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Artes

Escola de balé para meninos precisa de padrinhos para profissionalizar a turma

Ângela Kempfer | 24/04/2012 11:51
Aula na escola do Nova Bahia. (Fotos: João Garrigó)
Aula na escola do Nova Bahia. (Fotos: João Garrigó)

Na periferia da cidade, em um imóvel no bairro Nova Bahia, um casal de bailarinos tenta criar uma companhia profissional com meninos que até pouco tempo nem imaginavam o que era a dança clássica.

A escola também ensina meninas, mas são os garotos o maior desafio de Sabrina Aguilella e André Souza. Projeto criado há quase 4 anos conseguiu formar uma turma masculina, com 30 alunos matriculados, todos bolsistas.

Tudo parece muito difícil ao ver os garotos aprendendo a técnica. Não só pelo esforço físico. A escola tem 80 alunos, entre meninos e meninas, mas só as garotas pagam a mensalidade de 60 reais. Os garotos aprendem de graça, o que significa que o caixa não é lá grandes coisas.

Em 2011, o Fundo Municipal de Investimento Cultural viabilizou um tempo de receita extra para o projeto, mas só por um ano.

A meia do caçulinha da turma já aparece no buraco aberto na ponta da sapatilha pra lá de gasta. Com 5 anos, João é um surpreendentemente disciplinado nas aulas da Zoe.

A cara é de sapeca, o corpo ainda “parrudinho”, mas sempre quando acaba a aula João confirma como foi o desempenho. “Sempre pergunta se fez tudo certo, se foi comportado”, conta André. Questiono se João gosta da “brincadeira” e o menino responde sério: “Não é brincadeira, é dança”.

A aula é conduzida por um ex-aluno. Márcio, de 18 anos, fazia capoeira quando conheceu André em uma das tantas palestras feitas pelo bailarino para convidar as pessoas a conhecerem o balé.

“Fiquei curioso, mas achava que era coisa de boiola. Comecei a fazer aulas, mas entrava e saia daqui escondido, para meus colegas não verem”, conta sorrindo.

Sabrina e André, os donos da idéia.
Sabrina e André, os donos da idéia.

O preconceito ainda complica bastante a rotina dos meninos corajosos que entraram para o balé clássico. “Cinco já saíram porque não aguentaram a pressão. Um deles até apanhou na escola. A gente teve de ir até lá, conversar com a diretora, mas não adiantou. O menino desistiu”.

Poucos minutos já servem para comprovar o envolvimento das crianças e dos adolescentes, no jeito de colocar a sapatilha, no corpo perfeito, na forma de conversar com os colegas e na postura ao fazer cada movimento.

O grupo já é grande para a realidade de Mato Grosso do Sul, mas os donos da ideia querem mais. “Nosso objetivo é oferecer 50 bolsas, mas para isso precisamos de ajuda”, diz André Souza, bailarino paulista que veio a Mato Grosso do Sul para projeto Moinho Cultural em Corumbá, conheceu Sabrina, se casou e hoje toca o “Homens no Balé” junto com a esposa.

André é um apaixonado pela dança clássica, apesar de ter começado com o Hip Hop. Sem preguiça na língua, ele parece não dar importância à política da boa vizinhança no meio cultural. Fala o que quer, do jeito que tem vontade, sempre direto. “Não temos ajuda de ninguém, nem da prefeitura, nem do governo. É a gente e só. Tem escolas por aí que falam em popularizar o balé, mas cobra mensalidade de 200 reais. Isso não é nada popular. A gente sim, populariza a dança”.”

Sabrina Aguilella é parecida na vontade de fazer sem esperar. “Antes, quando aparecíamos em algum festival, a gente era os primos pobres. Hoje não”. Ela e o marido conseguem viabilizar a escola com a mensalidade das meninas e alguns trabalhos fora. No ano passado, os dois assinaram a coreografia campeã da festa dos touros em Porto Murtinho e em agora serão responsáveis pela coreografia dos dois times: Bandido e Encantado.

Menina que desde os 3 anos vive dentro de uma escola de dança no interior de São Paulo, Sabrina se identifica com as crianças que atende hoje. “Minha mãe tinha de trabalhar e eu ficava na escola de dança de uma amiga dela, foi a minha primeira professora. Com 12 anos decidi que era isso que eu queria para sempre”, lembra.

A bailarina veio para Campo Grande, depois a mãe também se mudou para cá e agora a família vive em torno da “Zoe Escola de Dança”. A proposta de formar bailarinos ficou forte quando André chegou.

Márcio é um ex-aluno que virou professor.
Márcio é um ex-aluno que virou professor.

Com o tempo, o que mais gratifica são os avanços dos alunos, que não decepcionam. “Vem com gripe, febre”, diz Sabrina orgulhosa.

Pablo é uma das promessas. Magrinho, com duas covinhas nas bochechas e bastante sorridente, o garoto de pé bem alongado já atinge uma qualidade técnica exemplar.

Ele, o irmão de14 anos, a irmã de 12 e até a mãe fazem aulas na Zoe. Antes os meninos da família faziam judô, agora querem ser profissionais do balé. “No começo ficava muito distraído, mas mudei depois que me aplaudiram pela primeira vez”, comenta.

Na escola convenciona l, ele também diz ir bem melhor, pela disciplina que impõem o balé clássico, explica Sabrina.

“Nós nos intrometemos na vida deles para garantir que tudo vai bem e falamos muito de valores que muitas famílias já não dão importância. A disciplina também é fundamental, para que eles sejam bons no futuro em qualquer profissão que venham a escolher. A dança é só uma estratégia”.

A Zoe precisa de padrinhos que fiquem responsáveis pelos alunos. Ao mês, cada um custa aproximadamente 200 reais. As doações podem ser feitas em dinheiro, em forma de uniformes ou até de frutas para a alimentação especial dos alunos. A conta bancária da escola é do Banco do Brasil. Na agência 3381-2 e conta 23157-6. Outras informações pelo telefone 3355 7730.

As meninas também fazem aula, mas pagam mensalidade.
As meninas também fazem aula, mas pagam mensalidade.
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