenha evoluído!", diz.

Ele completa: "Mas a ideia do projeto da Unicamp é servir de laboratório para novos compositores. Laboratório, porque um compositor precisa ouvir sua obra sendo executada para atestar como ela 'funciona' no mundo real, para além da partitura ou softwares de simulação musical. Muitos dos grandes compositores do passado trabalhavam junto das orquestras e as regiam, tendo assim a oportunidade de 'testar' seus rascunhos até a versão final".

O músico segue levantando a bandeira de Mato Grosso do Sul em meio à gigante Campinas, com estreia agendada do "Requiem Guarani-Kaiová" (op. 33) para solistas, coro, coro infantil e orquestra sinfônica, outra obra grandiosa escrita por Cyro Delvizio. Com regência de Eder Paolozzi, a Orquestra da Cesgranrio, Coro da ACC-RJ e Coro infantil da UFRJ terão performance na Sala Cecília Meireles, casa de concertos bem conhecida na Cidade Maravilhosa, ao lado dos Arcos da Lapa. A data marcada é para o dia 7 de dezembro.

Réquiem é um formato tradicional de missa fúnebre da religião católica – uma seleção de trechos bíblicos em latim passou a ser musicada por vários grandes compositores (como Mozart, Berlioz, Verdi, Liszt, entre outros). O músico Cyro Delvizio juntamente ao letrista Gabriel Neves Camargo ousou ao inovar o gênero para a realidade Guarani-Kaiová. É um lamento deste e outros povos nativos brasileiros, que vêm sofrendo maus-tratos desde o descobrimento do Brasil.

Baseado no original bíblico, um novo texto em português foi concebido para retratar a musicalidade, crenças, ritos e divindades Guarani, além de rememorar o incidente da “carta-suicídio” e lamentar o alto índice de suicídios dessas comunidades – 12 vezes maior que a média nacional e que acomete principalmente crianças e jovens). Ainda, a letra atenta para a preservação do planeta terra, a Tekohá (terra sagrada) de toda a humanidade.

O resultado é uma espécie de catequese inversa, onde os indígenas finalmente teriam a chance de externar a sua refinada cultura ao homem branco, despertando-o da loucura que é se viver em desarmonia com a natureza. No aspecto musical, figuram influências indígenas regionais sul-mato-grossenses, como reminiscências da polca paraguaia em alguns momentos.

Os trechos alternam entre momentos de extrema delicadeza, tensão, comunhão com a natureza e jubilo pela existência terrena. No decorrer dos 14 movimentos, o coro se alterna com momentos puramente instrumentais, e com os quatro solistas – que cantam sozinhos, em duos e em quarteto. O coro infantil entra apenas no último movimento, com fim de simbolizar a chegada dos jovens curumins ao paraíso indígena.

Confira como foi a apresentação:

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